Está marcada para acontecer às 10h00 deste domingo a inauguração do Centro Comunitário da comunidade do conjunto habitacional “Hélio Nicolai”, que vai homenagear à saudosa artista plástica e escritora, Júlia Ruiz Ruete . Conforme esclareceu a Secretária de Promoção Social do município, Eliana Dias Sobreiro Assugeni, o referido espaço terá como principal utilização servir como suporte para eventos comunitários.
Ela explicou que o espaço estava fechado desde a finalização das obras do referido conjunto habitacional, em novembro de 2012, aguardando a realização de investimentos em seu acabamento final. “Ficou muito tempo parado e sem condições efetivas de utilização. A atual administração alocou recursos necessários para revitalização e abertura do Centro Comunitário”, detalhou.
Eliana conta que foram feitas intervenções pontuais na substituição de portas, vidraças, instalação de persianas e arranjo externo. “ A reforma deixou o espaço ainda mais acolhedor. A quadra poliesportiva está em plenas condições de uso e acredito que toda a comunidade do bairro estará muito bem servida com uma infraestrutura ótima. A exemplo de outras ações com as mesmas características , estamos paralelamente realizando um trabalho de conscientização para que a própria comunidade nos auxilie na conservação do espaço”, avaliou.
A inauguração deverá atrair familiares da artista, autoridades públicas e comunitárias. Durante todo o dia de ontem ainda era possível ver a atuação de profissionais dando os últimos retoques.
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Uma artista completa, ou “integralmente artista”, na definição atribuída a Menotti Del Pichia. Estas foram algumas das credenciais que acompanharam Júlia Luiz Ruete ao longo de quase 8 décadas de uma intensa carreira artística que transitou pela música erudita, pelas artes plásticas e pela literatura. “Conhecer a Júlia Luiz da infância e da juventude – desenhista, violinista, cantora lírica – ajuda a entender a Júlia Luiz preferentemente pintora e ficcionista – a da maturidade”, atesta Hernâni Donato , escritor, historiador, jornalista, professor, tradutor e roteirista brasileiro.
Natural da cidade de Araras, Júlia nasceu no dia 22/02/1901 e veio a falecer em Campinas em 14/10/1986, aos 85 anos de idade. Cresceu em meio a um ambiente de refinamento artístico possibilitado pelos pais e , desta forma, desde pequena demonstrava irresistível vocação para as mais variadas expressões artística.
Esta sua eloquência no mundo das artes teria ainda produzido um daqueles acasos do destino que colocou em seu caminho Antônio Ruete, professor, latinista, erudito, versado em literatura e arte.” Foi como se estivessem estado, até ali, um à espera do outro. Casaram-se. E comungaram ideias e práticas “até que a morte os separou”, mencionou Hernâni Donato. O matrimônio fez com que mudasse para Jaboticabal e o casal teve nove filhos (Maria ,Carmen, Antonio, Francisco, José, Geraldo,Júlia, André e Aurélio) .
A dedicação ao esposo e aos filhos inibiu, mas não fez cessar o dom do empreendimento artístico, segundo Donato. “Mesmo absorvida pelos cuidados na educação dos nove filhos, Júlia não abandonou o violino, não esqueceu as árias preferidas, não limitou o programa das audições festivas em sua casa”. Prosseguindo, afirma que “os serões de Araras foram repetidos em Jaboticabal, mais animados, se possível, pela participação do marido e de seus alunos. Mesmo nos momentos menos adequados para a prática artística, Júlia Luiz não a suprimiu do seu existir, do viver familiar, elegendo-a gênero de primeira necessidade”.
O falecimento do esposo em 1966 promove uma guinada radical em sua vida. Deixa Jaboticabal e se estabelece em Campinas, cidade que por si só é uma das principais referências em todo o Brasil no campo das artes e também do saber. Talvez por capricho, talvez por mera coincidência, mas fato é que foi residir no elegante bairro Carlos Gomes , que homenageia o imortal compositor, por ela idolatrado. Ali estabeleceu uma rotina própria de intelectuais de sua estirpe, flertando com a singularidade das coisas da mãe natureza e da alma humana como inspiração para dar continuidade ao trabalho artístico, cada vez mais maduro e repleto de uma intensidade que saltava aos olhos. “Toda manhãzinha, sol ou chuva, frio ou calor, ia à missa, comungava, levava o jornal pra casa. Às nove horas, tomava o crayon. O papel branco. Evocava lugares onde fora particularmente feliz. Desenhava. Descobriu um prazer que pedia novos desenhos. E, outros e outros, cada qual melhor trabalhado, mais ousado. Sem outra regra ou limite que o dar liberdade ao desejo de criar”.
Apesar do talento nato, foi ser aluna do famoso professor. Aldo Cardarelli, o qual, segundo registros, teria lhe dito que não precisava de orientador pois já trazia latente talento nato.Tornou-se uma artista plástica de renome internacional, cujas exposições de seus trabalhos não raramente atraiam comentários elogiosos da crítica especializada. Paisagens e também de forma implícita imagens e esboços que remetiam à sua religiosidade arraigada ( Júlia era católica praticante), acabaram por moldar seu estilo peculiar de pintar e também seus escritos.
A homenagem que agora a comunidade Itapirense presta à sua memória vem a se somar a dezenas de outras que ela recebeu em vida e após sua morte. Por mais singelas que sejam ( como é seguramente a homenagem em questão) , representam o reconhecimento a uma pessoa cuja trajetória como esposa, mãe e artista reflete antes de mais nada a condição superior da generosidade de sua alma e seu apego às coisas mais relevantes da vida, sintetizadas por uma inabalável crença num Deus onipotente.