Que postura uma Igreja Evangélica deverá assumir quando visitada por um candidato em tempo de eleições, durante o culto público? Essa resposta passa necessariamente pela compreensão que o pastor e a Igreja possuem do púlpito e do que efetivamente fazem quando se reúnem como igreja para a adoração. De certo, o assunto política não pode jamais ausentar-se do púlpito. Assim, como Arte, Filosofia, Economia, Sexualidade, Entretenimento e etc., mas, quando esses assuntos são abordados devem ser apenas e tão somente para serem avaliados, normatizados, limitados, aprovados ou reprovados pela inerrante Palavra de Deus. Não falamos de arte por diletantismo no púlpito, mas valoramos a estética em sua conexão com a ética e a verdade. A arte e suas expressões não são moralmente neutras, sempre comunicam uma visão de mundo e uma ética subjacente. Portanto, algo que se pretenda como arte não pode e não deve aviltar a dignidade humana, explorar suas misérias ou enaltecer a pecaminosidade. A arte deve ser entendida como a expressão estética da bondade e da verdade. Também não falamos de filosofia por simples paixão pela especulação ou por intelectualismo escravizado por esta ou aquela ideologia. Quando abordamos algum aspecto filosófico é porque estamos interessados nos essenciais da vida, em seus porquês mais substantivos, na razão de ser do estar aqui e em nossa transcendência. Desejamos chegar à verdade e ao sentido da vida. Logo, qualquer sistema ou escola filosófica que coisifique a vida, materialize a existência a tal ponto de tornar irredutivelmente finita a vida no aqui e agora, abrindo perigosas brechas para um existencialismo pernicioso, deverá ser enfrentado em seus sofismas com a diáfana verdade das Escrituras, que nunca erram (Jo 10.35 b). Quando falamos de economia não estamos interessados em ideologias ou programas partidários, mas sim no fazimento da justiça, da equidade e da promoção da vida. A sexualidade será entendida no contexto da criação e do propósito santo para o homem e a mulher dentro do matrimônio e como expressão dos gêneros macho e fêmea. O entretenimento como parte do gozo do Dia do Senhor e aquela antecipação dos bens escatológicos, isto é, da paz, alegria e descanso na ‘Nova Jerusalém’. Então, como abordamos a política? Sempre a partir da nossa visão de Reino. Entendemos que não há aqui e agora nenhum partido capaz de cumprir perfeitamente um programa pleno de êxito. As ideologias não escapam à escravidão, antes, são sempre novas formas de idolatria, quer do dinheiro, quer do trabalho, quer de uma filosofia ou mesmo credo religioso. Não há plataforma política, por mais abrangente, que satisfaça todas as necessidades sociais e individuais. Todavia, nem por isso são dispensáveis. Quando falamos de política devemos voltar às Escrituras em geral e na Lei Moral em especial e entender a concepção de Deus para a liderança governamental. Em ambos os casos, entendemos política como a missão dada a alguns para garantir o socorro e assistência dos mais fracos, o amparo dos vulneráveis, a justa distribuição das riquezas, a manutenção da ordem e da paz, o incremento para o desenvolvimento geral da sociedade, a coibição e punição do mal, bem como a exaltação dos bons. Enxergamos a política como missão, o político como servo e o poder como serviço, sempre voltados para o bem comum e nunca como um fim em si mesmo. Se essas verdades estão presentes no púlpito, então entendemos o que fazemos quando nos reunimos em Igreja. Nesse ajuntamento não há a distinção das dignidades e dos méritos pessoais. Não há a exaltação de uns sobre os outros. Não há partidos ou ideologias que devam ser prestigiadas. Somente Deus, somente o Cordeiro, somente o Espirito, só o Deus Trino deve ser adorado, admirado, exaltado, apreciado. E todos, sem exceção, temos o privilégio comum de estar ali, ante a beleza da santidade do Senhor. Em uma Igreja genuinamente cristã, o púlpito jamais deveria ser cedido para o ‘comício’, para fazer política partidária ou a apresentação de candidatos. Deveria ter como abominação o fato de os nossos santuários serem transformados em palanques e nossos ajuntamentos solenes serem profanados com discursos inflamados e rasos dos políticos, ainda que bem-intencionados. A César o que é de César, e há momento para isso, existem outros expedientes e outros espaços. A Deus o que é de Deus. Tudo pertence a Ele. Ele é Senhor sobre tudo e sobre todos. Logo, no púlpito e no culto, os partidos e as ideologias se lhe submetem e todos somos um no Senhor.
Reverendo Luiz Fernando é Ministro do Evangelho na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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