Nesta semana, o apicultor Júlio Cesar Ferreira Neves, 43 anos, procurou a redação do Jornal A Cidade para falar de sua suspeita de que algo de anormal estaria ocorrendo no trecho final do Ribeirão da Penha, próximo à Estação de Tratamento de Esgotos (ETE).
Ele relatou que tem o hábito de descer de barco aquele trecho aos finais de semana, em direção a uma propriedade rural margeada pelo Rio do Peixe com o qual as águas do ribeirão se encontram a poucos metros do local visitado pelo apicultor. “No sábado eu me impressionei com a coloração escura da água e com o cheiro fétido. Parecia um tapete negro sobre as águas. Voltei no dia seguinte e o quadro ainda persistia. Fiquei ainda mais impressionado quando ao revirar a água surgia uma quantidade muito grande de larvas, bigatos”, assegurou.
Exibiu vermelhidões na pele causadas segundo ele pela água que respingou em seu corpo. Na quarta-feira, 19, ele regressou ao local em companhia da reportagem da cidade. Um aparente silêncio do lado de dentro da Estação de Tratamento de Esgotos despertou a desconfiança de que os equipamentos não estivessem em funcionamento, dirigindo uma suspeita que talvez a origem do problema poderia estar ali. De barco, a reportagem foi conduzida rio abaixo pelo apicultor. Matéria orgânica escura e água turva se misturavam à outra de um tom mais próximo do normal. No trajeto, o aposentado Ézio Levatti foi avistado dentro de sua propriedade e indagado sobre o assunto disse que havia, de fato, descido um material mal cheiroso e uma água escurecida, dizendo que não era propriamente um fato novo.
Tudo em ordem
Na quinta-feira, 20, depois de ser questionado sobre o assunto, a direção do Serviço Autônomo de Água e Esgoto (SAAE) pediu ao chefe da ETE, Paulo Marcos dos Santos que acompanhasse a reportagem da Cidade para prestar os esclarecimentos necessários. Santos garantiu que da ETE não saiu nada de anormal para dentro do Ribeirão. Ele explicou que a coloração da água e o cheiro característicos observados no local onde supostamente poderia ter escorrido algum resíduo estavam dentro da normalidade. “O esgoto propriamente dito acaba se transformando em matéria liquefeita quando chega às lagoas de decantação. Não tem como sair de forma in natura para o Ribeirão. Quanto a este material de coloração preta ele se forma a partir da cristalização de resíduos que são atirados dentro da rede de esgoto como embalagens, plástico e isopor. Não vejo como algo de errado possa ter ocorrido a partir daqui”, reafirmou.
Questionado sobre os ‘bigatos’ que Neves disse ter visto em abundância no leito do Ribeirão, acha que isso ocorre quando há despejo de “matéria orgânica”. Descartou ainda a possibilidade de ter ocorrido falta de energia. “Examinei os laudos de funcionamento das máquinas, nada deixou de operar dentro da normalidade”, assegurou. Santos disse que ainda sim iria promover uma espécie de varredura para examinar se não tem ocorrido despejo de esgoto clandestino. “E um trabalho difícil, mas se isto (o despejo) estiver de fato ocorrendo, vamos chegar a seu causador”, garantiu.