Desde o começo do ano, a Apae (Associação de Pais e Amigos dos Excepcionais) de Itapira vem atuando com um programa pioneiro de inclusão dos alunos no mercado de trabalho. Custeado pela verba proveniente da doação do 1% do Imposto de Renda, o projeto Oficinas de Inclusão Produtivas age em parceria com o CIEE (Centro de Integração Empresa Escola) e com empresas locais que deram abertura para a inserção de estagiários em seu quadro de pessoal. “Já fazíamos esse trabalho há algum tempo, mas era através de análise de perfil e contratação direta. O diferencial deste projeto é que ele é feito em forma de estágio”, explicou Rosângela Martucci, coordenadora do projeto.
A enfermeira Thuê Camargo Ferraz de Ornellas, responsável pela elaboração do projeto, complementou dizendo que uma das principais preocupações das empresas ao contratar os alunos é a questão da legislação trabalhista, que foi resolvido com a parceria junto ao CIEE. “Como somos uma escola esse trabalho junto ao Centro de Integração foi possível. Eles ficaram responsáveis pela formalização do contrato e cuidado com a parte legal da contratação dos estagiários, isentando a empresa de qualquer problema.”, destacou. Ela também ressaltou o fato que os alunos que já recebem qualquer tipo de benefício não irão perdê-los. “O dinheiro proveniente do estágio será agregado”.
Para que a oficina pudesse ser implantada na Apae, foi necessária a contratação de uma terapeuta ocupacional, Aymêe Yonezawa Fernandes, e uma psicóloga, Marina Colosso, para coordenar as atividades que dizem respeito à preparação para o trabalho de modo geral, assiduidade, higiene, responsabilidade e tarefas práticas. Além disso, um trabalho especial foi feito junto as famílias e durante o período de adaptação na empresa. “No período da manhã eles assistem aulas na Apae e no período da tarde vão com o motorista para o trabalho. Ao término do expediente, o mesmo motorista os busca e eles retornam para a escola. Durante todo o período de execução do projeto quatro alunos tiveram a oportunidade de conseguir um emprego. A primeira empresa que nos abriu as portas foi o Supermercado Antonelli que, inclusive, já havia contratado nossos alunos anteriormente”, ressaltou Martucci.
A coordenadora do projeto contou que, inicialmente, uma das intenções era levar alguma atividade para ser feita nas dependências da escola, mas até o momento nenhuma parceria foi fechada com empresas da cidade. “Gostaríamos de ter funções diferentes para perfis diferentes e estamos abertos para esclarecimentos de quaisquer dúvidas para ampliar nosso quadro de parceiros”.
Cerca de 50 alunos da entidade estão inseridos nas atividades de inclusão para o mercado de trabalho, seja nas oficinas ou no programa PET Trampolim do Senac. Assim como na lei do menor aprendiz, a partir dos 14 anos eles podem iniciar as aulas e aos 16 podem começar a estagiar. “No próximo ano vamos montar oficialmente o Programa de Educação para Trabalho aqui na Apae. Somos uma escola habilitada e vinculada à Secretaria de Educação e essa proposta já está sendo pensada e desenvolvida em outros locais. É um trabalho complexo que irá agregar ainda mais nas oficinas e ampliar o trabalho dos profissionais”, comentou Thuê.
Sobre o balanço do primeiro ano do projeto – que será reapresentado no CMDCA (Conselho Municipal de Defesa da Criança e do Adolescente) no próximo ano para renovação do custeio – Rosângela Martucci classifica o saldo como positivo, assim como todos os demais projetos (música, equoterapia e custeio) financiados pela verba proveniente da doação do 1% do Imposto de Renda. “Creio que só temos a crescer e agradeço pelas doações, pois sem essa verba não conseguiríamos desenvolver esse trabalho aqui na Apae”, finalizou.
Acompanhamento e monitoramento
“A nossa proposta é preparar os alunos para o mercado, acompanhar a implantação junto com o departamento de Recursos Humanos o tempo que for necessário e, por fim, fazer o monitoramento”, resumiu Thuê.
Com essa finalidade, a psicóloga Marina Colosso elaborou um projeto de pesquisa com todos os alunos e ex-alunos da Apae que foram inseridos no mercado de trabalho para descobrir quais fatores contribuíram para o sucesso da contratação e poder enfatizá-los nos treinamentos e capacitações futuros. “Para esse trabalho de monitoramento visitamos os locais e conversamos com os alunos através de perguntas disparadoras e específicas. Além disso, também buscamos informações com as pessoas que convivem com eles diariamente para saber sobre o relacionamento interpessoal, bem estar e desenvolvimento do trabalho”, comentou.
De acordo com o relatório elaborado, os quatro fatores evidenciados foram vontade individual de trabalhar, apoio da família, correspondência entre o cargo que exerce e o interesse/habilidade do ex-aluno e clima de trabalho adequado.
No primeiro deles, cada um dos alunos relatou motivos que o incentivavam na busca por uma oportunidade, seja ajudar a família, ter o próprio dinheiro, contato com novas pessoas e conquistas de desejos materiais. Já o apoio da família está relacionado ao incentivo oferecido e à ausência da postura de superproteção ou vitimização. O terceiro fator diz respeito à satisfação do aluno em exercer uma função que ele já praticava ou que gostava, fazendo com que se sentissem adaptados e seguros para atuar na empresa. Por fim, o último item retrata o quanto o aluno se sente respeitado e considerado na empresa, seja pelos chefes imediatos, colegas de trabalho ou clientes.
Independência e autonomia dos estagiários
Com a intenção de criar o espírito de independência e autonomia dos estagiários, dentro do projeto Oficinas de Inclusão Produtivas também foi inclusa uma atividade de compra monitorada. “Nossa intenção é que eles se tornem mais independentes e, para isso, eles foram acompanhados durante as compras, andaram de ônibus e tiveram a oportunidade de controlar parte do dinheiro”, explicou Thuê. “Nós ouvimos o que eles queriam e fomos até os estabelecimentos com eles. Enquanto eles escolhiam os produtos, íamos fazendo as contas e falando quanto sobraria de troco, ou seja, treinando a matemática, a análise das vontades e passando noções gerais de economia. O mais interessante é que muitos deles levaram as compras para dividir com a família, o que é muito benéfico para o desenvolvimento”, concluiu a psicóloga Marina.
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