Um encontro que foi agendado preliminarmente como uma “entrevista coletiva” com organismos de comunicação do município acabou se transformando numa espécie de audiência pública realizada no começo da tarde de sexta-feira no Salão Nobre da Santa Casa de Misericórdia de Itapira. Conforme apurou o Jornal A Cidade, funcionários da entidade ao tomarem ciência de que estaria no local o diretor-presidente da Cristália Produtos Químicos e Farmacêuticos Ltda (Laboratório Cristália) requisitaram da provedora Maria de Lourdes Levatti Piva autorização para acompanharem ao encontro. “A gente permitiu que os funcionários com cargo de chefia viessem”, disse a provedora. Ao todo cerca de 60 pessoas estavam no local, incluindo autoridades sindicais.
O próprio staff de Pacheco estranhou a movimentação. “Esperávamos somente os jornalistas”, confidenciou Lidia Andreatta, Gerente de Relações Institucionais & Comunicação da empresa. Foi neste ambiente cercado de curiosidade que ele cuidou de anunciar as medidas que espera resultar num processo de recuperação da Santa Casa com a adesão de pessoas influentes do município que irão compor uma Organização de Sociedade Civil de Interesse Público (Oscip) e a partir daí profissionalizar a gestão do Hospital. Disse que talvez já no início do próximo anosejam anunciados os nomes de 16 dirigentes que irão compor a Oscip , entre eles um presidente com “perfil de administrador sério e competente”.
Ele revelou que pelo menos 50 pessoas “de diferentes setores da sociedade” tiveram seus nomes avaliados para compor o quadro de colaboradores. Anunciou ainda que a Oscip vai homenagear a saudosa religiosa Irmã Angélica Maria, falecida em maio de 2001, quando arrancou aplausos das pessoas presentes.
Bastante à vontade, Pacheco chegou ao local por volta de 12h20 e imediatamente se instalou numa das cadeiras posicionadas junto à mesa principal, que abrigou também Lourdinha Piva, o médico Newton Santana( diretor-clínico) e a empresária Kátia Stevanatto, uma das acionistas do Laboratório Cristália.
Depois de cumprimentar o público presente, Pacheco imediatamente se pôs a falar a respeito das tratativas que resultaram na sua decisão de se empenhar pessoalmente na tentativa de devolver à Santa Casa condições ideais para continuar operando. De forma enfática, por mais de uma vez, durante seu pronunciamento o empresário disse que o quadro geral da instituição era de insolvência e que se nada fosse feito, muito provavelmente estaria fechando as portas antes do Natal.
Demonstrou desconforto com aquilo que segundo ele foi fruto de informações desencontradas e precipitadas divulgadas na imprensa local, dando conta de que ele iria assumir a direção da Santa Casa. “Convoquei a imprensa para informar corretamente tudo o que vem sendo discutido. Estamos gravando tudo o que está sendo dito aqui para que depois não seja nada distorcido”, colocou.
Depois informou às pessoas presentes que foi por intermédio do médico anestesista João Arnaldo Barizon que ficou sabendo “há alguns meses” dos sérios problemas da Santa Casa. Do ponto de vista pessoal acrescentou que não passava por sua cabeça assumir nada diretamente com relação ao comando da entidade, mas que depois de refletir sobre o assunto, imaginou formas de usar de seu raio de influência junto a amigos para “vender” a idéia de uma operação que apresentasse algo de concreto para tirar a situação pré-falimentar em que se encontra. “Precisamos mobilizar todas as forças vivas da cidade para recuperar a Santa Casa”, defendeu.
Mencionou que um estudo encomendado a uma empresa especializada no assunto detectou sérios problemas de balanço e que baseado nesta constatação intuiu que a primeira medida antes de qualquer iniciativa para convocar a comunidade local para oferecer sua ajuda seria a de promover mudanças radicais em sua forma de ser gerida, “não vamos pedir um tostão antes de mudar. Pedir ajuda sem oferecer algo em troca é impensável”, acrescentou. Os números que têm em mãos refletem a situação atual até o dia 26 de novembro e o empresário não dourou a pílula em nenhum momento. “A situação é caótica”.
Neste momento foi inquirido por uma funcionária sobre a questão do atraso do pagamento de novembro e do 13º salário. Solicitou um voto de confiança dos funcionários acrescentando que a situação dos salários será resolvida logo na segunda-feira e que o 13º salário será escalonado de uma forma que a entidade possa quitar este passivo de uma forma natural.
Receita
A partir daí Pacheco fez uso de seu temperamento empresarial falando sobre a necessidade de medidas que estaquem gastos e aumentem a receita “sem violência e arbitrariedade”, renegociar débitos com fornecedores e com bancos, e ”comprar à vista”. Revelou que somente com juros bancários o Hospital desembolsa cerca de R$ 100 mil mês.
