Cenários incríveis estão sendo explorados e registrados durante a viagem
Os itapirenses Júlio Luís Recchia e Fernando Trigo Martins chegaram na quinta-feira, 27, a Ushuaia, última cidade antes do Polo Sul. Os dois deixaram Itapira no sábado, 15, com destino ao ponto mais próximo da Antártida.
A viagem, de cerca de 14 mil quilômetros tem como principal destino Ushuaia, a cidade mais ao sul de todo o planeta, localizada na Argentina, em uma ilha chamada Tierra del Fuego, e separada da Antártida somente pelo Estreito de Drake. Recchia viaja em uma BMW F800 GS e o Trigo Martins com uma BMW GS 650.
Depois de 12 dias de viagem, a dupla de aventureiros já chegou ao destino definido e desfruta das belezas naturais do lugar. “Finalmente passamos o Rio Negro e a partir daí estamos na Patagônia, entramos na famosa ruta 3 que sai de Buenos Aires e vai ao sul até terminar o continente”, contou Júlio Recchia através da rede social Facebook na quinta-feira. “Ela segue paralela ao oceano Atlantico, ora serpenteando junto ao mar, ora mais para o interior, mas sempre linda”.
Apesar das distâncias percorridas das mudanças de clima, Recchia e Trigo Martins estão vislumbrando belas paisagens e percorrendo estradas de qualidade. “Os horizontes são infinitos e a estrada muito boa. Pernoitamos em Las Grutas, uma pequena cidade na costa do Atlantico e muito linda. De Las Grutas seguimos até Trelew, uma cidade fundada por galeses por volta de 1850 e de lá para Caleta Olivia”, descreveu.
A cidade seguinte foi Puerto San Julian, a beira mar, uma pequenina e lindíssima cidade. “Tem uma magia incrível aqui, na areia da praia tem um barco enorme encalhado, meio torto e vários artistas pintaram seu casco dando um ar poético à já bela cena”, contou. “Foi ali que eu e Fernando tivemos nosso primeiro contato com pinguins, focas, lobos marinhos, fomos com uma pequena embarcação até uma ilha onde os pinguins fazem seus ninhos todos os anos. É emocionante ver centenas destes animais simpáticos em seu ambiente natural, voltam sempre aos mesmos lugares todo ano para procriar, caminham de forma engraçada e fazem um som agradável ao ouvido”.
E a convivência com esses animais foi um tanto quanto desastrada para Fernando Trigo. “Aqui o Fernando sofreu seu mais forte revés, foi mordido por um pacífico pinguim. Ele abusou demais, chegou a centímetros de um que estava com filhote para fotografar, mas não foi nada grave”, contou Recchia. “Eu contabilizo até agora duas quedas da moto, que foi derrubada pelo vento quando parada, isso mesmo, pelo vento. Na Patagônia é assim, venta muito e forte. Tem que estudar onde estacionar a moto, proteger do vento. Aqui as árvores crescem inclinadas no sentido que o vento mais sopra, é inacreditável. Além das quedas das motos que nada danificaram, tive um transtorno digestivo por conta de uma tortilla de uma bodega de beira de estrada e quase fiquei fora de combate”.
De San Julian ambos desceram até Rio Gallegos, capital da Província de Santa Cruz. “A emoção aumentava, pois nos aproximávamos de nosso objetivo e as dificuldades também. Vento muito forte tornando muito perigoso pilotar, são ventos com rajadas, não é um vento constante e o maior medo é ser arremessado ao acostamento ou contra outro veículo que vem em sentido contrário”, explicou. “O frio é uma constante e quanto mais ao sul mais baixava a temperatura. E somado ao vento e ao frio tem a chuva que chega rápido e sem avisar. A soma do vento, frio, chuva e a grande distância a percorrer torna a viagem muito difícil e requer muita determinação para chegar ao destino”.
As belezas são muitas e isso dá força para que os aventureiros sigam em frente. “São guanácos, lebres, tatus, pássaros de várias espécies que cruzam nosso caminho”, revelou Recchia.
Cerca de 100 quilômetros a frente de Rio Gallegos cruzararam o Estreito de Magalhães e entraram na Tierra del Fuego. “É emocionante chegar ao Estreito, um lugar histórico. Ali estávamos em terras chilenas, por algum acordo do passado tem uma parte do Chile encravado na Argentina”, explicou. “Depois de atravessar o estreito de balsa, onde fiquei meio mareado, pois o mar ali é meio revolto, enfrentamos 130 quilômetros de rípio, que é como eles chamam as estradas de terra por aqui. Só que eles costumam jogar pedras roliças por toda a extensão e você tem que pilotar meio que surfando por 130 quilômetros sobre essas pedrinhas”.
Novamente asfalto pela frente e Ushuaia, o fim do continente cada vez mais perto. “Pernoitamos em Rio Grande já a 200 quilômetros de nosso destino”, contou. “A essa altura já tínhamos tirado da mochila quase toda nossa roupa de frio, vários abrigos usados um sobre o outro, duas luvas, várias meias de lã, touca e protetor de pescoço. O frio cada vez mais aumentava e o vento potencializava seu efeito. Saímos de Rio Grande no dia 26 e rumamos finalmente pra Ushuaia, emocionante!”
“Nessa fase a paisagem se modifica bruscamente, entramos na Cordilheira dos Andes, as montanhas enormes cobertas de gelo, a estrada serpenteando entre elas, lagos de águas cristalinas se materializavam em nossa frente, bosques, indescritível”, descreveu. “E depois de uma curva surge à nossa frente a cidade de Ushuaia, debruçada sobre o canal de Beagle e cercada de montanhas cobertas de gelo da cordilheira, chegamos ao nosso destino e tudo valeu a pena. É impossível passar por esses lugares e não se sentir tocado por algo sublime, divino”.
Barco abandonado na praia de Puerto San Martin
Lugares inesquecíveis na rota dos aventureiros
Estradas de todos os tipos no caminho dos itapirenses
Ushuaia, destino alcançado na quinta-feira por Júlio Recchia e Fernando Trigo Martins
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