Começa de forma oficial a partir de terça-feira, o prazo fixado pela Legislação Eleitoral para a veiculação da propaganda dos candidatos no rádio e na TV e, concomitantemente, a possibilidade da realização de reuniões públicas visando o convencimento do eleitorado na caça aos votos para a eleição do próximo dia 07 de outubro, cujo exemplo mais notório são os comícios.
Conforme sondagem feita pelo Jornal Cidade junto aos três candidatos a Prefeito, o expediente dos comícios tem peso estratégico dentro da campanha de cada um. Emídio Alberto Mendes (PDT) faz a estreia do recurso nesta terça-feira, dia 21, dirigindo-se aos moradores do Bairro Braz Cavenaghi. Ele considera que os comícios são fundamentais para manter um contato direto “e transparente” com o eleitorado. Mendes avalia que apesar do crescimento do uso de recursos eletrônicos “o eleitor quer ver e ouvir os candidatos ao vivo”. “Ao ingressarmos na fase dos comícios estamos na verdade atingindo o apogeu da campanha”, acrescentou.
Para o candidato da situação, o atual presidente da Câmara Manoel Alvário Marques Filho (PV) os comícios ainda tem poder de influenciar uma eleição. “Os comícios ainda são muito importantes porque formam a opinião do eleitor”, acredita. Marques considera que uma expressiva parte do eleitorado se deixa influenciar pelo que escuta nos comícios. “Em Itapira que tradicionalmente é uma cidade cuja população tem um nível bastante razoável de politização aquilo que circula nos palanques tem o poder de alterar humores e mudar o rumo da eleição”, reiterou. Ele contou que pretende a realização de no mínimo 12 e no máximo 16 comícios. “Já temos toda uma infraestrutura montada para a realização destes eventos”, avisou.
O candidato José Natalino Paganini (PSDB) disse que também está ansioso pela chegada dos comícios. Ao ser questionado se não está em desvantagem com relação aos dois concorrentes pelo fato deles terem uma maior rodagem em cima de palanques, Paganini garantiu que isso não lhe traz qualquer tipo de incômodo. “Não tem essa de querer inventar muita coisa. O Paganini do palanque será aquele mesmo que todos já conhecem, não tem porque mudar nada”, filosofa.
Paganini é outro que aprova a realização dos comícios desfiando uma série de argumentos a favor da manutenção deste costume durante o período eleitoral. “Eu próprio sou uma pessoa que sempre fui frequentador assíduo de comícios. A exemplo de mim, existem dezenas, talvez centenas de pessoas que tendo oportunidade não dispensam ouvir a mensagem que os candidatos tem a passar para o eleitorado. Em que pese toda as vantagens que os recursos eletrônicos possuem em massificar este tipo de mensagem, nada substitui os comícios em termos de espontaneidade , do olho no olho, quando não do registro de fatos pitorescos que geralmente acabam marcando uma eleição”, raciocinou.
Orador
O atual presidente da Assembléia Legislativa do Estado de São Paulo, deputado José Antonio Barros Munhoz é um exemplo bem acabado de uma pessoa que guarda recordações marcantes da realização de comícios em sua trajetória de mais de 30 anos como destacado homem público. Considerados até mesmo pelos mais ferrenhos adversários como um dos maiores oradores políticos de todo o Brasil, Munhoz acha que apesar do avanço dos recursos eletrônicos no universo das campanhas eleitorais, os comícios ainda possuem seu encanto. “Evidentemente que os comícios perderam um pouco daquela importância que já tiveram, mas ainda sim, são fundamentais para o planejamento de uma campanha política”, ensina.
Ele garante que seu pai, o saudoso ex-prefeito da cidade, Caetano Munhoz, foi derrotado numa eleição para a Prefeitura em 1947 pelo oponente Francisco Rocha por causa de um comício “monstruoso” realizado nas imediações de onde hoje fica a Igreja Matriz de Santo Antonio. “Foi algo marcante para mim. Um único comício foi capaz de atrair para o candidato adversário do meu pai um favoritismo que até então inexistia”, recorda.
Em sua trajetória política local, Munhoz garante que já realizou comícios com até 8 mil pessoas e costuma destacar que ainda recentemente, nas eleições municipais de 2008, quando sua esposa Ana Carmen disputou a Prefeitura, os comícios da reta final atraíram segundo seus cálculos pelo menos 3 mil participantes. Fez ainda menção à presença no final dos anos 1970 em Itapira do ex- Deputado Federal João Cunha, natural de Ribeirão Preto e hoje afastado da atividade política, a quem reputou como sendo “o maior orador” político que já conheceu. “Pessoas como o João Cunha tinham o condão de atrair milhares de pessoas para um comício, o que era um fato comum naquela época. É claro que hoje em dia com o avanço dos recursos eletrônicos, da proliferação de outras formas de comunicação, os comício parecem fadados a um plano secundário. Mas tenho comigo que ainda são estratégicos nas campanhas eleitorais, principalmente, em cidades de menor porte”, deduz.
Cientista Político fala em “desaparecimento”
O Professor, doutor Valeriano Mendes Ferreira Costa, do departamento de Ciências Políticas da Universidade Estadual de Campinas (UNICAMP), disse ao Jornal A Cidade que os comícios deverão dentro de mais alguns anos a caírem em desuso pela maioria dos candidatos. Ele avalia que o fenômeno da comunicação eletrônica e instantânea feriu de morte os comícios como eram concebidos antigamente. “Com o advento da propaganda eleitoral no rádio e na TV, os comícios foram se enfraquecendo. Tanto é que até o momento onde a Legislação Eleitoral permitia isso, para atrair assistentes os candidatos recorriam a expedientes como a contratação de cantores e pessoas famosas para animar os comícios. Como isso foi proibido, os políticos precisam usar de muita imaginação para continuar mantendo a tradicional formulação dos comícios que acabam por se tornar algo arriscado do ponto de vista estratégico já que se os candidatos não atraírem a presença de público este fato poderá ser explorado como sintoma de falta de prestígio”, raciocinou.
Apesar deste seu ceticismo com relação á validade deste tipo de expediente, acredita que em cidades de menor porte, onde os candidatos não se exibem na propaganda da TV, “os comícios ainda têm alguma função”. Segundo ele, a presença de “uma figura pública muito conhecida” em cima do palanque pode se tornar objeto da curiosidade das pessoas em geral. Destacou também que nos dias de hoje os comícios têm a condão de “estimular a militância” e ser instrumento valioso “na mobilização de cabos eleitorais”. “Sob este ponto de vista, de elevar o moral da militância, os comícios tem sim um valor estratégico que continua sendo bastante atual”, defendeu.