Os débitos com urgência de serem sanados totalizam segundo ele cerca de R$ 3 milhões. Admitiu que recorreu ao Deputado Estadual José Antonio Barros Munhoz para que interviesse junto ao governo do Estado para que fosse canalizado parte deste montante, algo que se materializou como promessa depois das primeiras conversas neste sentido. Ele e Kátia Stevanatto irão prover os outros R$ 2 milhões dentro de um processo envolvendo garantias bancárias.
Com compromissos inadiáveis à sua espera, ainda concedeu uma entrevista para veículos eletrônicos, recebeu muitos cumprimentos e fez uma revelação de cunho pessoal: ele desde que chegou a Itapira no final dos anos 1960, clinicou na Santa Casa de 1967 até 1986, o que de certa forma denota uma profunda simpatia pela instituição, a qual, passa a integrar como um dos principais incentivadores, este processo de salvamento deste centenário e tradicional patrimônio da coletividade itapirense.
Carta Aberta: a Santa Casa de Itapira precisa de ajuda
Diante da grave situação em que se encontra hoje a Santa Casa de Itapira, um grupo de cidadãos locais se uniu para somar esforços e evitar que a instituição feche as portas. Para tanto, o grupo vem a público esclarecer e pedir o apoio da população de Itapira.
Nos últimos anos a Santa Casa de Itapira vem passando por dificuldades financeiras, que se agravam mês a mês.
Neste momento a Instituição possui uma dívida de mais de R$ 3 milhões, incluindo salários de médicos plantonistas e funcionários.
Um grupo formado por cidadãos da cidade analisou a situação e concluiu que além do aporte financeiro, o caminho para salvar a Santa Casa de Itapira passa pela criação deuma OSCIP - Organização da Sociedade Civil de Interesse Publico.
Empresários, médicos, funcionários da saúde, representantes do povo e demais segmentos da sociedade terão lugar nesta nova entidade, assim como responsabilidades e deveres. Todos poderão contribuir para que a Santa Casa de Itapira possa prestar o atendimento que a população Itapirense merece, inclusive voltando a atender pelo SUS.
Uma campanha de esclarecimento à população começa a tomar as ruas da cidade. Materiais explicativos serão distribuídos. Você vai poder participar de várias ações e atuar diretamente neste projeto.
Vale ressaltar que este grupo será representado por vários cidadãos locais, todos com as mesmas responsabilidades e comprometimento.
Um profissional experiente será contratado para administrar a Santa Casa de Itapira, sob a supervisão dos representantes da sociedade Itapirense que farão parte da OSCIP. Em breve você o conhecerá.
Será criado também um website para que todos possam tirar dúvidas, fazer perguntas e acompanhar passo a passo as ações que serão criadas e tomadas pelo grupo.
Aguarde mais detalhes e participe. Não deixe a Santa Casa de Itapira, que tantas vidas salvou fechar as portas. Ela faz parte da sua vida, da sua família. Não cruze os braços.
O QUE É OSCIP: A Lei 9.790/99 tem como principal objetivo proporcionar a criação de organizações com capacidade de gerar projetos, assumir responsabilidades, empreender iniciativas e mobilizar pessoas e recursos necessários ao desenvolvimento social do País. Nela estão incluídas organizações que se dedicam à prestação de serviços nas áreas de saúde, educação e assistência social, à defesa dos direitos de grupos específicos da população, ao trabalho voluntário, à proteção ao meio ambiente, à concessão de microcrédito, dentre outras.
Encontro na terça pavimentou caminho para mudanças
Cerca de 60 pessoas, a grande maioria pertencentes à Irmandade da Santa Casa, se reuniram na terça-feira para deliberar sobre mudanças necessárias que permitam que um grupo organizado possa participar das decisões sobre o gerenciamento do Hospital. Marcado inicialmente para às 19h30, o encontro foi presidido pelo ex-vereador Emídio Alberto Mendes.
Num clima de bastante cooperação, contrariando expectativas de que poderia haver resistências maiores por parte de pessoas contrárias ao processo de abertura, as pessoas presentes deliberaram rapidamente pela alteração de dois artigos do Estatuto da Irmandade, concedendo autorização para as mudanças pretendidas. “Acho que toda a irmandade estava imbuída de um único pensamento, o de procurar formas para que a instituição sobreviva às enormes dificuldades em que se encontra”, disse Mendes.
Sindicato
No mesmo horário na rua da Penha, pouco mais de 20 funcionários compareceram a uma assembléia realizada no Sinsaude. Havia um claro clima de apreensão dos funcionários pelo atraso no pagamento do salário de novembro e pela falta de pagamento do13° salário. Ademir Nani, presidente local, disse que devido ao baixo comparecimento e à informação de que existia uma operação para salvar a instituição, foi decidido esperar pelos desdobramentos destas tratativas antes de se tomar qualquer medida oficial.
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.