Era bola cantada. O ensaio geral para uma greve de motoristas e cobradores no começo deste mês foi a senha para que a atual administração municipal atendesse aos reclamos da direção da Viação Itajaí e anunciasse a segunda majoração da tarifa do circular neste ano.
Em janeiro os valores já havia sido alterados após um longo período sem reajuste por causa dos protestos que sacudiram o país em junho de 2013, cujo estopim foi o aumento da tarifa de ônibus em São Paulo. Para não criar uma situação onde a empresa ficasse sem condições operacionais, o prefeito José Natalino Paganini (PSDB) acabou encontrando na concessão de um subsídioescalonado, autorizado pela Câmara Municipal, com uma prestação de R$ 20 mil e outras três de R$ 25 mil, de setembro a dezembro de 2014. Antes desta decisão a empresa já havia enfrentando ameaça de paralisação dos motoristas e cobradores.
Agora a situação se repetiu na primeira quinzena de julho, quando os serviços chegaram a ser paralisados de forma parcial por algumas horas. A empresa negociou com o sindicato da categoria e evitou que o movimento se fortalecesse, mas deixou um recado implícito de que diante do aumento de custos generalizados como combustível e mão de obra, principalmente, não iria conseguir operar com o valor cobrado até sexta-feira,31/7 .
A partir de sábado,1/8, o aumento na catraca será de quase 6,5 %, passando de R$ 3,10 para R$ 3,30. A majoração atingiu também quem faz compra antecipada, a chamada bilhetagem eletrônica, passando de R$ 2,90 para R$ 3,20.
O aumento já vem sendo comunicado aos usuários que não gostaram da novidade. A diarista Cecília Martorato, que mora na Penha Rio do Peixe, disse que utiliza em média dois ônibus para ir de casa até os locais onde trabalha. “Tá uma coisa de doido. Tudo sobe. Se eu falar que vou subir o valor de meu serviço, corro o risco de ficar sem ele”, assustou-se.
O vigia Fernando Carlos de Lima, 27, morador nos Prados também reclamou. Segundo ele, o patrão paga parte dos custos via Vale Transporte, mas teme que na atual conjuntura o aumento possa ser mais uma gota a pesar nas contas da empresa. “As empresas estão enxugando gastos e aquelas que ajudam seus funcionários com o Vale Transporte certamente vão sentir o aumento no final do mês. É uma situação que de certa forma complica as coisas neste momento”, avaliou.
Mais reclamações
Aqueles que dependem diariamente do transporte público urbano estão inconformados com o aumento da tarifa. A doméstica Celma Aparecida Lopes, moradora do bairro Jardim Galego, tece duras críticas ao serviço e diz não entender o por quê do valor tão alto. “Como cidadã que depende do circular todo dia, fico indignada pelo custo. Se ele passasse no horário certo e estivesse funcionando tudo certinho tudo bem, mas a realidade não é essa”, reclama.
Ela utiliza a linha Figueiredo duas vezes ao dia e relata que o coletivo atrasa sempre e, quando quebra, não é reposto e as pessoas ficam esperando por horas no ponto. “Hoje mesmo (quarta-feira), o ônibus das 7h20 não passou porque quebrou no Istor Luppi e não colocaram outro no lugar. Em outros casos, vêm motoristas despreparados, que nem conhecem o trajeto e acaba nos atrasando mais ainda. O elevador do cadeirante também não funciona, nem a campainha. Além disso há ferros soltos e bancos rasgados e na linha da manhã não tem cobrador”, aponta.
Outro ponto criticado por ela diz respeito à mudança da linha. Conforme menciona, antigamente cada bairro tinha seu próprio circular, mas agora o que ela utiliza vai até o bairro Istor Luppi e acaba demorando muito. Soma-se a isso o fato do último horário de trânsito do veículo ser às 22h, dificultando a vida de quem precisa dele para ir para casa no fim da noite. “Quem estuda ou chega de viagem tarde fica sem circular. Quando mudaram as linhas dos bairros fizemos até abaixo-assinado, mas de nada adiantou. Não temos para onde correr”, lamenta.
A Viação Itajaí foi acionada na manhã de ontem para explicar os motivos das reclamações da usuária. Porém, um dos representantes do Expresso Gardênia, empresa que administra a Itajaí, Marcilio Alves, explicou por email que estava viajando e só poderia responder os questionamentos na segunda-feira.