Patrícia Jungbluth, pesquisadora e pós-doutoranda do Instituto de Biociências da Unesp, Câmpus de Botucatu, encontrou no litoral paulista uma nova espécie de líquen (ser vivo resultante de simbiose entre um fungo e cianobactérias). A identificação da espécie, batizada de Pyxine jolyana, ocorreu em três municípios de São Paulo (Peruíbe, Ubatuba e São Luís do Paraitinga).
A descoberta foi feita durante seu doutorado no Instituto de Botânica da Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo, sob a orientação do professor Marcelo Marcelli, coautor da descoberta. Uma das principais características do fungo é a presença de ácido norstíctico, substância química rara em espécies desse gênero na América do Sul e encontrada no talo do líquen.
Apenas uma espécie contendo o ácido, a Pyxine retirugella Nylander, havia sido encontrada no Brasil, em 1890, pelo liquenólogo finlandês Edvard August Vainio. Essa espécie foi identificada pela primeira vez em 1859 nas Ilhas Marquesas (Polinésia) pelo botânico finlandês Wilhelm Nylander.
Para Patrícia, a descoberta da Pyxine jolyana é importante porque se sabe muito pouco sobre os líquens existentes nos ecossistemas brasileiros. "Eles são pouco mencionados e raramente estudados em aulas práticas", diz.
Risco de extinção
Os líquens são usados e até mesmo exportados como adornos junto a musgos em arranjos florais. A cientista alerta que esse fato pode levar algumas espécies ainda desconhecidas à extinção, pois a micota liquênica cresce de forma lenta, na ordem de milímetros ao ano.
Os liquens também são utilizados para a fixação do aroma em perfumes e na área de biotecnologia e farmacologia, para a produção de substâncias antibióticas e anticancerígenas. Além disso, são úteis como bioindicadores da qualidade do ar, mas essa característica também é pouco estudada no Brasil.
Já foram descritas cerca de 60 espécies do gênero Pyxine em todo o mundo, sendo mais de 30 encontradas no Brasil. O desconhecimento e a falta de interesse em liquenologia no país, e provavelmente na América Latina, é relativamente grande. Os liquenólogos brasileiros descobrem novas espécies a cada ano, mas há poucos especialistas para a quantidade de líquens a serem estudados.
Homenagem
A investigação foi descrita na revista Mycotaxon, sob o título A new species and a new record of Pyxine (Physciaceae) with norstictic acid from São Paulo State, Brazil, disponível apenas para assinantes em http://migre.me/7wqGt.
O fungo foi batizado Pyxine jolyana em homenagem ao professor Carlos Alfredo Joly, da Secretaria de Políticas e Programas de Pesquisa e Desenvolvimento (Seped) do Ministério da Ciência e Tecnologia e Inovação (MCTI). Jungbluth foi aluna dele durante a graduação na Unicamp e sua pesquisa integrou o projeto Biota Gradiente Funcional, coordenado por Joly, que integra o Biota-Fapesp, também coordenado por ele.
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.