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31/08/2011 | Entrevista: Kathryn Schulz autora do livro “Por que Erramos"

Kathryn Schulz autora do livro “Por que Erramos - O Lado Positivo de Assumir o Erro” publicado pela Larousse, em entrevista ao Folha.com explica por que todo mundo erra e ninguém assume. Acompanhe a entrevista. O livro é leitura recomendada.

GUILHERME GENESTRETI
DE SÃO PAULO

Errar é natural, acertar é raro. Apesar disso, tratamos nossas escorregadas como exceções, diz Kathryn Schulz, autora de "Por que Erramos?", publicado neste ano aqui e um dos melhores livros de 2010, segundo a revista "Publishers Weekly".

Schulz mostra que humano, mesmo, é não assumir o erro --gesto mais nefasto do que o erro em si. "Pagamos um preço alto pela inabilidade em lidar com as falhas."

Folha - Por que é tão difícil admitir um erro?

Kathryn Schulz - Porque acreditamos que estar errado é ser inferior. E porque, para admitir, precisamos perceber o erro. Se você se apega a uma crença, é difícil ver a evidência contrária e reconhecer que está equivocado. Se é capaz de reconhecer o erro, o próximo passo é admiti-lo publicamente, o que envolve outras apostas: serei humilhado, as pessoas aceitarão o erro, terei de pagar por isso?
Por razões culturais, associamos erro a estupidez, irresponsabilidade, preguiça ou falta de esforço. Nos sentimos idiotas quando erramos.

Algumas culturas lidam melhor com o erro?

A cultura ocidental tem uma relação ambígua com isso: somos intolerantes com os erros dos políticos, mas temos tolerância maior do que o Japão, por exemplo, para erros cometidos por alunos.

Por que erramos?

Em primeiro lugar, porque acreditamos muito nos nossos sentidos. E eles falham. Algumas informações parecem evidentes, mas são falsas. É o caso das ilusões de óptica [veja abaixo] e da cegueira automática --ficamos com a atenção tão focada em um objeto que não prestamos atenção ao redor.
A mente aplica truques. Nossa memória falha e acreditamos nela, achando que a mente reflete o mundo como ele é. Também erramos porque erguemos crenças influenciados pelos outros. Somos ludibriados involuntariamente por família, comunidade. Tiramos conclusões com base em um conjunto confuso de informações.

Como aproveitar um erro?

Aprendemos mais com os erros do que com os acertos. É bom acertar, ótimo para o ego, nossa sobrevivência depende de conclusões corretas sobre o mundo. Mas estar certo não é um processo de aprendizado, é um processo de reforço. Você não registra muita informação em estar certo a respeito de algo. Já quando percebe que está errado é forçado a recuar e a reconstruir a ordem dos fatos, o que te permite aprender.

E por que nos sentimos tão bem com os erros dos outros?

Somos sádicos. Ficamos aliviados com o fato de que é o outro. Algo como: "Ufa, poderia ter sido eu, mas foi você". É uma forma de reforçar nosso ego, de nos protegermos da dor de estar errado.

No livro, você diz que a atitude diante do erro pode ser pior do que o erro em si. Por quê?

A maioria dos erros não é catastrófica, não afeta de maneira grave as relações. Errar um caminho, uma estrada certa, por exemplo, pode ser irritante, mas pior é alguém ficar insistindo que está certo para não admitir o erro. Começa uma briga ridícula por competição. O que acaba com uma relação é a insistência de um em provar que está certo, não o erro em si.

Tudo pode ser perdoado?

Se algo é mesmo um erro, a pessoa deve ser perdoada. Mas há situações em que há negligência. É o caso de quem não fez seu trabalho direito ou cometeu fraude ou teve intenção de prejudicar outra pessoa. Se um erro sem intenção lesou alguém, precisa haver perdão. Negligência é outra coisa.

Mas alguns erros são fatais...

Não dá para acabar com os erros. Podemos estar errados até sobre o que é o certo e não conseguir distingui-lo do que é estar errado. E se colocarmos a culpa em indivíduos não chegamos a lugar algum.
Vamos dizer que há uma enfermeira que dá a medicação errada a um paciente. É terrível, faz sentido que as pessoas culpem a enfermeira. Mas a pergunta é: por que ela cometeu o erro? Se ela não estava drogada nem pretendia matar, você tem que analisar outras evidências. Talvez a medicação fosse quase idêntica à certa. E se ela só tinha 30 minutos para cuidar de 30 pacientes? A solução é resolver a questão no nível do sistema. Culpar indivíduos nunca vai resolver. É impossível contratar a enfermeira perfeita, mas é possível aperfeiçoar o sistema para que os erros, que são inevitáveis, não causem um mal.

Fonte: Da Redação do PCI

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