Eleutério, assim como os demais bairros rurais de Itapira, guarda quase inalterado o gostinho que Itapira oferecia aos itapirenses na primeira metade do século passado: uma comunidade tranqüila, onde todos se conhecem. Lugar onde o tempo parece maior e as relações pessoais são animadas e amigáveis. Para quem analisa Eleutério com olhar mais aprofundado percebe que a vila incorporou a tecnologia, a parte boa do mundo urbano moderno, mas não perdeu a graça e a delicadeza dos pequenos lugarejos.
Mas como diz o velho pensamento popular: “até a paciência tem limite”. Em Eleutério ela se esgotou faz tempo.
.jpg)
O pequeno córrego que passa pelo povoado foi transpassado por duas passagens sobre tubos que não comportam grande volume de água. O resultado é que basta o tempo se fechar, para que o bairro inteiro entre em pânico. Apesar do número de casas afetadas pela enchente não envolver todos os moradores, lá mexeu com um, mexeu com todos. O bairro se recente e fica atento para prestar socorro, diante da necessidade.
A solução é construir duas pontes no lugar das passagens. Uma promessa que se arrasta há quatro anos. Uma antiga moradora resumiu o sentimento: “nós nos sentimos esquecidos nesse mundo de Deus.”
Em setembro do ano passado foi assinado o convênio que possibilitava a construção das duas pontes com recursos da Defesa Civil do Estado que entrava com R$ 161 mil e o município com R$ 41 mil para cada ponte. A idéia, em setembro, era agilizar a construção para que a população de Eleutério respirasse aliviada no período das chuvas desse ano.
Estamos em janeiro, em plena temporada de chuvas, sem que nada tivesse sido feito até agora. O povo de Eleutério não consegue entender os motivos de tanta enrolação.
A verba do Estado foi conseguida por intermédio do deputado Barros Munhoz, que alega que após a assinatura do convênio caberia à Prefeitura a condução do processo burocrático, passando todas as informações solicitadas. Segundo Carlinhos Sartori foi um show de incompetência: “até o nome das ruas foram informados erradamente. Se a prefeitura tivesse feito a parte dela, sem erros, os moradores de Eleutério não estariam mais sofrendo.”
Quando o assunto chega à Prefeitura, a explicação dada pelo presidente da comissão de licitação da Prefeitura, o advogado Thiago Matiolli Kleinfelder, conforme matéria do jornal Tribuna de Itapira, é que a publicação dos dois editais para a construção das pontes não atraíram interessados. Para Thiago: “o motivo da concorrência não ter sido bem sucedida se deve ao fato de que na região não existem empresas com este tipo de especialização (construção de pontes).”
O engenheiro Luiz Fernando Godoy de Souza, da Secretaria de Planejamento, disse que na opinião dele preponderou a defasagem dos custos levantados na planilha do projeto. Segundo Luiz Fernando o custo inicial que era de R$ 207 mil chegou aos R$ 266 mi. “A prefeitura, que entraria com cerca de R$40 mil, vai desembolsar R$100 mil com a atualização de valores”, explicou.
Ao ser questionada sobre o assunto a assessoria do deputado esclareceu que diante do fato de não haver interessados, já no final de dezembro, Barros Munhoz intercedeu junto ao coordenador da Defesa Civil para a atualização das planilhas.
Ainda, segundo a assessoria de Munhoz, o coronel Admir Gervásio Moreira atendeu com prioridade o pedido do deputado, sendo que no dia 28 de dezembro a prefeitura foi oficializada pela Defesa Civil do Estado a apresentar a documentação necessária para o andamento do processo.
De fato, na semana passada, um representante da Defesa Civil Estadual, identificado como sargento Bortoloto, esteve em Eleutério conferindo os novos dados contidos na documentação das pontes. O servidor municipal, Sr. Pedro Bagini Filho, o Bujija, comentou que o representante percebeu que a população local se mostrava cética em relação à visita dele. Bujija, disse ainda, que o representante manifestou-se constrangido pelo fato da obra não ter saído do papel. “Ele (o sargento Bortoloto) disse que iria cobrar maior agilidade dos departamentos envolvidos, considerando injustificável os entraves burocráticos que se arrastaram por mais de um ano. Não interessa onde foi o erro. Tem que resolver”, completou.
Enquanto isso, o povo de Eleutério aguarda, já sem esperanças, pela solução. Um senhor correu em sua casa, uma das que são alagadas quando o córrego enche e mostrou todos os recortes de jornais que falam do problema das pontes de Eleutério. Emocionado acabou dizendo: “não sei o que está acontecendo, até parece que o prefeito não gosta da gente, ele nunca nos recebe. O máximo que a gente consegue é falar com o vice-prefeito Martins.”
Um dos moradores das casas que sofrem com o avanço das águas nos tempos de chuva tem 104 anos. Quando começa chover forte, a primeira preocupação dos vizinhos é retirar o ancião e colocá-lo num local seguro. “Só depois de cuidarmos da segurança dele é que vamos nos ocupar com os outros pertences das casas”, disse um parente do cidadão centenário.
Moradores tentam se proteger como pode. Esse colocou uma madeira para impedir a entrada de água na sua casa.
A reportagem quis saber dos moradores sobre o problema do Expresso Gardênia que estava ameaçando não passar mais na vila de Eleutério: “Graças a Deus esse problema foi resolvido. Eles voltaram atrás. Mas também pudera desde que eu me conheço por gente o Gardênia passa por aqui. Por que agora seria diferente. Só se fosse para punir o nosso povo!”
Quando a reportagem do Portal Cidade de Itapira se preparava para encerrar a matéria, uma jovem se aproximou e perguntou se ela poderia fazer uma denúncia. Autorizada, muito nervosa esclareceu: “moro uns quilômetros daqui. Para ir para a minha casa eu pego uma estrada que está sendo usada pelas pessoas para descarregar lixo e entulho. Vocês precisam ver a judiação que está aquilo.”
A reportagem do PCI imediatamente se prontificou a ir até o local. Ela com a bicicleta à frente ensinava o caminho. Ao ser questionada sobre quem é que levava lixo para aquele local, disse: “tem gente de Eleutério, mas tem da cidade e de outros municípios. Até caminhão da prefeitura de Itapira eu já vi descarregando aqui. Olha que bonito é esse lugar. Pode fazer isso com a gente?”
As imagens falam por si:
Carregando aguarde...
Itapira, 18 de Janeiro de 2025
14/01/2012 | Eleutério: um povo quase esquecido.
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.
0 °C
0 °C