O que mais a louca quer?
Desde que foi coroada, há muito tempo, ela faz gato e sapato do reinado. Ela pensa que a coroa é um falo gigantesco, essa pobre desvairada, essa aspirante a deus.
Ela quer as joias várias e os luxos inesgotáveis da vida de monarca? Ela tem. Os banquetes fartos, as libações faustosas? Ela os tem. E o que mais ela deseja?
O cortejo diário, os bobos da corte, as peças de teatro, as missas, os malabarismos e os saraus; diariamente as efusões de beleza do povo quase sem nenhuma para si próprio mas que para ela tudo mostra e tudo dá; diariamente o florilégio dos mais belos pensamentos, os mais inocentes regozijos e lamentos de toda a gente, todos feitos passeata para os olhos da monarca – e o que mais ela deseja?
A rainha violenta, inclemente, caprichosa, a rainha desejosa, eternamente desejosa – de que mais?
A rainha mentecapta não pensa nunca em caminhar com os próprios pés? Não pensa nunca em não usar dos seus subordinados como muletas para os seus aleijões? A rainha, além de louca, não vê?, não vê que a obediência dos seus vassalos é ocasional, que o brilho da sua coroa é passageiro?
Tom Custódio da Luz, 23 anos, é escritor, compositor, cantor e músico.
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