O jogo entre Brasil e Holanda, que decide na tarde de hoje em Brasília-DF, a terceira colocação da Copa do Mundo, apesar de já ter sido publicamente contestado até mesmo por Louis Van Gaal, técnico da seleção holandesa, vai certamente atrair a atenção de muitos torcedores. Entre eles, Ben Ligtvoet, 44,um simpático engenheiro holandês, radicado em Lagoa Santa, região metropolitana de Belo Horizonte, e que figura nos quadros de colaboradores da Imbil, tendo, portanto, muitos amigos na cidade.
Há dez anos ele deixou seu país para viver a aventura de ser um mochileiro e viajar por países da América Latina. Acabou na Bahia ,onde veio a conhecer sua esposa Eliecy, com quem tem um casal de filhos, Lucas e Maria, ambos com dupla nacionalidade.
Faz sete anos que se mudou para o Brasil em definitivo. Por suas habilidade profissionais como engenheiro hidráulico, acabou sendo recrutado pela Imbil sendo responsável pelo desenvolvimento das partes hidráulicas das bombas: rotores, volutas, difusores entre outros itens.
Em comum com os brasileiros, Ben gosta muito de futebol e segundo colegas da Imbil, bate um bolão. Disse em entrevista concedida por e-mail que tem assistido muitos jogos da Copa, em especial, do Brasil e de sua Holanda. Disse que a exemplo dos brasileiros, ficou estupefato pela forma como a seleção nacional foi impiedosamente batida na terça-feira em Belo Horizonte. “Eu imaginava que o Brasil tivesse dificuldades. Pelo futebol demonstrado até aqui, a Alemanha na minha opinião era favorita.Só a maneira que o Brasil foi eliminado foi totalmente inesperada. Depois do primeiro gol da Alemanha , o Brasil teve uma desorganização completa na defesa e meio-campo da Seleção. Isso foi muito lamentável, porque teoricamente o Brasil, mesmo sem Thiago Silva, teve uma defesa muito forte com Maicon (AS Roma), David Luiz (Chelsea), Dante (Bayern de Munique) e Marcelo (Real de Madrid). Como nas quartas-de-final da Copa de 2010 contra Holanda, de novo a seleção perdeu totalmente a cabeça depois de tomar o primeiro gol. Foi goleada por uma Alemanha muito forte, que aproveitou 100% das fraquezas defensivas do Brasil”, opinou com autoridade.
Como os analistas brasileiros, Ben achou que o jogo que eliminou a Holanda e classificou a Argentina para a grande final de amanhã, foi extremamente feio. Ele achou que as duas equipes atuaram de forma acovardada, com medo de perder. “Fiquei decepcionado que o nosso técnico Van Gaal não optou por um sistema mais ofensivo no segundo tempo e prorrogação, que também deu certo no final das partidas anteriores. Como quase todos os jogos durante esta copa, a Holanda jogou no sistema 5-3-2, em lugar do sistema 4-3-3, como a Holanda antes desta Copa sempre jogava. Nosso técnico Louis van Gaal decidiu jogar com cinco defesas por causa da ausência do nosso volante forte Kevin Strootman, que joga para AS Roma, e que sofreu uma ruptura do ligamento cruzado do joelho faz alguns meses. Assim, para fortalecer o sistema defensivo da Holanda, que principalmente consiste de jogadores do campeonato holandês, considerado fraco em comparação com os campeonatos inglês, alemão, espanhol e italiano, com bastante sucesso, porque ganhamos os jogos contra Espanha, Austrália e Chile na fase de grupos e depois eliminamos México e Costa Rica”, considerou.
Mudanças
Ben acha que o Brasil jogou abaixo das expectativas mundiais e muito dependente do Neymar. Depois da hectacombe do Mineirão, ele analisa que o futebol brasileiro carece urgentemente de mudanças profundas em sua estrutura. “O problema do futebol brasileiro é também que tem uma grande falta de estrutura. Deveria ter uma estrutura de campeonatos regionais para todas as idades, acessível para todo o mundo. As federações de futebol da Holanda e da Alemanha por exemplo são bem estruturadas com um departamento profissional e amador. O departamento amador tem competições regionais para crianças e adultos. A partir de seis anos de idade, crianças podem participar nestas competições que são bem organizadas. Aqui no Brasil a maioria das pessoas joga com amigos as peladas. Isso é muito bom, nessas peladas se desenvolvem muitos talentos, mais fora disso deveria ter a parte organizada dentro das federações estaduais. Em minha opinião, se tivesse a estrutura que tem na Holanda e Alemanha dentro do Brasil, o grande potencial de talentos seria muito melhor aproveitado. Claro esta falta de estrutura/acessibilidade tem que ver com a pobreza que existe e o nível de desenvolvimento geral no Brasil, que não é comparável com Holanda e Alemanha”, contextualizou.
Observador atento em suas andanças por vários países latino-americanos, Ben fica perplexo com o fato do Brasil fracassar em competições como a Copa do Mundo. Ele conta que adquiriu enorme afinidade com os brasileiros exatamente por causa do futebol, quando acabou se tornando o que no país é conhecido como peladeiro. “O nível nestas peladas no Brasil é muito mais alto que em outros países como por exemplo Peru, Equador, México ou Chile. No Brasil, parece que todo o mundo sabe jogar bola. Aqui tem tanta paixão pelo futebol, e tanto talento, que em minha opinião, se tiver mais estrutura e melhores técnicos, o Brasil poderia e deveria sempre ser campeão do mundo, ou pelo menos sempre jogar o melhor futebol do mundo”, acrescentou.
Em sua casa hoje, vai assistir ao jogo ao lado de brasileiros, além da família, alguns amigos estarão lá, sem se intimidar. Vai torcer pela Holanda, evidentemente, mas, se algo der errado,certamente não vai ficar triste. Ficará feliz com a comemoração dos amigos brasileiros. Finalizando, enviou uma mensagem de consolo ao torcedor brasileiro: “Os brasileiros podem ficar orgulhosos do futebol brasileiro, apesar da derrota contra a Alemanha. Tem uma grande historia de futebol com cinco vitórias nas Copas e tem o melhor jogador do mundo de todos os tempos, Pelé. Desta vez não deu certo, vamos esperar que as coisas melhorem”.
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