Carregando aguarde...
Itapira, 15 de Janeiro de 2025
Notícia
05/03/2013 | José Antônio Pires de Almeida: Hugo Chaves

Escrevi o artigo abaixo sobre Hugo Chávez há cinco anos. Comparando com o de Fernando Morais publicado na Folha de São Paulo dia 26 de janeiro deste ano, na página 3, e que reproduzo abaixo do meu, não mudo nada do que escrevi.

 
HUGO CHAVES
 
José Antônio Pires de Almeida
 
Eu não tenho um juízo definitivo de Hugo Chaves, presidente da Venezuela. Aliás, não tenho juizo definitivo sobre ninguém. Se por um lado fico meio desconfiado das suas bravatas guevarianas, com um nostálgico sabor dos sessenta do século passado; por outro me encanta a desenvoltura com que ele avança no resgate de ideários e utopias que foram soterradas pela queda do muro em 1989.
 
Chaves nasceu em 28 de Julho de 1954, sendo o segundo de seis filhos de Hugo de los Reyes Chávez e de Elena Frías de Chávez, ambos professores. Aos dezessete anos ingressou na Academia Militar da Venezuela, prosseguindo na carreira até atingir o posto de tenente-coronel.
 
Chávez casou-se duas vezes: a primeira com Nancy Colmenares, com que teve três filhos (Rosa Virginia, María Gabriela e Hugo Rafael) e a segunda com a jornalista Marisabel Rodríguez, de quem se separou em 2003 e com quem teve uma filha, Rosinés. Além disso, Chávez também manteve uma relação amorosa por cerca de dez anos com a historiadora Herma Marksman, enquanto era casado com a sua primeira esposa.
 
Não sei se consequência dessa intensa vida amorosa, não sei se pelos encantos da farda mas, segundo a agência Reuters, Chávez é o quinto homem mais sexy da Venezuela. O dado saiu de uma pesquisa feita pela Federação de Câmaras e Associações de Comércio e Produção da Venezuela, a Fedecâmaras, que ouviu 14.123 pessoas. Em primeiro lugar foi eleito o ator e apresentador de TV Winston Vallenilla, que trabalha na RCTV, rede de televisão que não teve a sua concessão renovada pelo governo. 
 
Dizem que a qualidade da árvore se conhece pelo fruto. Apesar da minha desconfiança de estatísticas e da chatice que é usá-las em artigos, de acordo com o CIA World Factbook, a economia venezuelana tem índices e taxas recordes desde que o golpe de estado contra Chávez foi derrotado. Seu PIB cresceu entre 7 e 8 % em 2007. A inflação, que foi de 30% em março de 2004, recuou para menos de 10% em março de 2005 e ficou em 13% em 2006. O CEPAL informa também que o número de venezuelanos abaixo da linha de pobreza caiu de 50% em 1999, quando Chávez assumiu, para 37% em 2005, e o poder aquisitivo das classes D e E aumentou 150% no período. (Referência: Perspectivas de Mercado Consumidor-Perspectivas Venamcham 2006. Instituto Datos, 2006).
 
Nestes tempos de fim da história, triunfo do neoliberalismo e falência das utopias Chávez estimula, forçando tomadas de posições de pessoas e governos. Não sei que comentarista esportivo falou outro dia de madrugada, num programa de TV, que Maradona cheirando cocaína, mandando Bush tomar no cu e elogiando Fidel Castro é mais estimulante para o pensamento do que um Pelé corretíssimo discursando em prol das criancinhas pobres do Brasil.
 
Algumas pérolas do pensamento chavista (ou bolivariano, como ele gosta): “Alca! Alca! Al carajo!” – “Yo no soy yo, yo soy ustedes! Por eso, voten en ustedes para presidente de Venezuela!!!”. “El diablo passó por lá. Ainda sinto el chero del enxofre”. (sobre Bush na ONU).
 
Afinal de contas Chávez nunca escondeu suas intenções socialistas, assim foi eleito e está se esforçando para viabilizar seu projeto de governo. Para os milhões de miseráveis da América Latina é mais promissor ele conchavando com Evo Morales e Rafael Correa do que Lula trocando abraços e beijinho e carinhos sem ter fim com Bush. E assim vamos lá.
 
TODOS SÃO CHÁVEZ, MESMO SEM CHÁVEZ
Fernando Morais (Folha de São Paulo, 23/01/2013, pág.3)
 
FERNANDO MORAIS, 66, é jornalista e escritor. É autor, entre outros, de "Olga", "Chatô" e "Os Últimos Soldados da Guerra Fria.
 
