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Itapira, 03 de Dezembro de 2024
Artigo
01/03/2012 | A volta dos expatriados brasileiros
Não são raras as histórias de brasileiros que foram tentar a vida no exterior. Profissionais, qualificados ou não, viajam em busca de melhores salário e qualidade de vida. De acordo com um levantamento do Ministério das Relações Exteriores, 3.030.993 brasileiros (1,57% da população) trabalham no exterior, principalmente em países desenvolvidos como Estados Unidos, Canadá, países europeus e Japão. Mas alguns estão começando a fazer o caminho de volta.
Em tempos de crise no Brasil, o contador Clóvis Akira Igarashi resolveu tentar a sorte no Japão. “Trabalhava em uma empresa que ficou com dificuldade na época do Plano Collor. Eu tinha parentes no Japão que me convidaram para ir trabalhar e eu fui”, conta. Acabou ficando por 13 anos. Nesse período, Igarashi voltou duas vezes ao Brasil, mas sem conseguir se recolocar no mercado de trabalho, decidiu voltar ao Japão, onde ficou até a crise chegar ao oriente.
“Voltei em 2008, no inicio da crise financeira mundial. Acredito que, se não fosse por esse fato, viveria lá por muito tempo”, afirma.
E não foi só ele. Com taxa recorde de desemprego, o Japão viu boa parte de seu contingente de trabalhadores brasileiros lotarem aviões com passagens só de vinda ao Brasil. Hoje, o mesmo acontece com os Estados Unidos e países da União Europeia, que também passam por grave escassez de emprego.
Ramiro Gonçalez, professor de inteligência de mercado da FIA/USP, conta que, no final da década de 90, aos olhos do mercado internacional o executivo brasileiro era bom – por ser preparado, flexível e acostumado a adversidades – e barato – pelo real desvalorizado em relação a outras moedas e má remuneração no Brasil. “A relação custo benefício era excelente. O brasileiro conseguia empregos bem remunerados”, diz. Mas, de três anos para cá, ainda segundo Gonçalez, muita coisa mudou, principalmente com a crise de 2008. “O fenômeno agora é inverso. O ‘pacote expatriado’ do brasileiro – do qual fazem parte o salário e a ajuda de custo – ficou muito caro para a empresa estrangeira que ainda conta com excesso de mão de obra qualificada e sem oportunidade de emprego no seu país”, diz.
Em épocas de crise, em que há diminuição da oferta de emprego, o estrangeiro não é visto com bons olhos por preencher as poucas vagas existentes no mercado local. Assim, muitos brasileiros estão repensando a decisão de continuar trabalhando no exterior. Carlos Guilherme Nosé, diretor da Fesa, empresa de recrutamento de altos executivos, explica que os maiores atrativos para a volta do brasileiro é a combinação de falta de perspectiva no exterior com o crescimento de oportunidades e valorização do executivo no Brasil. “Empresas estrangeiras não estão apostando em crescimento elevado e o contrário tem acontecido por aqui. O câmbio também ajuda a elevar a remuneração do executivo no País – já que ele pode ganhar muito mais do que estava ganhando lá fora”, conta.
A volta
A decisão de regressar ao Brasil depende de muitos fatores pessoais e profissionais. Mas, tomada a decisão, há ainda mais coisas em que se deve pensar. O Ministério das Relações Exteriores disponibiliza em seu site o Guia do Brasileiro Regressado. Lá, especifica documentos necessários para oficializar a saída do país e até informações para o transporte de bens, como móveis e vestimentas, adquiridos pelo brasileiro no exterior. Além disso, é imprescindível quitar todas as dívidas pendentes no país em que morou. “Para voltar são vários os processos e burocracias. Tive que ir à prefeitura da cidade em que morava acertar a documentação e, se tivesse débito, como imposto de renda e outras taxas, não poderia sair do Japão”, conta Igarashi.
Outro problema enfrentado pelo brasileiro na volta para o País é a recolocação no mercado de trabalho. “O profissional vai entrar em um mercado competitivo. Para se recolocar no mercado, precisa procurar consultorias e reativar o networking no Brasil. Não é tão fácil assim”, afirma Nosé.
Igarashi conta que, financeiramente e pela experiência de vida, o trabalho no Japão compensava. Mas tanto tempo fora do Brasil, de fato atrapalhou sua carreira. “Agora estou começando de novo. Tive uma boa proposta de emprego e consegui me recolocar novamente no mercado”, diz.
Vantagem para o País
Com tamanha demanda, o governo criou neste ano uma série de programas que auxiliam a volta do expatriado. O Ministério do Trabalho e Emprego (MTE), por exemplo, implementou um ponto de recepção e apoio a brasileiros regressados do exterior — especialmente do Japão — na cidade de São Paulo. O objetivo é prestar serviços, como orientação para reinserção no mercado de trabalho, e informações relativas aos direitos de cidadania brasileira. Para auxiliar repatriados que ainda estão desempregados, o MTE também abriu um núcleo que distribui currículos para empresas. A expectativa é de que sejam atendidos cerca de 200 trabalhadores por mês.
E não são apenas os brasileiros que, sem muitas oportunidades no exterior, resolvem voltar. O próprio governo está interessado na volta de profissionais do exterior. Segundo pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), a escassez de trabalhadores qualificados é um empecilho na contratação para 69% das empresas.
Fatores como estes faz com que o governo incentive ainda mais a repatriação de talentos que estão no exterior. O Ministério da Ciência e Tecnologia (MCT), por exemplo, criou, em março deste ano, a Comissão do Futuro para discutir a volta de cientistas brasileiros. No mesmo caminho, o CNPq (Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico) está elaborando um projeto para atrair pesquisadores.
 Algumas empresas, independentemente da crise, também investem na volta de expatriados. O grupo de investimento CSEM Brasil é um exemplo. O diretor-presidente do instituto, Tiago Alves, morou e trabalhou por 10 anos na Inglaterra e há dois anos, por meio do grupo, voltou ao Brasil. Hoje, busca pessoas que queiram fazer o mesmo. “Buscamos talentos comprovados em aéreas especificas e que tenham experiência internacional”, afirma.
Alves conta que o grupo não tem preferência pelos repatriados, mas explica que, na maioria das vezes, existe um diferencial neste profissional. “Aquele que teve a experiência de trabalhar no exterior é menos tímido e, só o fato de ter investido em sua carreira e pessoal, já é um selo de qualidade”, afirma. Nosé, da Fesa, concorda. Ele acredita que o expatriado adquire experiência – profissional e comportamental – no exterior e volta para agregar e enriquecer o mercado nacional. “Hoje não há mais aquela imagem da pessoa voltar por falta de opção, ela volta pelas melhores oportunidades”, ressalta.

Confira mais no blog "Histórias de um Dekassegui" http://clovisakira.blogspot.com

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Fonte: Clovis Akira

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