Paulo Virgilio
Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro - Referência para pesquisadores do Brasil e do exterior, a Coleção Helmintológica do Instituto Oswaldo Cruz (IOC), unidade da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz) acaba de completar 100 anos. O acervo é o maior do gênero na América Latina e um dos mais valiosos entre vários outros de cunho biológico da instituição brasileira. São mais de 37.500 lotes, com amostras provenientes dos cinco continentes, que foram sendo incorporadas à coleção desde o início do século 20 e até hoje estão disponíveis para pesquisa e consulta pela comunidade científica.
Os helmintos são vermes parasitas causadores de muitas doenças no ser humano, como esquistossomose, ascaridíase, teníase, cisticercose e filariose, entre outras. São enfermidades que podem ter sua ocorrência relacionada a condições precárias de higiene e saneamento.
A coleção do Instituto Oswaldo Cruz também contempla helmintos de interesse veterinários, causadores de verminoses em animais. As amostras são preservadas em lâminas ou acondicionadas em frascos, em álcool, formol ou outros meios líquidos.
Iniciada em 1913 pelos pesquisadores José Gomes de Faria e Lauro Pereira Travassos, a Coleção Helmíntica recebeu contribuições de expoentes da ciência brasileira, como Oswaldo Cruz, Adolpho Lutz e Gaspar Viana. Instituições estrangeiras também deram importante contribuição ao acervo, que se caracteriza por sua biodiversidade.
“Aqui existem helmintos depositados desde o início do século 20, entre holótipos e parátipos, totalizando 872 tipos de espécies coletadas no Brasil e no exterior”, descreve o pesquisador do Laboratório de Helmintos Parasitos de Vertebrados (LHPV) do IOC, Marcelo Knoff, curador da coleção desde 2007. “Os holótipos são utilizados como base para descrição de uma nova espécie e os parátipos são os espécimes semelhantes de um mesmo lote depositado”, explica o especialista, mestre em parasitologia veterinária pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ) e doutor em biologia parasitária pelo IOC.
Segundo Knoff, a cada ano aproximadamente 250 novos lotes de helmintos são depositados na coleção. O curador é o responsável por administrar o acervo e obter melhorias para o espaço por ele ocupado no Pavilhão Cardoso Fontes, um dos vários prédios do campus da Fiocruz em Manguinhos, zona norte do Rio.
Nos anos de 2007 e 2008, o apoio financeiro do Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) possibilitou significativas mudanças no ambiente que abriga o acervo. Além de melhorias de infraestrutura, as estantes e gavetas de madeira do início do século 20 foram substituídas por modernos armários de aço, com prateleiras deslizantes, suficientes para acomodar o crescimento da coleção pelos próximos 100 anos.
Outra modernização foi a do gerenciamento de dados da coleção, agora informatizado e não mais dependente das tradicionais fichas catalográficas. “Concluímos a digitalização, iniciada em 2003, das fichas de todos os helmintos depositados. Hoje, as informações estão disponíveis para consulta de forma gratuita”, comemora Marcelo Knoff.
As visitas e consultas são feitas a partir de solicitações de cientistas de diversas instituições e têm o acompanhamento da equipe encarregada de zelar pelo acervo. “São visitas programadas, geralmente com um mês de antecedência, tanto para finalidade de pesquisa quanto para conhecer a coleção”, explica o curador.
O empréstimo de espécimes também é um serviço prestado a pesquisadores do Brasil e do exterior. De 2003 a 2012 foram feitos 2.519 empréstimos em território nacional e 673 para pesquisas fora do país. Instituições científicas dos Estados Unidos, da França, Itália, Suíça, Bélgica, do México, da Argentina e de Cuba já solicitaram empréstimos de helmintos da renomada coleção do Instituto Oswaldo Cruz.
Edição: Fernando Fraga
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