Segue uma pequena contribuição do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade) para pensarmos sobre o dia do Trabalhador. É bom dizer que não se trata do dia do trabalho como muitos orgãos de imprensa tentar fazer crer. É muito diferente falarmos de dia do trabalhador, pois queremos focar na luta diária de homens e mulheres que procuram sobreviver no mundo capitalista atual, onde os capitalistas controlam os meios de produção e obrigam os trabalhadores a executar um trabalho rotineiro, cansativo, nada humanizante.
Segue então uma pequena carta que expressa nossa ideologia sobre o 1º de maio. Estivemos fazendo a divulgação desta visão através de alguns cartazes hoje de manhã na "festa" (?????) dos trabalhadores nos famosos jogos. Esperamos que que esta intervençao nos faça pensar sobre o mundo do trabalho e sobre a exploração que vivemos. Basta citarmos aqui um trecho da letra "Vida de operário" do grupo Pato Fu: "Vida de operário, Braços na máquina operando a situação, Crescimento da produção, E o lucro é do patrão, Semana é do patrão, Ganância é do patrão."
Dia do trabalho: desvestir a camisa da empresa e gritar pela verdadeira igualdade
Trabalhadoras e trabalhadores itapirenses
Neste 1º de Maio, símbolo das lutas, reivindicações e conquistas históricas do trabalho contra a voracidade do capital, sua ânsia brutal por lucros, devemos resgatar a dimensão primeira e irreprimível da natureza das relações entre capitalistas e trabalhadores: o conflito. Nessa empreitada é necessário quebrarmos a imagem de concórdia, de harmonia, de conciliação amplamente difundida pelos meios de comunicação locais, pelos discursos do empresariado, por sindicalistas prostrados aos interesses patronais e por políticos coniventes com a opressão.
Essa imagem da unidade entre capital e trabalho é um véu mistificador, uma máscara com que os capitalistas recobrem a realidade social para enganar, oprimir, comandar e explorar o trabalhador. Tudo é apresentado como se os interesses dos grandes e dos populares fossem os mesmos e todos alimentassem laços fraternos e de igualdade numa bela e estável família: a empresa. Um expediente sorrateiro para desviar os operários da constatação de que a classe trabalhadora é geradora da riqueza social sem dela desfrutar, e que a ação social empresarial é baseada no cálculo, na verificação de quais são os meios adequados para garantir a expansão de suas riquezas.
A classe capitalista, nas relações que estabelece com o trabalhador procura manter a submissão operária manuseando inúmeros elementos de disciplinamento e de coerção. Por um lado, acirra a competição entre os trabalhadores, separando-os politicamente, acentuando a diversidade no interior do processo de trabalho, afirmando a existência da hierarquia, da desigualdade e da impossibilidade de uma identidade coletiva dos assalariados. Por outro lado, reforça a familiarização ao trabalho através da mobilização de certos sentimentos sociais - como a ética do trabalho - e assediando e cooptando cotidianamente o operário com a enganosa proposta da colaboração, da parceria, a tese do “vestir a camisa da empresa”. Enquanto portador da nova denominação, “parceiro” ou “colaborador”, o operário deve desenvolver uma identificação visceral, uma postura de valorização da corporação onde trabalha, sacrificando-lhe, no altar da esfera produtiva, não só sua força de trabalho, mas sua energia criativa, sua autonomia, seu gozo, suas esperanças. Todo esse sacrifício sem a recompensa de uma participação ampla nos lucros da corporação, sem o devido reconhecimento como pessoa digna, sem o respaldo de garantias para sua prole.
O mascaramento da realidade do trabalhador é facilitado pela manipulação de atividades interativas e lúdicas, como as Olimpíadas dos Trabalhadores. Essas atividades são apresentadas como concessões, patrocínios e incentivos empresarias para a comunhão entre os interesses. Palcos privilegiados onde os operários reeditam a identificação com sua família, sua empresa, representando-a no duelo esportivo contra outras organizações. Desse modo, as questões cruciais e atuais do antagonismo capital/trabalho são relegadas ao esquecimento.
Nas últimas décadas, as transformações do mundo do trabalho, com os processos de reestruturação produtiva das empresas e globalização da economia, aprofundaram as desigualdades: novas formas de gestão, inovações técnicas com flexibilização do operário, exigência por qualificação, desemprego estrutural, crescimento do número de desempregados em todos os níveis produtivos, subcontratação, trabalho de tempo parcial, concentração e centralização da riqueza, terceirização, precarização do trabalho e reiteradas investidas dos empresários para a desregulamentação dos mercados de trabalho e a flexibilização dos contratos, numa tentativa de extinguir direitos sociais historicamente constituídos.
Assim, trabalhadoras e trabalhadores itapirenses, frente a práticas e ideologia capitalistas, cabe a nós rasgar o véu da mistificação, desvestir a camisa da empresa, envergar o conflito como lema e bradarmos em alto som em defesa da igualdade na partilha das riquezas geradas pelo nosso trabalho.
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