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Itapira, 21 de Novembro de 2024
Notícia
10/05/2022 | Luiz Santos: A Grande Família

Nesse mês de maio estamos refletindo um pouco em nossas pastorais sobre a família, seus valores, sua missão e os seus desafios. Também é nosso desejo redescobrir aqueles meios antigos e encontrar novas estratégias para fomentar uma vida devota mais fervorosa e a obediência missionária mais engajada presente em nossos lares. Muito se tem dito que a igreja é uma família, a grande família da fé. Uns afirmam mesmo que a igreja é uma extensão dos nossos lares e que reconhecemos estar em casa e junto aos nossos quando nos reunimos para a adoração pública. Em tese, é até mesmo verdade, e não há motivos para se duvidar disso ou em problematizar demais o fato. Contudo, estruturalmente, não existe lugar onde se é menos família, infelizmente em muitos casos do que a própria igreja. Primeiro porque já vai longe o tempo em que a adoração na igreja significava a adoração de uma rede de lares. Melhor, já vai longe o tempo em que uma igreja forte era composta de lares religiosamente saudáveis e que a comunidade de fé vivia em unidade, porque era o resultado de famílias bem unidas na mesma fé, na mesma confissão de fé. Como sinal desses tempos novos e fragmentados em que vivemos, a noção de pacto, de aliança de corpo e consequentemente de família está muito porosa, desgastada ou inexiste. Antigamente, e não falo nem de tão antigamente assim e nem mesmo com alguma melancolia, nossas igrejas eram formadas de lares inteiros. Pai, mãe, filhos, às vezes avós, tios e primos, todos se encontravam no templo para o culto. Recebiam a mesma instrução, a mesma orientação, a mesma doutrina e possuíam, por assim dizer, uma mesma cultura litúrgica. A realidade da família era exponenciada na experiência do ajuntamento. Mas, foi a própria igreja local com novas e necessárias pedagogias que gerou uma certa deformidade para essa verdade da família unida na comunhão. Quando começamos a ‘departamentalizar’ excessivamente a igreja com culto infantil, reunião de oração de adolescentes, culto da mocidade, encontro de casais, reunião de namorados etc., passamos a manifestar também os efeitos colaterais dessa departamentalização. Evidentemente que não há nada pecaminoso nesses expedientes e muitos deles foram respostas oferecidas a certas demandas culturais e sociais. Mas, ao mesmo tempo, não se pode negar que assim fazendo aos poucos e sistematicamente fomos desagregando a família. As famílias saem juntas de casa e se separam logo na entrada do templo, cada um vai para a sua ‘turma’, para a sua classe de interesse. Isso se verifica mais claramente na Escola Bíblica Dominical. Talvez seja uma realidade que não se deva mexer, mas não se pode ignorar os seus efeitos. Outra coisa que desarticulou as nossas igrejas como uma grande família de pequenas famílias é o fato de nem todos valorizarem a confissão de fé e o pacto, a vida sob a Aliança e os ricos benefícios comuns da igreja local. Não é difícil encontrar, sob as mais variadas e nem sempre sustentáveis justificativas, famílias divididas por pertencimentos denominacionais e a supervalorização das experiências e dos gostos e inclinações nem sempre bíblicos. Em muitos lares o pai é metodista, a mãe presbiteriana e os filhos, um em cada comunidade eclesial, dessas chamadas de livres ou independentes. Isso, quando há no seio familiar quem se declare orgulhosamente ‘desigrejado’. Não deixa de ser espantoso que esse fenômeno aconteça justamente dentro de uma realidade que deveria ajuntar, e assim, muitas de nossas igrejas não conseguem exercer nenhuma influência benfazeja concreta sobre lares inteiros, mas apenas sobre indivíduos que não são capazes de articular a sua fé com a vida familiar. Não poderia deixar de mencionar aqui as assim chamadas mega igrejas. Essas comunidades com muitos membros sempre corre o risco de diluir as famílias e os membros em um caldo de relações distanciadas e pastoreamento impessoal e massificado. É praticamente impossível oferecer cuidado pastoral de qualidade e ao mesmo tempo estabelecer relações mais próximas, marcadas pela mutualidade e pelo amor. Nas mega igrejas as famílias podem ser mais facilmente desarticuladas para se engajarem com maior proveito e utilidade nas engrenagens da máquina eclesiástica. Quando e onde isso ainda for possível, precisamos redescobrir o valor de cultos e reuniões de orações onde a família inteira, das crianças de colo à terceira idade, usufruam juntos da bem-aventurança da comunhão dos santos. Investir em comunidades funcionais, pastoreáveis e que permitam espaço e tempo de qualidade para a convivência, a troca de experiência, amizades profundas e companheirismo na missão. É nosso dever como pastores e líderes do povo de Deus prover às famílias uma estrutura intelectual, moral e espiritual que lhes permita caminhar sob a égide da Aliança em uma comunidade local acolhedora, terapêutica, espiritual e missional. Lutemos por uma igreja com famílias inteiras integradas para sermos de fato, uma Grande Família.

Reverendo Luiz Fernando é Ministro na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.

Fonte: Luiz Santos

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