As eleições presidenciais de 2014 evidenciaram um Brasil dividido: um pouco mais da metade queria a reeleição de Dilma e um pouco menos era contra.
De princípio, o otimismo me fez crer que a vitória apertada repercutiria positivamente, provocando a reflexão da situação acerca da insatisfação de metade do país, no sentido de estimular a melhora na governabilidade.
Contudo, um otimismo disfarçado e forçado não dura muito tempo.
O ódio predominante nos discursos da disputa foi carregado para o período pós-eleitoral. Abriu-se o processo de impeachment, o que é válido, e que com pesar trouxe um presidente interino medíocre para governar o Brasil.
Notadamente, veja-se pelos ministérios por ele estruturados, trata-se de um governo para a minoria. O atual governo não representa, no sentido de “fazer as vezes”, a sociedade brasileira. Tentando enxergar um lado bom, espero que reflexo correto do país não seja de uma maioria masculina, branca, rica e com dinheiro de origem suspeita.
Porém, o que é de se questionar, ainda que diante de tantas evidências de corrupção, o povo, até então sedento por progresso, calou-se.
Os protestos aparentemente se satisfizeram com a abertura do processo de impeachment e afastamento do PT, mesmo diante da estruturação de ministérios recheados por autoridades potencialmente também corruptas. A história talvez conclua que a corrução não era a principal causa, mas o lesivo, previsível e burro fanatismo político. Gostaria de estar errada.
Em contrapartida, ainda que a sociedade não se mostre cumprindo integramente seu papel em defesa do bem comum, ventos de mudança começam a pairar pelo Brasil. Não é um paradoxo. As investigações contra corrupção estão caminhando satisfatoriamente e comportamentos de misóginos, como o do parlamentar que entende estupro como uma questão de merecimento, passaram a ser vistos como “perda de tempo” apenas pela minoria do STF, o que não impediu o recebimento da denúncia.
Neste caso, continuo otimista. Deixo a crítica como reflexão. Aguardo que a sociedade abrace os ventos novos e também o motivo genuíno da causa: a melhora do todo para todos.