MARTHA ALVES
ENVIADA ESPECIAL A SANTOS
FÁBIO MENDES
COLABORAÇÃO PARA A FOLHA EM SANTOS
Três das quatro vítimas mortas na madrugada desta terça-feira no acidente com carro alegórico da escola de samba Sangue Jovem, da torcida organizada do Santos, receberiam R$ 40 para empurrar os carros. Outras seis pessoas foram atingidas pela descarga elétrica e foram levadas a prontos-socorros da região. O desfile das escolas de samba de Santos foi suspenso.
Carro alegórico pega fogo e mata quatro em Santos; veja vídeo
Segundo o Corpo de Bombeiros de Santos, o último carro alegórico da escola de samba pegou fogo após fazer uma manobra na área de dispersão e atingir a fiação da rede elétrica. Três homens, contratados por R$ 40 para empurrar o carro, morreram após serem atingidos pela descarga elétrica. Não havia nenhum destaque no carro no momento do acidente.
A promotora de vendas Mirela Diniz Garcia, 19, que acompanhava o desfile na calçada com a família, morreu no hospital após ser atingida pelo carro alegórico em frente de casa. " Minha filha morreu como uma heroína salvando a filha de três anos que estava próximo do carro", disse a dona de casa Silvia Diniz Garcia, 45.
Segundo Silvia, o carro alegórico fez uma curva muito fechada na rua em uma área com desnível e perdeu o controle, atingindo os fios de eletricidade. " Esta não é a primeira vez que ocorrem acidentes aqui, já aconteceu de carros baterem na luminária do poste em carnavais passados", reclama.
Outra vítima do acidente é o desempregado Leandro Monteiro, que completou 27 anos hoje, e que deixa cinco filhos e a mulher. Segundo Rosangela Monteiro, 25, o irmão foi empurrar o carro para conseguir dinheiro para fazer a festa de aniversário. " Com o choque meu irmão ficou travado, não conseguiu soltar o carro e se ajoelhou",diz chorando.
Inconformada a mulher de Monteiro, a dona de casa Jaqueline Dias Cardoso, 27, gritava que preferia o marido em casa do que trabalhando. " Eu falei para ele não ir, mas ele disse que era um dinheiro a mais. Ele foi neste maldito lugar e deixou eu os filhos dele", disse chorando.
Segundo Jaqueline, que identificou o corpo do marido no IML (Instituto Médico Legal), ele estava com uma mancha de queimadura no rosto, a região próxima à virilha e bermuda. "Eu quero o Leandro", falava chorando.
Enquanto Jaqueline esperava no IML, recebeu a ligação da Sangue Jovem oferecendo ajuda financeira para o enterro do marido. "A gente tem cinco filhos, não tenho condições de pagar o enterro, vou aceitar a ajuda", disse Jaqueline.
O prefeito Paulo Alexandre Barbosa, em entrevista a TV Tribuna, disse não há clima para nenhum tipo de festa. Segundo Barbosa, o ambiente é de extrema tristeza e agora o foco é atender os feridos e as famílias das vítimas.
POR POUCO
O desempregado Fábio Cesar Silva de Moraes, 28, que recebeu R$ 40 para empurrar o carro alegórico, escapou do acidente por questão de minutos.
Moraes havia ido ver um carro de outra escola e quando retornou entrou em choque ao ver os dois irmãos e cinco colegas atingidos pela descarga elétrica dentro de ambulâncias. "Acho que foi Deus, eu nasci de novo", disse.
OUTRO LADO
O diretor de Relações Públicas da escola Sangue Jovem, Alexandre Cruz da Cunha, negou que o carro tivesse problemas estruturais.
Segundo Cunha, a escola está auxiliando as famílias e aguarda a identificação do último corpo para localizar a família e prestar assistência.
"Com o acidente, toda a estrutura do Carnaval terá que ser repensada", disse.
OUTRO CASO
Em 2011, 16 pessoas morreram durante as festas pré-carnaval de Bandeira do Sul (430 km de Belo Horizonte) após um trio elétrico ser atingido por uma corrente elétrica. A perícia apontou que o lançamento de serpentina metalizada na rede elétrica gerou um curto-circuito, provocando o rompimento de cabos de alta tensão numa rua lotada de foliões.
Além das mortes, o acidente deixou outras 50 pessoas feridas. Após a tragédia, várias cidades do Estado de Minas aprovaram decretos proibindo a venda da serpentina metalizada.