A celebração de mais um Dia de Finados, descortinou um tema que tem sido tratado como espécie de tabu na cidade: a instalação de um cemitério particular. Assunto ventilado em círculos restritos há pelo menos 15 anos, a instalação de um empreendimento do gênero esbarraria essencialmente no montante a ser investido segundo analistas. “Se você comparar o preço de imóveis convencionais de Itapira e de cidades como Mogi Mirim e Mogi Guaçu vai observar que aqui tradicionalmente o preço do imóvel é mais barato. Agora transfira esta situação para a aquisição de um bem imóvel que não é exatamente algo que figure nas necessidades mais imediatas da maioria das pessoas. Isso na minha opinião afasta potenciais investidores”, avaliou André Boretti, corretor de imóveis.
O empresário do setor de transportes, Francisco de Assis Miranda, revela que há cerca de 10 anos chegou a comprar uma área pensando em construir um Cemitério Parque, mas desistiu da idéia. “Avaliei a questão com maior profundidade e cheguei à conclusão de que naquela época seria um investimento com retorno incerto. Talvez ainda hoje este quadro seja verdadeiro, o que inibe investimentos neste nicho. Trata-se de um empreendimento cuja maturação ocorre depois de muitos anos e existem outras formas de negócio onde o retorno ocorre mais rapidamente”, raciocinou.
O engenheiro civil Antonio Carlos Marcati, da Marcati Construtora, lembra que uma empresa da região, a Riwenda, sediada em Mogi Guaçu e com enorme histórico de realizações na cidade, tem uma área onde se cogita que poderia ser construído um cemitério. “Este tipo de cogitação de vez em quando surge do nada. Eu acredito que é o tipo do assunto que merece ser bem estudado. De repente as condições gerais até permitem visualizar um negócio rentável, mas existem pessoas que militam especificamente nesta área que poderiam dar uma opinião mais avalizada a respeito”, propôs.
O agente funerário Davi Eduardo Martins Pinto, o Urco, entende que a cidade comporta um empreendimento desse tipo. “A situação do Cemitério da Saudade é irreverssível. Criou-se até um mercado negro de jazigos no local. Pessoas com maior poder aquisitivo não escondem um certo desprezo pelo Cemitério da Paz. Além do mais, em Itapira existe uma população evangélica expressiva, com pessoas de bom poder aquisitivo, pessoas que não gostam de ambientes onde haja predominância de símbolos do catolicismo que em cemitérios particulares são usados com mais parcimônia, quando não proibidos. O que a gente ouve é que são muitos os empecilhos , principalmente de ordem ambiental para tocar um empreendimento com esta característica. Mas, acho que se alguém investir tem tudo para se dar bem”, avaliou.
Em Mogi Guaçu empreendimento do gênero atrai até itapirenses
Na vizinha Mogi Guaçu o Cemitério Colina das Flores se tornou opção para pessoas de todas as cidades da região. Em funcionamento desde 2002, o empreendimento atrai até mesmo pessoas de Itapira. “Pelo menos umas cinco famílias de Itapira têm jazigos aqui em nosso cemitério”, assegura Carlos Alberto Galbrest, gerente–administrativo.
Ele contou que o Colina das Flores abrande uma área de oito hectares, uma localização bastante privilegiada na divisa entre Mogi Mirim e Mogi Guaçu. Toda a área pode gerar sete mil jazigos. Mais de 10 anos depois cerca de 500 foram construídos e existem pelo menos 60 reservados, além de cerca de dois mil clientes no total. “Temos clientes de todas as cidades da região, com predominância de Mogi Guaçu e Mogi Mirim, mas recebemos consultas por exemplo, até de pessoas de São Paulo”, comentou.
As condições de aquisição são variadas, da necessidade premente (adquirido na hora) mais cara, aos planos a longo prazo (até 60 meses) em áreas determinadas e indeterminadas, a primeira, evidentemente, mais cara. O investimento mínimo no caso de planos a longo prazo gira em torno de R$ 3mil com o pagamento de duas taxas anuais de manutenção em torno de R$ 100 cada. Cada terreno dá direito a três gavetas. O local possui capela e velório.
Por questões de regulamento são proibidos símbolos religiosos junto às sepulturas. “Quando o empreendimento foi gestado, ficou decidido que seria um espaço ecumênico aberto a todas as convicções religiosas. Respeitamos isto”, revelou Galbrest.
Ele próprio tem se especializado no assunto, frequentando até feiras do setor. Indagado se não enxerga em Itapira condições ideais para um investimento neste filão, Galbrest disse que é preciso examinar com mais propriedade as características da cidade. Lembrou que o patrão, o ex-deputado federal e ex-prefeito de Mogi Guaçu e Mogi Mirim, Carlos Nelson Bueno, teve que investir uma bela soma para tornar o negócio atraente e precisou ter muita paciência. “O aprendizado, como qualquer outro ramo de atividade, ocorre no dia a dia. Foi uma aposta ousada na época, mas tenho plena convicção de que muito bem sucedida”, finalizou.
O Colina das Flores, em Mogi Guaçu, tem capacidade para até sete mil jazigos
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