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17/04/2011 | Em livro, o elogio da colaboração

O americano Clay Shirky é um dos grandes pensadores contemporâneos da internet. Defensor ferrenho da colaboração on-line, o professor da Universidade de Nova York aposta no poder de transformação do esforço coletivo na web. Este é o assunto de seu último livro, A Cultura da Participação (Editora Zahar, tradução de Celia Portocarrerro, 210 páginas, R$ 39,90), que acaba de ser lançado no Brasil.
 
Na obra, Shirky discute os efeitos de um fenômeno que considera inexorável: a substituição gradual da televisão pela internet como espaço tecnológico que está no centro da vida das pessoas. Ao trocar a TV pelo computador, diz Shirky, o usuário sai da sua posição confortável de espectador passivo para o papel de colaborador – alguém que usa uma rede comum para construir conhecimento através do compartilhamento de textos, imagens, códigos computacionais, vídeos.

Segundo Shirky, os americanos passam atualmente 1 trilhão de horas por ano na frente da televisão. Com a ajuda de Martin Wattenberg, um pesquisador da IBM, ele calcula que a Wikipédia, talvez a mais conhecida e bem sucedida rede de colaboração da internet, acumula algo em torno de 100 milhões de horas de trabalho de seus colaboradores. A ideia implícita é de que um mundo em que esses números se invertessem seria mais engajado civicamente. “Participar é agir como se sua presença importasse, como se, quando você vê ou ouve algo, sua resposta fizesse parte do evento”.
 
Prazer - Shirky compila um bom número de exemplos de colaboração na internet. Entusiasma-se com a Wikipédia, é claro, mas também com o site de carona solidária PickupPal.com, hoje presente em mais de 107 países, e com o site da banda sul-coreana Dong Bang Shin Ki, cujos fãs organizaram um bem sucedido protesto contra o desbloqueio da importação da carne bovina americana, proibida desde o surto da doença da vaca louca. “Vivemos pela primeira vez na história em um mundo no qual ser parte de um grupo globalmente interconectado é a situação normal da maioria dos cidadãos.”
 
O coração do livro de Shirky está no capítulo 3, “Motivo”. Nele, o teórico procura explicar por que as pessoas se empenham em atividades colaborativas gratuitas na internet. Para o professor, a recompensa financeira é desnecessária quando o usuário desempenha um papel que lhe dá prazer. O prazer, neste caso, fala mais alto.
 
Segundo Shirky, até mesmo os frutos mais tolos da cultura colaborativa – como o viral chamado LOLcat, com piadinhas feitas a partir de fotos de gatos – são positivos. “O ato criativo mais estúpido possível ainda é um ato criativo”, defende ele. “Até nas profundidades estipuladas da imbecilidade, há maneiras de fazer um LOLcat errado, o que significa que há maneiras de fazê-lo certo, o que quer dizer que há alguma medida de qualidade, mesmo que limitada. Por menos que o mundo precise do próximo LOLcat, a mensagem Você também pode brincar disto é algo diferente do que estávamos acostumados a fazer no panorama da mídia”, argumenta o escritor.
 
O problema do livro de Shirky é que ele simplesmente ignora os frutos realmente podres da colaboração on-line, como as redes organizadas que incentivam o terrorismo e o preconceito. No já mencionado capítulo 3 de seu livro, ele escreve: “As pessoas querem fazer algo para transformar o mundo em um lugar melhor. Ajudam, quando convidadas a fazê-lo.” Essa é, no mínimo, uma maneira ingênua de ver o mundo. Podemos chamá-lo de Pollyana?
 
O diagnóstico de A Cultura da Colaboração é útil. E Shirky não está sozinho ao identificar uma mudança profunda em andamento.  “Não vivemos na era da informação. Estamos na era da colaboração. A era da inteligência conectada”, afirmou o pesquisador Dan Tapscott em entrevista a VEJA da semana passada. Mas a maneira como Shirky ignora os efeitos potencialmente nocivos da transformação – que está apenas começando, e cujo futuro não se pode prever com segurança – reduz o valor de sua análise. Uma dose de ceticismo se encontra em autores como Jaron Lanier e Sherry Turkle, que tratam dos mesmos assuntos. E ela vem a calhar.
 


(Renata Honorato)

Fonte: Veja On Line

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