Era assim que meu avô paterno costumava nos tranquilizar. Em meio a qualquer situação adversa, olhar de preocupação, mudança de respiração, lá estava ele até os meus dez anos: sereno, olhos brilhando e a frase de sempre, “Calma, Quiquica! Para tudo na vida se tem um jeito, só para a morte não tem”.
Após seu falecimento minha mãe se encarregou do mantra, mesmo quando não preciso, precavidamente, sempre creditando o sogro.
Quando ele se foi, pela primeira vez aprendi que, de fato, com a morte “não tem jeito”. É um fato irreversível.
Eu tinha dez anos, poderia me desesperar diante à vivência da sentença final: finalmente, então, eu poderia me desesperar? Não tinha mais jeito! A morte do meu avô aconteceu! Felizmente, por anos a fio, a serenidade que ele vestia todos os dias preencheu o vazio para a resposta que, com o tempo, veio.
Esses dias, visitando o cemitério de Nottingham, no Reino Unido, perante tantas lápides, nomes, números, retomei essa questão que há muito havia deixado de lado.
Um cemitério é o lugar ideal para entendermos a efemeridade da vida. De todas as vidas. Todos se vão! Conquanto, a reflexão da vez não foi sobre quem vai, mas quem fica.
A morte só é irremediável para quem a sofre!
Para quem fica: a vida cheia de possibilidades, oportunidades, recomeços, superação.
Duvido que dos milhares familiares que ficaram em Nottingham, algum tenha morrido pela saudade de alguém que amava. Ora, se podemos superar esse drástico fim de relacionamento com nossos plenos amores, podemos todo o resto!
Portanto, a sentença que meu avô carregava consigo era muito rica. Ele só queria dizer que tudo passa, nada é forte o bastante para ser insuperável ou perpétuo, basta permanecer na luta, em paz com o tempo, e a vista após a linha de chegada - e o caminho é repleto delas - é para quem tem coragem de seguir em frente.
Ele queria dizer isso e sabiamente preferiu ser poeta e deixar a gente descobrir sozinho. A poesia, porém, estava no olhar e na alma que genuinamente queria nossa paz de espírito. A ternura com que o fez, o fez eterno no mundo. No meu e no daqueles que tocarei com o mesmo amor.
Em memória de Geraldo Marcati, o doce que eu chamava de “Vô”.
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