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Itapira, 25 de Novembro de 2024
Notícia
20/01/2013 | Diário de las alturas: chegar em La Paz é incrível.

Depois daquela correria de sempre no trabalho, em meio a relatórios, desenhos e reuniões pra tentar deixar as coisas em ordem para o próximo ano, era hora de arrumar as malas e partir mais uma vez para a cidade de La Paz, Bolívia. Desta vez ainda não havia decidido onde seriam as escaladas, mas confesso que isso não me preocupava. Após 5 anos praticando este esporte magnífico me sinto mais tranqüilo e confiante para fazer coisas que a 4 anos atrás achava um absurdo. Com a mala fechada nas últimas horas, peguei meu guia das montanhas da Bolívia, livrinho que levo pra todos os lados, que descreve bem as vias de escalada de todas as montanhas da Bolívia, e fui para o aeroporto.

Chegar em La Paz é incrível! A vista da cordilheira real do avião é admirável. Para quem escala, então... que sensação maravilhosa! O avião passa muito próximo ao Illimani... sempre que a vejo me dá uma coceira de escalar esta montanha novamente.

La Paz é uma cidade muito diferente, principalmente pela sua geografia. Foi construída num buraco gigante, uma grande erosão, que se inicia aproximadamente na cota 4000 m, onde está localizado o aeroporto (cidade vizinha de El Alto). De lá até a cidade, você desce, desce, desce... até a cota 3600 m onde está o centro da cidade. Mas não para por aí não. É possível descer ainda mais, até a cota 3200 m na parte sul da cidade. Toda vez que faço este trajeto de 800 m de desnível, dentro da mesma cidade, fico impressionado com a geografia unida desta região. Para quem não tem muita noção, é como descer de São Paulo até Santos percorrendo pouquíssimos quilômetros.

O tempo estava bom, até parecia inverno. Entretanto, o Illimani (a montanha que é possível da cidade) estava muito branco. Isto não é um bom sinal, pelo menos para quem quer escalar, pois estava nevando muito nas montanhas. Na manhã do dia seguinte poucas nuvens, que logo aumentaram e ficaram com cara de que iria chover. Nos dias seguintes choveu muito na cidade e nevou muito nas montanhas. A partir deste momento, sabia que o único lugar que talvez tivesse alguma condição de ser escalado, seria na região do vulcão Sajama, na divisa com o Chile, onde o tempo é um pouco mais estável. Desta forma, vi se concretizando um sonho antigo de tentar escalar o vulcão Parinacota. Este, juntamente com o vulcão Pomerape,  são chamados de “Payachatas”, que quer dizer montanhas gêmeas.

Após alguns dias com meu pai e família nos arredores de La Paz, aproveitando as grandes altitudes da região para aclimatar da melhor forma possível, passeando... rs... era hora de arrumar as malas para ir em destino do Parque Nacional do Sajama.

Na manhã do dia 02 de janeiro de 2013 deixamos La Paz. No meio caminho de La Paz para a divisa com o Chile, já é possível ver o vulcão Sajama emergindo da paisagem plana a quilômetros de distância. À medida que íamos nos aproximando, ao fundo começaram a aparecer as “Payachatas”... todos branquinhos! Nesta altura já estava ansioso para saber como estava o tempo e se tentaríamos o ataque no dia seguinte.

Com o céu coberto por nuvens, ao chegar no Parque Nacional do Sajama, tivemos a primeira boa surpresa... um por do sol inexplicável, muito colorido, com o sol refletindo nas nuvens e no próprio vulcão Sajama... lindo... inspirador!

Comemos algo e fomos correr atrás de como chegaríamos aos pés do vulcão Parinacota. Aí começou a aventura. A cidade seguia em festa, desde o ano novo, e não encontramos transporte 4x4 para não termos que caminhar muito antes de começar a escalar. Então decidimos ir de carro até onde fosse possível e de lá... pernas, pra te que quero!

Arrumei as coisas para o dia seguinte e fui dormir. À 1:30h da manhã tomamos um café e saímos em direção do vulcão. Após o carro atolar em areia fofa 2 vezes , finalmente chegamos no local mais próximo que conseguimos, onde normalmente se faz um acampamento base, à aproximadamente 4800 m de altitude. Por volta das 4h da manhã iniciamos a caminhada, que duraria umas 2 horas de 30 minutos até o ponto onde começaríamos a efetivamente escalar.

Colocamos os “crampons” e comemos algo rápido. Estava bem psicologicamente, por que não tentar mais um solo? Respirei, olhei para cima e decidi que não nos “encordaríamos”. O “encordamento” é o procedimento de segurança da escalada, onde os escaladores estão “amarrados”, um ao outro.

Pela manhã o tempo estava ótimo, um pouco de frio juntamente com um pouco de vento, nada preocupante.

Subimos, subimos, subimos... e subimos... parecia não haver fim esta montanha. O tempo começou a fechar, o cansaço e a fome a bater... e ainda estávamos longe.

Faltando uns 200 m para o cume o vento era muito forte, somado ao fato de haver muita neve sobre o gelo, o desgaste físico e mental era enorme... o que me fez pensar em  desistir deste cume. Dávamos alguns passos em gelo bom e outros afundávamos até a cintura em neve fofa. Extremamente desgastantes. Em alguns momentos parava e respirava fundo, pois estava com o batimento cardíaco bem acelerado e respiração ofegante.

Não sei de onde tirei energia para os últimos metros. Aproximadamente as 14:30h finalmente cheguei ao cume. Fazer este cume foi incrível!!! Tecnicamente, a montanha mais fácil que já fiz. Entretanto, foi uma das escaladas que mais me consumiram fisicamente e mentalmente. Foi um ataque de praticamente 1500 m de desnível. Ver lá de cima a cratera gigante deste lindo vulcão extinto valeu todo o esforço.

Aproveitei para descansar, comer algo e curtir a paisagem. E que paisagem... de um lado o vulcão gêmeo Pomerape, com o vulcão Sajama lá ao fundo. Do outro, os vulcões do Chile. Entre as montanhas, o lindo altiplano...

Agora viria a parte mais difícil... descer tudo aquilo exausto! Vinte minutos depois, iniciamos a descida... por volta das 17h chegamos no carro. Estava muito feliz, por ter me superado em mais um desafio. E como isto vicia!

Voltamos ao vilarejo Sajama onde passamos a noite. Dia seguinte pela manhã, após um café reforçadíssimo, fui curtir uma piscina natural de água vulcânica pra relaxar.

De volta a La Paz no mesmo dia e dois dias depois para o Brasil.

Forte abraço e que venham as próximas montanhas.

 

 

 

Fonte: Da Redação do PCI

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3 comentários
23/01/2013 16:01:05 | Nelma Cristina
Lendo seu artigo é como se estivesse escalando com você. tem que ter muita coragem. valeu rudazinho!
21/01/2013 15:01:49 | Solange Actum
Parabéns por mais essa conquista rudá! lindas fotos. ficam ainda mais bonitas, por conta da emoção da narrativa... fraterno abraço,
20/01/2013 19:01:34 | Thiago Forteza
Rudá, muito legal seu relato. não sabia que na bolívia tinha tanta beleza natural.
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