Com o falecimento de Ariovaldo Maniezzo, o Vadico, ocorrida no domingo passado, o comerciante Francisco de Assis Francioso, da Miranda Veículos passa a ser o novo presidente do Sindicato do Comércio Varejista (Sicomvit), cargo que era ocupado por Maniezzo há pelo menos 15 anos. Francioso contou ao Jornal A Cidade que deve assumir o posto já no início desta semana e tem pela frente cerca de um ano de mandato. “Foi um fato altamente lamentável que acaba me conduzindo à direção máxima do órgão e espero com a ajuda dos demais diretores espero poder gerir o Sincomvit com a mesma determinação e empenho com que o Vadico o fez durante boa parte de sua vida”, comentou.
Segundo familiares Maniezzo não aparentava problemas aparentes de saúde e que após o falecimento da esposa dona Celina, ocorrido em 03 de setembro, ficou muito abatido e passou a apresentar um quadro de debilitação em seu estado geral.
Maniezzo tinha 70 anos e era conhecido por ser dono de uma personalidade muito forte, que lhe valeu ao longo de mais de 20 anos de militância junto à Associação Comercial e depois no Sincomvit o enfrentamento com grupos rivais dentro da seara corporativa da classe dos comerciantes. Dono de uma liderança incontestável, era respeitado sobretudo por sua correção na gestão do Sincomvit – entidade que abrange diversas cidades da região, inclusive Amparo - atuando intransigentemente na defesa e aumento do patrimônio da entidade, deixando, inclusive uma bem montada sede na rua Joaquim Inácio.
Pessoa com trânsito fácil nos altos escalões de entidades como o Serviço Social do Comércio (SESC) e o Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial (SENAC), Maniezzo foi uma das autoridades locais que se empenharam para que esta última instituição se fixasse aqui na cidade depois de um entrevero envolvendo os responsáveis legais pela antiga sede onde o SENAC funcionou durante 20 anos, n a rua Alfredo Pujol. A direção do SENAC face ao imbróglio estava decidida a deixar Itapira e não fosse a atuação de Maniezzo, do cartorário Devaldo Cescon, do prefeito eleito José Natalino Paganini (à época presidente da Associação Comercial) e do atual Prefeito Toninho Bellini, muito provavelmente os dirigentes do órgão representativo dos comerciantes não teriam se dado ao trabalho de erguer uma nova e magnífica sede em plena Praça Bernardino de Campos.
Inaugurada em 05 de fevereiro de 2011, a nova sede reuniu figurões do SENAC, entre eles o seu Presidente Regional de São Paulo, Luiz Antonio Salgado, o qual, em seu pronunciamento fez questão de lembrar do empenho de Vadico Maniezzo para que aquela solenidade tivesse sido realizada.
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Maniezzo discursando durante inauguração da agência do SENAC
Depoimento
Dono de um tipo de honradez rara nos dias de hoje
Fernando Cesar Gasparini (*)
Convivi com Vadico Maniezzo durante praticamente 22 anos, desde que aqui cheguei para trabalhar no jornal A Cidade de Itapira no começo dos anos 1990. Saltava aos olhos seu estilo bonachão. Embora tivessem diferenças nem sempre colocadas à mesa, formava com o saudoso José Rocha Clemente uma dupla de peso dentro do contexto das lideranças do nosso comércio.
Com o falecimento de José Rocha, Maniezzo deixou de ter uma espécie de anteparo junto às demais lideranças que discordavam da forma personalista com que enxergava as coisas. A partir daí as divergências acabaram tomando rumos de animosidade, dando origem duas facções distintas dentro do jogo corporativo dos comerciantes de nossa cidade.
Enquanto um grupo se entrincheirava na Associação Comercial e Empresarial (ACEI) outro, sob o comando de Vadico, cuidava de fortalecer o Sindicato do Comércio Varejista (SICOMVIT). Dentro de suas prerrogativas de líder máximo do órgão, Maniezzo foi às últimas conseqüências para garantir aquilo que no seu entendimento era de direito da entidade e nessa sua postura obstinada acabou criando áreas de atritos com outros setores, como foi o caso do Círcolo Ítalo-Braziliano na disputa por um espaço dentro do antigo Clube XV de Novembro, quando acabou deixando a sede da Praça Bernardino de Campos não sem antes impingir aos contendores um dolorosa (e onerosa) derrota em âmbito judicial.
Teve como fato notável a construção de uma sede novinha em folha num valorizado terreno da rua Joaquim Inácio, iniciada exatamente no auge da disputa com o Círcolo. Eu me lembro que ele de certa forma desdenhava desta disputa em particular exatamente porque já tinha como trunfo no bolso do colete a construção da sede atual.
Enfim, Vadico Maniezzo era isto: uma pessoa sem meio termo. Ou se gostava dele, ou se lhe detestava. Eu pessoalmente perdi as contas dos inúmeros entreveros que tive com ele tendo como causa formas diferentes de enxergar assuntos relativos aos relacionamentos da entidade que dirigia e veículos de imprensa. Vadico não era dado a sutilezas. Mas jamais deixei de respeitar sua figura de dirigente classista competente e um ser humano bastante sensível e até por isso mesmo sempre fui um dele um interlocutor privilegiado.
Sua autenticidade e sobretudo sua honradez – era uma pessoa do tempo, como se costuma dizer , onde a palavra possuía o valor do fio de bigode – lhe conduziam a enfrentamentos que poderiam perfeitamente ser evitados. Mas este era o estilo Vadico Maniezzo de ser, do tipo que ‘dava boi’ para não entrar numa briga, e uma boiada para não sair dela. Pessoas como ele certamente fazem falta nos dias de hoje, quando percebemos que são cada vez mais raros os rompantes de honestidade e dignidade (que ele tinha de sobra) a servirem como exemplo para as gerações futuras. Neste sentido, Vadico Maniezzo já faz muita falta.
(*) Fernando Cesar Gasparini é jornalista