Causou uma impressão negativa não somente a mim, mas como também a muitas pessoas que acompanham o cotidiano da atividade política local a forma canhestra com que um grupo majoritário de vereadores da atual legislatura meteu os pés pelas mãos para justificar os motivos pelos quais decidiu misturar alhos e bugalhos na questão da aprovação de um projeto de Lei de iniciativa popular que pedia a suspensão de aumentos dos vencimentos dos vereadores do próximo período que começa em 1º de janeiro de 2013.
Como parcela razoável das pessoas que se mantém informadas sobre assuntos de natureza política na esfera municipal devem saber, foi decidido pelo acolhimento da propositura popular em sua íntegra, ou seja, o salário atual foi mantido em R$ 4.953,00, sepultando o desejo da grande maioria dos atuais vereadores que ao final do primeiro trimestre votaram por um reajuste de quase 30%, fato que motivou a inédita (e muito bem vinda) mobilização de setores da sociedade que foram à luta para recolher assinaturas que permitissem a inclusão do referido projetos dentro dos temas que seriam posteriormente analisados pelo colegiado.
Sorrateiramente a maioria dos vereadores foi ‘empurrando com a barriga’ o assunto enquanto corria o processo eleitoral. Conhecidos os resultados das urnas, aqueles que de certa forma representam grupos políticos que foram veemente repudiados pelas urnas nas eleições de outubro, deram de incluir na proposta da redução dos salários dos vereadores, também o Vice-Prefeito e os Secretários, equiparando os vencimentos destes aos dos vereadores. E cuidaram para que a proposta fosse aprovada.
Medida extremamente demagógica, porque pega carona numa iniciativa legítima assegurada pela Constituição – a da interferência popular em assuntos de seu real interesse - para criar dificuldades para o futuro Prefeito. Um autêntico “tapa de gato”, uma medida com gosto do fel da vingança e que certamente pune o contribuinte e a população em geral. Não é preciso ser prócere em administração e finanças para constatar que com um salário em torno de R$ 3.500,00 (será este o valor líquido a ser recebido pelos Secretários com a dedução do imposto de renda que incide sobre esta faixa salarial) será difícil, senão impossível conseguir atrair colaboradores qualificados para gerir importantes áreas do município.
Que pensam afinal estes vereadores sobre a responsabilidade de se gerir um departamento de saúde, de educação, que somados totalizam quase 70 milhões de reais do orçamento municipal para serem empregados a partir do próximo ano, sem falar que junto estas pastas agregam quase metade dos cerca de 2.200 servidores municipais na ativa? É justo pagar a quem terá o ônus de gerir estas pastas um salário de R$ 3.500,00?!! Se fossem eles os convidados para tal empreitada, como reagiriam? Lembremos ainda que estes colaboradores precisam necessariamente despender tempo integral e muita energia para dar conta de suas enormes responsabilidades. Não são poucos os exemplos espalhados por aí de colaboradores que ganham mal, mas que ao final se “dão bem”, por meios que a gente sabe muito bem como funcionam. Será que estes vereadores, lá no âmago de suas expectativas não estariam torcendo para que tal cenário seja produzido aqui na cidade?
Portanto, como sei que Sônia dos Santos, Luiz Henrique Ferrarini, Kléber Borges, Mauro Moreno e Mino Nicolai em hipótese nenhuma podem ser considerados neófitos em política, só me resta interpretar este gesto como um autêntico ato de vilania, típico de políticos rasteiros que apostam no quanto pior melhor, algo que, sinceramente, jamais imaginava que se dariam ao trabalho em protagonizar. Perderam eles todos (coincidência ou não, nenhum deles fará parte da futura legislatura) a oportunidade de saírem pela porta da frente. Triste despedida!
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