Conduta que deveria ser tomada como padrão, a ética tornou-se bandeira política. Virou programa de governo. Uma meta a ser alcançada. Um fim em si mesmo. Esse é o resultado de um amplo histórico de episódios de improbidade e corrupção. Um passado de erros que tornou rara a honestidade no cotidiano da coisa pública.
O Brasil é especialista em criar leis; mas em colocá-las em prática, um fracasso. Temos uma legislação aberta às mais variadas interpretações e contradições. Some-se a isso a lentidão e a burocracia excessiva. Esse contexto escancara as portas da impunidade – espaço por onde os transgressores não têm o menor receio de passar e repassar.
Chegamos a um ponto crítico: todo aquele que se apresenta como político, mesmo que tenha acabado de entrar nessa esfera de atuação, já não é bem visto. A priori, mesmo que nada comprometa sua biografia. É fácil de compreender: em muitos casos, quem exerce um mandato o transforma em mero balcão de negócios. Ali, trata as demandas públicas, mas sempre sobrepondo seus interesses particulares e corporativos.
É claro, exemplos de boa política ainda existem. No entanto, uma árvore que cai faz muito mais barulho do que uma floresta inteira que cresce. E, assim, a percepção negativa sobre a totalidade dos políticos se cristaliza, colocando maus e bons no mesmo compartimento.
Isso se tornou ainda mais visível com as manifestações que tomaram o país neste ano. Houve protestos pela ética, pela manutenção do poder investigatório do Ministério Público, pela punição dos mensaleiros, pela ficha limpa de quem representa a população. O recado é – e continua sendo – claro: os brasileiros não se sentem representados por quem detém o poder. Isso é gravíssimo!