O aposentado José Eduardo Oliveira, 71, pode ser considerado entre todos os milhares de torcedores da Sociedade Esportiva Palmeiras na cidade, seguramente, um dos mais apaixonados. Aliás, como José Eduardo talvez a esposa Marisete e meia dúzia de pessoas o conheçam desta forma.
Ele é conhecido por 99% das pessoas como Bidala, apelido que herdou dos tempos de escola por causa da mala com material escolar que levava para a sala de aula, pesada e sempre arrastada, que evocava situação descrita numa marcha de carnaval que fazia sucesso naquela época relatando os feitos de um tal Bidala, que vivia carregando uma mala. “Fui achar ruim e deu no que deu. O José Eduardo sobreviveu por 10 anos enquanto que o Bidala vive já há 61”, diverte-se.
Mas, voltando a falar da ligação atávica que ele carrega com o Palmeiras, é preciso, antes de mais nada lembrar que Bidala descende por parte de mãe da família Peretta, que tradicionalmente figurava entre os ilustres palestrino” da cidade - o clube só ganhou a atual denominação no começo da década de 40. Antes de mudar de nome, por causa da Segunda Guerra Mundial era Palestra Itália. Gregório Pereta, seu avô, já era torcedor dedicado. Seu tio, José Peretta, ainda vivo, jogava pela Esportiva Itapirense e era bom de bola.
Em 1949, ele decidiu levar o sobrinho como mascote de um jogo oficial no Estádio Coronel Chico Vieira, quando José Eduardo tinha seis anos e nem ainda era o Bidala. “Foi meu primeiro contato com o futebol. Fiquei maravilhado. A partir daí esse esporte viria se tornar uma referência pessoal para mim”, relembrou.
Nem era preciso dizer que por influência dos parentes se tornou palmeirense de corpo e alma. Esta paixão o acompanha desde cedo e conforme descreveu, lhe acarretou saborosas lembranças e amargas situações ao longo de todos estes anos. Bidala ouviu pelo rádio, por exemplo, o Palmeiras se sagrar campeão da Copa Rio em 1951, disputado depois da Copa do Mundo de 50 e que trouxe ao país no ano seguinte alguns dos grandes times europeus numa espécie de embrião do que viria se tornar anos mais tarde o campeonato mundial de futebol interclubes. O Brasil foi representado pelo Palmeiras e pelo Vasco da Gama e deu Palmeiras. A Fifa, recentemente, concluiu processo onde concede ao Palmeiras a condição de primeiro campeão mundial interclubes por causa do torneio. Bidala tem na ponta da língua a escalação completa do time campeão.
Em 54, pode assistir ao lado de familiares o primeiro jogo ao vivo, um Palmeiras e Ponte Preta disputado em Campinas e que terminou 1a1. Desde então sempre que teve condições, passou a frequentar estádios com regularidade para torcer pelo seu Palmeiras. Além das quedas para a segunda divisão,coisa mais recente, Bidala conta que o fato mais triste que arrancou lágrimas foi um Palmeiras e Santos disputado em 1958. Ele disse que morava nas imediações da Igreja de São Benedito e chorou copiosamente depois que o Palmeiras perdeu um jogo por 7 a 6 nos minutos finais, depois de levar 5 a 2 no primeiro tempo e virar a partida para 6 a 5. “O Pepe fez dois gols de falta e virou o jogo novamente. Foi um dos dias mais tristes da minha vida”, contou.
Relíquias
Apesar da fase de vacas magras, Bidala curte as glórias de seu Palmeiras e tem em casa uma coleção de pertences que recordam estes feitos, entre os quais, várias relíquias, como revistas, flâmulas, fotografias e uma camisa autografada pelo ex-goleiro Marcos, o São Marcos, que na semana passada, na festa que a Torcida Uniformizada do Palmeiras fez no bairro do Tanquinho, ganhou o reforço de dois outros dois grandes goleiros da escola esmeraldina, Gilmar e Veloso.
Bidala já teve o privilégio de em um jantar em Serra Negra, depois da conquista do título da Libertadores de 1999, com a presença de Luiz Felipe Scolari. No ano seguinte viveu rara felicidade na semifinal da Libertadores, quando Marcelinho Carioca perdeu o pênalti que garantiu o Palmeiras em mais uma final (perdeu a decisão para o Boca Juniors nos pênaltis).
Ao ser solicitado que deixasse aos colegas torcedores uma mensagem nesta semana em que o clube festejou 100 anos de atividades, Bidala parafraseou o saudoso ex-governador de Pernambuco, Eduardo Campos: “Palestrinos, palmeiristas e palmeirenses, o Palmeiras é muito grande, não podemos desistir dele”.
Bidala com a camisa carregada de auytógrafos famosos
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