A cena foi sintomática. Na sexta-feira, 30, uma força-tarefa do setor de limpeza da Prefeitura estava estacionada em frente uma residência na Rua Major João Manoel, retirando quantidade enorme de entulhos e objetos de toda espécie. Ali reside o aposentado A.R, 74 anos, que tem espécie de obsessão compulsiva para acumular objetos.
Foram retirados cerca de cinco caminhões de tranqueiras. O trabalho era acompanhado pelas agentes municipais de saúde. Os vizinhos já haviam reclamado da sujeira. Um deles comentou que costumava encontrar bichos peçonhentos dentro de sua casa. “A gente sempre reclamava. Demorou para ter providência”, disse o morador.
Em 17 de janeiro de 2012, a Prefeitura já havia realizado operação parecida, numa época em que a Dengue não era assunto predominante na cidade. Foram retirados outros cinco caminhões de entulho. Como daquela vez, as condições de salubridade dentro da residência do aposentado eram as piores possíveis. Daquela feita quem cuidou do encaminhamento do caso foi o Conselho Municipal do Idoso. Seu presidente, João Alves, disse que é comum este tipo de encaminhamento. “Estas pessoas têm que ter uma atenção especial. Normalmente são arredios, agressivos em alguns casos e não têm contato com familiares. Então a gente encaminha o caso para as autoridades competentes”, informou. Ele ficou surpreso ao ser informado da reincidência do morador. “Ele precisa de ajuda”, reiterou.
Estas pessoas são chamadas de acumuladores . Cientificamente a patologia é chamada de Síndrome de Diógenes e acomete principalmente com pessoas idosas, mas pode ser identificada em pessoas mais jovens também.
A assistente social Dirce Batista Zanchetta, do CREAS (Centro de Referência Especializado em Assistência Social) informou que com a escalada do processo de limpeza nas residências desencadeado pela dengue, têm surgido em média dois casos por dia de pessoas com este tipo de sintoma. Ela explicou que no caso de A.R, ele já tem acompanhamento no CREAS. “Na primeira ocasião chegamos a arrumar um lugar para ele no Asilo São Vicente, mas ele não se acostumou lá. Tem um histórico de acumulação de objetos. Sai durante a noite para fazer isso. Possui comportamento agressivo às vezes e não se dá com parentes nem com vizinhos. É um caso que tem merecido uma atenção especial de nossa parte”, contou.
O médico geriatra Carlos Ernesto Boretti de Ornellas explica que pessoas idosas têm uma certa inclinação em guardar objetos. “Se você mexe nas coisas deles, ficam muito bravos. Isso é normal. O que não é normal é quando isso se torna algo obsessivo. Aí tem que ser tratado”, orientou. Ele contou que já tratou de alguns pacientes com este comportamento e que em casos assim a palavrapaciência é sempre fundamental. “São casos onde o tratamento psiquiátrico é o mais recomendado”, finalizou.
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