Sem alarde e sem despertar a curiosidade das pessoas, os irmãos Daniel Crosso Dalmon, 33, e Luiz Crosso Dalmon, 30, colhem os resultados de uma iniciativa empresarial cujo principal componente é uma aposta na popularização de produtos recicláveis que aos poucos vai ganhando espaço entre consumidores do mundo todo. Os produtos fabricados pela Recipolpa, empresa estabelecida na Rua Vitório Boretti, Jardim Itapuã, não são voltados para um tipo de consumidor final, mas para outras indústrias e prestadoras de serviços que necessitam embalar e acondicionar seus produtos de uma forma segura.
A partir de jornais velhos e papelão (uma parte menor) a empresa fabrica uma relação estimada em mais de 20 artigos que atualmente são substitutos para uma ampla variedade de produtos que utilizavam o isopor como matéria prima, tais como ponteiras para embalagem de pára-choques automotivos, embalagem de fechaduras, maçanetas, relógios de ponto e algumas inusitadas, como o apoio para a cabeça de pessoa levada a óbito quando ela é depositada em uma urna funerária, até microformas utilizadas por usinas de açúcar e álcool para depositar ovos de insetos produzidos em laboratório para combater pragas comuns em canaviais. “ Neste caso das forminhas, o material mais comumente utilizado é o plástico. Um cliente de Piracicaba nos encomendou uma solução utilizando nossa matéria prima, porque o plástico leva milhares de anos para se decompor na natureza, ao passo que o nosso produto é totalmente biodegradável”, contou Daniel.
Descartado nas calçadas por consumidores de geladeiras, aparelhos de TV e outros eletrodomésticos, Daniel afirma que a tendência é no sentido de que as empresas fabricantes sejam cada vez mais pressionadas a substituir o isopor por material biodegradável.
No caso específico da Recipolpa, explica que para se adequar a fabricação de um produto que atendesse este tipo de especificação, teria que reformular sua empresa do zero, algo que segundo ele exigiria um investimento monstruoso. Citou ainda o exemplo das bandejas de ovos, que é um produto que dá maior visibilidade a este tipo de artigo, não fabricada por ele porque exigiria um equipamento e instalações mais adequadas. “No meu caso não compensaria investir em algo que já é fabricado por empresas de grande porte, cujo custo operacional por cada unidade fabricada é irrisório se comparado aos meus custos”, deduziu.
Padrão
Os dois irmãos dividem atribuições dentro da sociedade. Luiz, por exemplo, se dedica ao desenvolvimento dos moldes que irão gerar as peças fabricadas, um dos segredos do negócio. “ Quando uma pessoa interessada num determinado produto nos procura, fazemos uma análise criteriosa com direito a muitos ensaios até obtermos um produto com o padrão de qualidade desejado, desenvolvendo uma nova embalagem”, explica.
Para dar conta da produção a empresa consome até sete toneladas de papel jornal e papelão por mês. Recentemente a empresa celebrou uma parceria com a Ascorsi (Associação dos Coletores de Resíduos Sólidos de Itapira). Daniel explica que o recebimento de sua matéria prima tem que obedecer a um severo controle de qualidade. “Não posso correr o risco de receber produto que contenha detritos . Se por exemplo, uma pedaço de estopa estiver junto e for para dentro do equipamento que gera minha matéria prima, certamente irá danificá-lo, comprometendo a produção”, esclareceu.
O negócio, segundo ele e o irmão, nasceu quase que por acaso. No local, o patriarca, Luis Dalmon, teve há cerca de duas décadas, uma promissora indústria de brindes voltados, principalmente, para campanhas eleitorais, cujo produto mais conhecido era um chapéu feito com a matéria prima obtida no processo de obtenção da polpa feito a base de jornal e papelão. Como a Justiça Eleitoral proibiu a distribuição deste tipo de brinde, o pai decidiu encerrar as atividades. Os filhos, no entanto, intuíram que o negócio poderia dar certo se focalizasse outras necessidades.
O primeiro cliente foi uma empresa funerária de outra localidade que solicitou estudo para a criação do calço para colocar a pessoa falecida dentro da urna funerária. Como o produto acabou tendo ótima aceitação, os irmãos foram a luta, atraindo novos interessados. A empresa emprega sobretudo pessoas atraídas pela primeiro emprego, segundo os proprietários