    Dias atrás, centenas de milhares de venezuelanos ocuparam o centro de Caracas para "tomar posse" no lugar do presidente Hugo Chávez, ausente do país para tratamento médico. Colorida e ruidosa, a multidão que cercou o Palácio Miraflores não carregava fuzis AK47 nem coquetéis molotov, mas uma arma com poder de fogo muito maior: a Constituição nacional. 
 
Portando no peito faixas presidenciais de pano ou de papel, feitas a mão, em vez de slogans sangrentos, repetiam um único bordão: "Todos somos Chávez! Todos somos Chávez!". Ironizado pela imprensa de direita como cena do realismo fantástico, o episódio estava carregado de simbolismo e significado. Se Chávez é mesmo um ditador e se a economia da Venezuela está pela hora da morte, como martelam diariamente nove entre dez veículos de comunicação no Brasil, por que, diabos, ele é tão popular? 
 
Os esfarrapados rótulos de "populismo" e "caudilhismo" são cada dia mais ineficazes para explicar por que Chávez e seu governo já se submeteram a 16 processos de avaliação, entre eleições e referendos, e em apenas um saíram derrotados. A última vitória, ocorrida em dezembro, aconteceu quando Chávez já se encontrava em Cuba: os chavistas elegeram 20 dos 23 governadores de Estados venezuelanos. 
 
Quem quer que visite o país interessado em ver as coisas como as coisas são, sem preconceitos nem estereótipos, terá a oportunidade de constatar o que os jornais não mostram. Qualquer brasileiro médio, jejuno em informação independente sobre a Venezuela, se surpreenderá. 
 
Em 14 anos de chavismo, os índices de analfabetismo foram reduzidos a zero. Nos últimos dois anos, o projeto Gran Misión Vivienda construiu 350 mil casas populares, metade das quais edificada em parceria com mutirões de comunidades organizadas. 
 
O número de médicos por 10 mil habitantes subiu de 18 para 58. Só o sistema público de saúde dispõe de 100 mil médicos, dos quais cerca de 30 mil são cubanos que vivem há cinco anos nas favelas que cercam Caracas, oferecendo atendimento gratuito e permanente a milhares de pessoas. A taxa de mortalidade infantil desabou de 25 para 13 óbitos por mil nascidos vivos e 96% da população tem acesso a água potável. 
 
O coroamento dessas políticas sociais implantadas sob o comando de Chávez não poderia ser outro: em levantamento recente, realizado pela Cepal (Comissão Econômica para América Latina e Caribe) em 18 nações da América Latina e do Caribe, a Venezuela aparece em primeiro lugar como o país com a mais baixa taxa de desigualdade social. 
 
O que deixa a oposição sem fala e sem munição é que essa marcha pacífica rumo ao socialismo é liderada há 14 anos por um católico praticante sob um processo sui generis, onde não houve fuzilamentos, as instituições funcionam, não há presos políticos e a imprensa desfruta de absoluta liberdade de expressão. 
 
Exagero? Quem tiver dúvidas que entre nos sites www.eluniversal.com e www.el-nacional.com para ver como os dois maiores jornais de oposição do país tratam Chávez e seu governo, todos os dias, sem exceção. 
 
A ideia de que a Revolução Bolivariana não sobreviverá a Hugo Chávez é apenas uma manifestação de desejo dos golpistas de 2002, da elite saudosa da velha Venezuela. Aquela em que a fortuna decorrente do petróleo ia parar em contas bancárias em Miami e na Suíça e não em projetos sociais, como acontece hoje. 
 
Como milhões de outros admiradores do processo venezuelano, torço para que Hugo Chávez vença a batalha contra o câncer e volte logo ao batente. Mas sei que, como todos os demais seres humanos, o presidente é mortal. Sei também, no entanto, que a Revolução Bolivariana que ele concebeu e lidera é para sempre. Quem viver verá. 
 
Fonte: Da Redação do PCI

Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.

Veja Também
Deixe seu Comentário
(não ficará visível no site)
* Máx 250 caracteres

* Todos os campos são de preenchimento obrigatório

1830 visitantes online
O Canal de Vídeo do Portal Cidade de Itapira

Classificados
2005-2025 | Portal Cidade de Itapira
® Todos os direitos reservados
É proibida a reprodução total ou parcial do conteúdo deste portal sem prévia autorização.
Desenvolvido e mantido por: Softvideo produções