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Notícia
10/05/2015 | Comovente relato dos últimos momentos de uma autêntica super mãe

Este dia das mães será um pouco menos festivo para muitos itapirenses que tiveram o privilégio de conhecer de perto uma pessoa fantástica, que encarnou durante a maior parte de seus 80 anos de vida, como ninguém, o sacerdócio existente por detrás desta palavra tão sublimada: mãe. Leda Márcia Carneiro Baratella, faleceu nos primeiros minutos do último domingo, deixando um contundente exemplo de vida, de amor ao próximo.

Vitimada pelo Alzheimer há quase uma década e com complicações respiratórias, veio a falecer nos braços da filha Maria Aparecida Carneiro Baratella Brolezzi, uma das que tiveram o privilégio de poder estar permanentemente ao seu lado neste seu último estágio de vida. Registrados em seu nome, deixou 30 filhos, todos adotados. A estes se somam mais três filhos naturais - Maurício, Márcio e Eliana - criados todos eles de forma apaixonada por ela e o saudoso marido, Ordálio Baratella, falecido há cerca de dois anos.

Natural de Bragança Paulista, radicou-se em Itapira no começo da década de 70 graças ao acolhimento que a Fundação Espírita Américo Bairral prestou a ela e ‘dezenas de filhos’, designando um imóvel na então área rural do bairro dos Pinheiros, onde constituiu uma entidade filantrópica que ficou conhecida como o Lar Menina Roberta. Aquela passagem do Evangelho que fala da necessidade de fazer o bem sem dar publicidade (“... como fazem os hipócritas nas sinagogas e nas ruas, para serem louvados pelos homens. Em verdade eu vos digo: já receberam sua recompensa. Quando

deres esmola, que tua mão esquerda não saiba o que fez a direita. Assim, a tua esmola se fará em segredo; e teu Pai, que vê o escondido, recompensar-te-á.”) , Mateus VI 1 a 4) sempre se encaixou à perfeição para resumir o que foi a obra de dona Leda.

Apesar da magnitude de seu exemplo, um círculo restrito de pessoas da cidade sabia do que se tratava seu esforço de dar acolhimento a dezenas de crianças cujo futuro incerto, à mercê da pobreza e em alguns casos, até mesmo da violência, a motivaram em acolhê-los como seus filhos. Por isso mesmo nunca lhe foi negada a providência para que sua obra prosperasse e ela tivesse a felicidade de vê-los todos encaminhados na vida.

Na última quinta-feira três de seus filhos relataram como foram os últimos momentos dela: Aparecida, Carla e Daniel, o mais jovem deles. Aparecida, visivelmente ainda muito emocionada, resistiu num primeiro momento a falar sobre aqueles momentos. A mãe deu o último suspiro em seus braços. Na medida em que pertences da mãe eram removidos e recortes de jornal que contavam um pouco de sua saga eram retirados de envelopes, ela e os irmãos não se contiveram e de forma natural e espontânea se puseram a relatar fatos comoventes.

A conversa ocorreu no prédio de número 221 da Rua Allan Kardec, cedido para que sua obra fosse concluída ainda que enferma – pelo menos seis crianças ainda são acolhidas em nome do seu legado. “Na noite de sábado diversos familiares e alguns amigos foram chegando aos poucos. Os médicos que cuidavam dela haviam nos alertado de que seu estado era muito delicado.Cumprimos um ritual que vem sendo executado minuciosamente desde quando ela adoeceu. Demos banho nela, cuidamos de sua alimentação (especialmente elaborada e dada por meio de aparelhagem própria para doentes terminais). O mais simbólico desses momentos finais foi exatamente o amor exprimido por todas as pessoas que ali estavam ao seu redor. Sentíamos que ela captava este sentimento tão maravilhoso. Por detrás de seu corpo debilitado e fragilizado pulsava um espírito misericordioso, que se fortalecia com aquela demonstração de carinho. Ela que acolheu a tanta gente durante toda sua vida, se via ela própria acolhida pelo amor que ela mesma semeou. Jamais se sentiu abandonada”, relatava, segurando-as , a filha Aparecida.

