O assunto dominou as manchetes em todo o Brasil, a decisão do Governo Federal em ampliar em mais dois anos o curso de medicina com a exigência de que estudantes trabalhem por dois anos na rede pública antes de receberem o diploma, repercutiu também aqui na cidade.
O médico-cirurgião Cassiano Martelli, presidente da representação regional da Associação Paulista de Medicina (APM) considera que o governo federal tem feito uso do expediente de desviar a atenção para os problemas estruturais do país. “Vejo esta movimentação como caso típico do governo em arrumar uma desculpa para desviar a atenção das pessoas para as necessidades básicas da população”, criticou.
Martelli segue um discurso afinado com relação ao que tem sido denunciado pelas entidades classistas dos médicos. Para a categoria, não adianta elevar o número de médicos se falta uma estrutura básica de atendimento. Martelli chama a medida de “serviço civil obrigatório”, numa alusão ao alistamento para o serviço militar. Ele fala que o país têm recursos suficientes para um atendimento melhor na área de saúde e que na sua opinião falta um melhor gerenciamento. Além da falta de estrutura, aponta também a falta de segurança para que os médicos possam atuar na periferia das grandes cidades.
Laís Queluz Clementino, de 21 anos, estudante do primeiro ano da Faculdade de Medicina da USP também protestou. “ A solução que o governo pretende adotar me parece algo mais ou menos como se contratar um cozinheiro para matar a fome da população, só que sem a comida”, comparou. Ela afirma também que a partir do 5º ano os estudantes de medicina já tem que atender na rede pública. “Eu acho que a decisão do governo força a barra. Ninguém pode ser obrigado a fazer algo contra sua vontade,além do que, da forma como a discussão vem sendo encaminhada, existe o risco do profissional da área médica ser colocado como o vilão desta história. Ou seja, de repente, o governo acaba por jogar a opinião pública contra a categoria”, adverte.
Posição parecida tem Caio Henrique Zachi Martucci, também primeiroanista do curso de medicina da USP. “A falta de estrutura reinante na maior parte do país impede que uma medida com a pretensão desta que o governo está anunciado seja eficiente. Não acho que seja por aí. Tenho conversado com vários colegas e a posição é majoritária. Existem alguns que apoiam a medida , entendendo ser lícito que o estudante retribua o que recebeu do governo na forma da prestação de serviço, mas a medida atinge também estudantes de faculdades particulares. Eu vejo uma série de obstáculos para que esta medida se traduza de maneira prática e eficiente”, objetou.
Dentistas
Segundo se especula, com a inclusão da obrigatoriedade dos médicos em trabalhar por dois anos para o governo, a medida poderá também ser estendida a outras categorias como os dentistas. Consultado a respeito, o cirurgião dentista Antonio Carlos Crivelaro, que preside direção regional da Associação Paulista dos Cirurgiões Dentista (APCD) baseada em Mogi Mirim; disse ser favorável à medida. “Eu enxergo esta determinação sob dois pontos de vista. O primeiro que diz respeito a um ganho de qualidade na formação do profissional que terá uma experiência de vida inigualável atuando na rede pública. Existe hoje um excesso de cursos de especialização que acarreta por exemplo uma falta de clínico geral. E por outro lado é positiva a ideia de que estudantes da rede pública, principalmente, possam retribuir o investimento que o Estado fez em sua formação”, propôs.
Crivelaro: medida é positiva
Martelli: governo quer desviar a atenção para problemas estruturais do país
Laís: bode espiatório
Caio: proposta de difícil execução