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Itapira, 11 de Dezembro de 2024
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12/10/2012 | Flávio Eduardo Mazetto: Notas sobre eleição 2012 - II parte

Continuamos abaixo com nossas notas para um melhor entendimento sobre o processo eleitoral para prefeitos e vereadores. Aguardamos um debate sobre as mesmas.

  1. A opção do eleitor é pela sugestão da propaganda. Em nossa cidade, como em outras cidades de mesmo porte e de história política parecida: o problema é que precisamos de recursos da instância política superior (esfera estadual) para fazer as coisas para a população. Por que não temos tais recursos: o prefeito atual impede ou não organiza as coisas para que isto funcione. Logo, ele precisa ser retirado e deve-se colocar alguém que tenha a senha para nos ajudar a receber recursos. Uma visão paternalista e clientelista da forma de fazer política. Um grave retrocesso o reforço de tal perspectiva tendo em vista ampliar uma tendência absolutamente individualista na resolução dos problemas, pois o cidadão se preocupa com o suposto (e ilusório) progresso de sua cidade, independentemente do que aconteça com a cidade vizinha, às vezes, inclusive, se reclama de uma suposta benfeitoria que existe no vizinho e não foi feito aqui também, como se fosse uma disputa de quem consegue mais, quando a ótica deveria ser do uso conjunto de todos e para todos.  (Na verdade o problema não se resolve, pois numa perspectiva mais crítica apreendemos que as liberações de verba destinam 1/10 para a população e 9/10 para a acumulação de capital de empresários e investidores – ex: obras, concessões de serviços públicos e coisas do gênero: anuncia-se para atender a população, aparece como tal, mas é feito pelos compromissos Estado/governo/ e classes dominantes).
  2. Outro problema, este também histórico: quando os quadros políticos (grupo Munhoz), que venceram esta eleição, foram substituídos alguns anos atrás, se imaginou que houvesse ocorrido uma mudança de perspectiva política. Grande engano. Não venceu uma nova proposta política, mas apenas um personagem (Bellini) que aparecia como menos truculento que o anterior e que poderia manter o paternalismo de forma menos “encardida” e com menos incomodo à classe dominante.  Novamente os votos nos dão uma lição: a vitória de Munhoz para deputado segue a perspectiva de um político que ajude (subordinação) o povo trazendo recursos para sua aldeia protegida e cada vez mais sua posse.
  3. O grupo vencedor (2012) impõe uma vitória da propaganda e da organização e cooptação eleitoral. Não é atoa que aqui e nas cidades vizinhas os vencedores arregimentaram (de forma até questionável) um grande número de partidos controlados por um mandatário. É o poder econômico vencendo as eleições. Veja-se o patrimônio e as profissões dos vereadores eleitos e perceba a inexistência efetiva de quadros das classes mais baixas. Nenhum deles se declara trabalhador assalariado de fato e muito menos de profissões mais operárias. Um dos mais “pobres” se declara comerciante.
  4. Deve-se destacar, assim, que a rejeição do grupo Bellini, PT e PV, não se dá pelo poder total de Munhoz. Ele é um produto deste processo, uma engrenagem que faz o processo político do clientelismo funcionar em favor da manutenção do poder de uma elite econômica. O grupo Bellini não construiu uma proposta de poder diferenciada. Não desenvolveu uma dinâmica de poder popular, mesmo que sob a égide capitalista. E nem podia, visto ser um governo de uma fração diferenciada da classe dominante: os comerciantes ricos, os “engenheiros” de uma forma geral. É importante dizer: não houve ruptura, apenas uma nova fração da elite que ascendeu ao poder. E agora, não há rupturas efetivas. Todavia, não podemos esconder que se trata de uma elitização e clientelização mais efetiva do governo municipal. Basta a indicação de industrial do novo prefeito.
  5. Desta forma, a população percebe que o problema da prefeitura não é a corrupção (ela pode até existir, visto que todos os políticos são assim mesmo, mas desde que se faça algo), mas sim a incompetência para buscar recursos de fora e ajudar na melhoria da cidade. Foi estratégica a insistência de Munhoz e de instrumentos midiáticos na inabilidade de Bellini para fazer a gestão de recursos que o deputado tão gentilmente arrecada nos cofres estaduais. A própria população destaca que ele sabe como “arrumar” tais verbas. A população percebe e vota, pois não houve ainda uma desconstrução desta forma de fazer política. Forma extremamente subordinativa, que reduz o cidadão em mero cliente de um elemento que vai cuidar de seu rebanho. É a política do capacho, trata-se bem (cada qual na sua hierarquia social , é logico – afinal estamos numa sociedade em desigualdade de classes) aos amigos; quanto aos “inimigos”, simples adversários, discordantes, bem estes atrapalham a melhoria da cidade, atrapalham a busca dos recursos e devem ser silenciados, ridicularizados, escanteados para não incomodar a aldeia.

Flavio Eduardo Mazetto (professor e cientista político - [email protected]

 

Fonte: Flávio Eduardo Mazetto

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