Os filhos relembraram ainda que nestes momentos mais difíceis, jamais faltou acolhimento. “A ajuda vinha de todos os lugares”, informou Carla.

Daniel conta que havia uma junta médica informal que lhe deu assistência até o último minuto, ‘sem cobrar um centavo’. Lembrou ainda que pessoas de todas as origens, incluindo diversas autoridades constituídas, jamais negaram auxílio, qualquer que fosse a necessidade. Nestes poucos minutos de um comovente relato, as palavras solidariedade e caridade foram mencionadas diversas vezes. “Minha mãe jamais permitiu que houvesse dentro de casa tratamento especial a quem quer que fosse. Tínhamos tratamento igual, filhos adotivos ou não. Não admitia qualquer tipo de tratamento inadequado, exigia respeito entre todos. Se visse alguém necessitado passando pela rua, jamais deixava sem acolhimento. Por mais que a tarefa se aparentasse impossível, ela jamais desistia e conseguia dar o atendimento que imaginava”, prosseguiu Aparecida.

No último adeus, no domingo, somente três dos filhos não compareceram ao sepultamento, dois de São Paulo e uma de Mogi Das Cruzes, pois o contato foi dificultoso. “Ficaram sabendo depois, por redes sociais. Foi um baque para eles”, revelou Aparecida.

Apesar da fragilidade emocional, os filhos expressaram sua mais absoluta convicção de que dona Leda deixou a eles e aos irmãos um legado que jamais será apagado, da dedicação e do amor mais profundo ao semelhante, algo reservado somente àquelas pessoas mais elevadas espiritualmente e que fizeram de dona Leda, em vida, uma obra a marcar para sempre sua memória, o exemplo acabado do que um coração de mãe é capaz de conseguir, quando se ama de verdade.

 

“Falar de dona Leda é como falar de uma santa”, afirma Rocha Pereira

O atual vice-presidente do Conselho Diretor da Fundação Espírita Américo Bairral, o advogado José Eduardo da Rocha Pereira, 73, desde sempre se mostrou um admirador incondicional do trabalho exercido por dona Leda. A respeito do legado deixado por ela, resumiu: “Difícil até encontrar palavras para falar de dona Leda, pois é quase a mesma coisa do que falar de uma santa”.

A iniciativa de acolhê-la no começo da década de 70 em Itapira - Leda vivia com suas crianças numa estação de trem abandonada em Bragança Paulista - foi da direção do Bairral, que à época já tinha em Rocha Pereira um de seus principais expoentes. “Dona Leda já tinha registro de uma entidade de benemerência e um dos objetivos da Fundação é exatamente prestar assistência às entidades filantrópicas. Ao tomarmos conhecimento da grandiosidade de sua obra, foi decidido por lhe prestar um acolhimento à altura das necessidades da época” , recordou.

Ele estima que dona Leda chegou a Itapira com pelo menos 70 crianças. “Seu trabalho foi maravilhoso. Poucas pessoas no mundo poderiam realizar tamanha obra com o desprendimento que ela possuía . Qualquer outra pessoa que fosse pensar no tamanho das dificuldades para dar abrigo a tantas crianças, certamente desistiria na hora. Conheci pouquíssimas pessoas com a capacidade de se doar e de amar como dona Leda”, reforçou.

 

Rocha Pereira lembra ainda que seu trabalho acabou trazendo uma aproximação com o Poder Judiciário local, que recorria à expertise da falecida para intermediar a adoção de crianças por famílias locais. “É um fato que pouca gente se lembra, mas dona Leda intermediou a adoção de muitas crianças que acabaram recebendo um lar digno”, recordou. Este episódio, ainda segundo visão do dirigente da Fundação Bairral, acabou fazendo com que a própria benemérita não tivesse aumentado o número de crianças que assistia no Lar Menina Roberta. “Com o passar dos anos este número foi diminuindo até chegar o momento que os próprios filhos a ajudassem no encaminhamento de todos”, concluiu.

Fonte: Da Redação do PCI

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