A presença de capivaras pastando diariamente às margens do Ribeirão da Penha nestes dias em que o volume de água permite o passeio deste e outros animais silvestres diante dos olhos da população embute uma preocupação que passa ao largo do bucolismo desta cena costuma encantar as pessoas. Animal que procria numa escala impressionante, a capivara é um dos principais hospedeiros do carrapato estrela, aquele que transmite a febre maculosa.
Nesta semana a Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) lançou um alerta sobre a necessidade de um combate mais efetivo das autoridades municipais para impedir a disseminação da referida doença. O alerta vem de um estudo da Unicamp, desenvolvido pela pesquisadora e médica veterinária Jeanette Trigo Nasser. Segundo informativo distribuído pela Unicamp, em sua investigação, a pesquisa traçou o perfil epidemiológico, a distribuição espacial dos casos e as características dos programas de controle dos municípios da Região Metropolitana de Campinas. A região, segundo o estudo, representou, em 2012, quase 20% dos casos confirmados no país. Para a estudiosa da Unicamp, a maioria das cidades apresenta dificuldades estruturais, de capacitação e organização na condução de ações de prevenção e controle da doença. A pesquisa, elaborada junto à FCM (Faculdade de Ciências Médicas) da Unicamp, cobriu o período de 1998 a 2012.
“Não há um programa nacional sobre febre maculosa, como, por exemplo, existe em relação à dengue. Esse quadro não deve mudar, até porque a doença está muito restrita à região sudeste. Mas na RMC ainda morre muita gente de febre maculosa. No período do estudo, a doença já teve 244 casos, com 25% de letalidade. Isso dá uma média de 16 registros por ano, com uma média de quatro mortes”, dimensiona Jeanette Nasser.
Em Itapira o assunto tem sido objeto de preocupação do setor de Vigilância Epidemiológica. A proliferação da população de capivaras é um assunto considerado muito difícil de se lidar devido à proibição legal de abate e até de manuseio destes animais, protegidos pela legislação ambiental. Uma fonte consultada contou que inexistem medidas eficazes para reduzir a população de capivaras, como por exemplo, a castração. “Como quase todos animais silvestres, a capivara tem em seu meio machos e fêmeas dominantes. Se você identifica um elemento do grupo com estas características e aplica a castração, não tem como garantir que outro não vá ocupar o seu lugar. Provavelmente é o que vai ocorrer”, destacou.
Segundo o especialista, pessoas que moram ou que trabalham em locais onde pastam capivaras e até animais domésticos como o cavalo devem ter cuidados para não serem picados por carrapatos. “Na população de capivaras normalmente os indivíduos mais jovens são aqueles mais suscetíveis em desenvolver a doença. Alguns vão a óbito, outros adquirem imunidade e passam a atuar como hospedeiros da doença”, comentou. Ainda segundo a fonte consultada, estes carrapatos irão também infestar amimais de pequenos e grande porte, como cães e cavalos.
Controle
No final do ano passado, numa iniciativa que envolveu o Comdema e Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio), foi realizado um encontro na Fazenda Talismã que debateu exatamente o controle da capivara e do javali por meio da preservação da onça, animal em vias de extinção em todo o Estado de São Paulo. A especialista Márcia Rodrigues, uma das principais gestoras do projeto Corredor das Onças disse que é preocupante os problemas decorrentes da interferência humana no processo da biodiversidade. “Quando surgem ameaças que se tornam um problema de saúde pública as pessoas se dão conta da importância de não se interferir no ciclo natural. Torço para que este processo de conscientização em torno da preservação dos grandes felinos tenha uma maior percepção das pessoas para sua real importância, ou seja, de que ao restituirmos as condições ideais de sobrevivência destes animais estaremos realizando um controle natural de populações de capivaras e outros animais cuja superpopulação é motivo de enorme preocupação no âmbito da saúde pública e também no âmbito econômico”, avaliou.
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