Marinho mostra os acessórios entregues a pacientes com estomia
Eleger qual a pior forma de manifestação de um tumor é um exercício mórbido e inútil, já que cada órgão afetado vai gerar sofrimento para pacientes e familiares. Mas uma manifestação em particular é tida como um dos piores no quesito sofrimento, o câncer de intestino.
A Secretaria de Saúde do Município mantém há oito anos um serviço especificamente voltado para este tipo de atendimento. Quem coordena o ambulatório é o enfermeiro Luiz Fernando Marinho, 51 anos, há 20 no serviço municipal. Ele revela que os casos de estomia (pacientes que tiveram câncer ou algum tipo de ferimento no intestino) são 32 e urostomia ( câncer na bexiga ou ferimento causado por acidente ou agressão) são cinco pacientes.
O que chama a atenção no caso destes pacientes é o fato da excreção de fezes e urina ser feita via um orifício feito no abdômen com uso de acessórios especialmente desenvolvidos para esta especialidade. “São acessórios que são descartáveis, com vida útil em torno de uma semana, mas que são essenciais para a manutenção de uma certa qualidade de vida destes pacientes”, detalhou. Segundo ele, o custo , em torno de R$ 1 mil cada conjunto, é proibitivo para pessoas pobres e o governo estadual garante a distribuição gratuita.
Marinho conta que o processo de aceitação da nova realidade muitas vezes é demorado. Ele relata que não raramente submete pacientes a atendimento psicológico, quando não psiquiátrico. Com o tempo, o paciente passa a aceitar com mais naturalidade este tipo de restrição. “Tenho pacientes dos mais jovens até senhores com mais de 90 anos de idade e todos eles estão respondendo muito bem ao tratamento”, afirmou.
Esses pacientes passaram por longos períodos de quimio e radioterapia. A intervenção cirúrgica é a última chance de cura. Elimina-se uma extensão do intestino para que o tumor deixe de se propagar. Daí a necessidade dos acessórios para evacuação de excrementos fisiológicos. Os pacientes devem ir a consultas periódicas no Cais Irmã Angélica e, conforme o caso, o próprio coordenador do ambulatório visita pessoalmente os pacientes.
Questionado sobre o que aprendeu ao lidar com este tipo de paciente, Marinho disse que “a gente enxerga que nesta vida nada é impossível”. Revela que ainda nos tempos de faculdade, quando foi estagiar num hospital, ironicamente o primeiro paciente que foi cuidar era um que tinha estomia. “Achei aquela situação muito problemática, me chocou. Era um tempo onde os acessórios não tinham a evolução dos dias de hoje. E, hoje me vejo cuidando deste tipo de paciente. A vida dá voltas”, concluiu.
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