São quase 3 mil visualizações em menos de duas semana no ar. O vídeo ‘Memórias de Itapira’, continuação do documentário ‘Itapira 1821-2013’, produzido pelo dentista Daniel Ramonda caiu nas graças dos internautas. Isso se deve ao fato de, durante os 18 minutos de duração, a produção se transforma em um túnel do tempo para a realidade itapirense de 1929, inclusive com cenas de época.
Logo após a publicação de seu primeiro vídeo, Ramonda o enviou para um concurso de uma empresa odontológica, que premiaria as melhores produções acerca dos hobbys dos profissionais da área. O ganhador receberia uma viagem para a Universal Studios, em Hollywood, com tudo pago.
“Enviei vários vídeos e um deles foi selecionado, ganhando em primeiro lugar. Nunca estive em Hollywood e fico muito satisfeito, pois meu hobby foi reconhecido. Quando fazemos algo que gostamos e fazemos bem feito a vida retorna de alguma forma. Mesmo assim, meu maior lucro é ver os comentários de muita gente que se emocionou com o documentário”, confessa.
O dentista e cineasta Daniel Ramonda ingressou no mundo do cinema apenas por hobby. Ele revelou ser apaixonado por filmagem e produção de cena desde muito cedo e resolveu fazer documentários sobre a história itapirense por um gosto pessoal. “Sempre gostei muito de história, inclusive era um curso que cogitei fazer. Um dia, ao dar uma volta no Parque Juca Mulato, comecei a observar a arquitetura dos prédios ali perto, ouvi algumas histórias sobre a Revolução de 32 e sobre senhores de escravos. Analisei que existe muita história perdida por aí e muitos locais que eram totalmente diferentes e a geração de hoje não tem ideia disso. Foi aí que busquei na internet fotos da cidade antiga, e pra minha surpresa, nem precisei fazer uma busca muito complexa”, conta.
Daniel explica que o acervo fotográfico disponibilizado por Plínio Magalhães da Cunha no blog ‘Tempos Saudosos’ foi de excelente ajuda. Além disso, buscou fotos no livro ‘A História Ilustrada de Itapira’, volumes 1, 2 e 3, de Jácomo Mandatto e contou com a ajuda do historiador Éric Apolinário, de Arlindo Bellini e do fotógrafo André Santiago. “Pensei em sobrepor imagens antigas e atuais. Queria algo que chamasse a atenção e descobri que o tema da cidade em si é especial. As pessoas gostam da história local e se sensibilizam com as recordações. Não é a toa que os vídeos causaram bastante comoção”, relata o cineasta.
Diferente do primeiro documentário, que foi baseado em sobreposição de fotos antigas e imagens atuais, Daniel Ramonda decidiu inovar e criou uma história simples que tinha por objetivo destacar a paixão que muitos têm por coisas do passado. “No início, o personagem recebe do pai uma foto para enterrar. Após 80 anos, ele vê essa mesma foto publicada numa revista e decide desenterrar a copia original. Quem representa o personagem? Isso fica a cargo de cada um que vê o filme.
Quantos apaixonados por fotografia viveram em Itapira em 1929? Acredito que vários”, afirmou Ramonda.
Ao todo, foram 10 meses de filmagem e edição para o segundo documentário. O dentista usava de seu tempo livre, principalmente aos domingos à tarde, para captar as imagens. Já as cenas de época, que contaram com a ajuda de direção e elenco da Cia de Teatro Paulino Santiago, de Edson Dorigatti – que restaura veículos antigos e disponibilizou algumas unidades – e também da Secretaria de Cultura e Turismo de Itapira, que chegou a fechar a Rua Fleming para que a filmagens fossem realizadas. “Foi um desafio escolher uma pessoa em seus 80 anos que topasse atuar. Então recebi a sugestão de contatar o professor Sillas Bravo Nogueira, uma pessoa muito querida e conhecida por toda Itapira. Ele interpretou muito bem e está vendendo saúde. Tive que envelhecê-lo para se adaptar ao personagem, dando uma bengala a ele”, relatou. Além disso, ele foi até um aeroclube da região e fez um vôo rápido para obter imagens aéreas.
Apesar de todo o trabalho e tempo dedicado à produção do documentário ‘Memórias de Itapira’, o cineasta conta que não visou lucros, tampouco recebeu apoio financeiro de qualquer instituição. Sua real intenção era presentear a cidade com algo inédito e também deixar uma recordação e um registro histórico para futuras gerações. “Se a moda pegar, talvez vejamos outras cidades fazendo vídeos parecidos. Penso em escolher agora algum tema específico da cidade como, por exemplo, a Revolução de 32 e trabalhar em cima disso. Temos muitas histórias pra contar. E quem contará senão os próprios artistas locais?”, concluiu.
Um ator que conhece a história da cidade desde os tempos remotos
Durante o vídeo, um personagem na casa de seus 80 anos aparece sentado na Praça Bernardino de Campos lendo uma matéria em uma revista. No enredo montado por Daniel Ramonda, a foto que ilustra o texto é a mesma que seu pai lhe deu há anos e que ele havia enterrado em certo ponto do Parque Juca Mulato. O personagem é retratado pelo professor Sillas Bravo Nogueira, 83 anos, figura conhecida da sociedade tendo recebido, inclusive, o título de Cidadão Itapirense.
Natural de Botucatu-SP, chegou à cidade para lecionar em 1950 e possui faculdades de Matemática, Pedagogia e Direito. Foi vereador e diretor de Educação, cargo que hoje se assemelha ao de secretário. Nesses 64 anos, acompanhou todo o crescimento da cidade, bem como suas modificações ao longo dos anos. Conheceu vários nomes importantes da política e cultura local e auxiliou no desenvolvimento de muitos setores.
O professor conta que foi convidado para participar da produção sem ao certo saber qual seria sua função. Dedicou aproximadamente duas horas – em dois dias – para representar seu personagem e ganhou até mesmo uma bengala para sua caracterização. “Quis ser eu mesmo nas cenas, afinal fui testemunha ocular de parte daquilo que é retratado no vídeo”, relatou.
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