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Itapira, 21 de Novembro de 2024
Notícia
11/04/2018 | Luiz Santos: A hora mais escura

A tradição espiritual conhece a noite escura da alma, um tempo de escuridão e aridez espiritual pelo qual um cristão devoto e convicto pode passar. Existem tempos de escuridão profunda na experiência de todo discípulo de Cristo, tempos em que nos encontramos com o que há de mais humanos em nós, a finitude e a impotência quando a morte paira as suas negras asas sobre nós. São tempos críticos e delicados em que somos levados por nossa humanidade fragilizada a desenvolver certa dose de incredulidade, desesperança, inconformidade e até um pouco de rebeldia. Essas coisas podem não parecer, mas fazem parte inerente da caminhada de todo discípulo experimentar um pouco das tribulações de Cristo e seu abandono na cruz. Evidentemente não estou fazendo comparações proporcionais aqui, uma vez que o sofrimento de Cristo, além de ser imensurável, sua natureza, propósito e valor são diferentes do nosso sofrimento. Na hora mais sombria pela qual a nossa alma pode passar, a única coisa que está em nosso alcance, muitas vezes, é chorar e gemer aos pés do Senhor. Esse choro e esse gemido expressam exatamente o quanto precisamos do Senhor, da sua presença, do seu consolo, da sua bênção para suportarmos a presente condição. É nessa hora que precisamos exercitar não só a nossa fé, mas também a nossa Teologia. Teologia aqui não entendida como discurso acadêmico, mas o nosso conhecimento intelectual das Escrituras. Nessa hora precisamos puxar pela memória e recorrer aos textos bíblicos. Aqueles textos que iluminam os nossos olhos e que são lâmpadas para os nossos passos nesse caminho de escuridão. Começar pelo livro das lamentações é uma coisa sábia em dias de tormento e temores: “Lembro-me da minha aflição e do meu delírio, da minha amargura e do meu pesar. Lembro-me bem disso tudo, e a minha alma desfalece dentro de mim. Todavia, lembro-me também do que pode dar-me esperança: Graças ao grande amor do Senhor é que não somos consumidos, pois as suas misericórdias são inesgotáveis. Renovam-se cada manhã; grande é a tua fidelidade! Digo a mim mesmo: A minha porção é o Senhor; portanto, nele porei a minha esperança. O Senhor é bom para com aqueles cuja esperança está nele, para com aqueles que o buscam; é bom esperar tranquilo pela salvação do Senhor” (Lamentações 3:19-26). Meditar nessas palavras traz grande consolo para a alma abatida e não nos deixam ser consumidos pelo ‘agora’ de nossas dores, mas faz-nos levantar a cabeça e olhar com confiança para o amanhã de misericórdia e restauração. Um outro texto bíblico que devemos pregar ao nosso coração é o Salmo 23: “O Senhor é o meu pastor; de nada terei falta... Mesmo quando eu andar por um vale de trevas e morte, não temerei perigo algum, pois tu estás comigo; a tua vara e o teu cajado me protegem... Sei que a bondade e a fidelidade me acompanharão todos os dias da minha vida, e voltarei à casa do Senhor enquanto eu viver” (Sl 23.1,4,6). Em tempos de travessia pelo vale de lágrimas, cravar os olhos nas imagens desse salmo pode ser terapêutico. Como é reconfortante saber que o nosso pastor caminha à nossa frente e que no vale escuro ele não nos desampara, antes nos envolve com a sua bondade e nos dá descanso em sua fidelidade. Pode ser libertador meditar detidamente nas palavras de Jesus: "Venham a mim, todos os que estão cansados e sobrecarregados, e eu lhes darei descanso. Tomem sobre vocês o meu jugo e aprendam de mim, pois sou manso e humilde de coração, e vocês encontrarão descanso para as suas almas. Pois o meu jugo é suave e o meu fardo é leve". (Mt 11.28-30). É nosso dever, em dias maus, críticos, dar à nossa mente a lembrança deste texto. Sem esse descanso em Jesus nossas mentes cansadas perdem a capacidade de raciocinar com a devida clareza que o momento exige. Sem o jugo suave do Senhor o fardo pesado de nossas preocupações rouba não só a serenidade, mas até a sanidade dos nossos juízos. Devido ao exíguo espaço dessa pastoral, proponho um último exercício prático de Teologia, fazer o que o apóstolo aconselha: “Lancem sobre ele toda a sua ansiedade, porque ele tem cuidado de vocês” (1 Pe 5.7). Quando a hora mais escura chegar não nos restará outra coisa a fazer, a não ser, convencer-nos dessa verdade, não importa quão escuro seja o vale, quão profundo o abismo, quão doridas sejam as nossas feridas, sempre reais e verdadeiras, porém, não podem ser comparadas com o cuidado do Senhor: “Deus é o nosso refúgio e a nossa fortaleza, auxílio sempre presente na aflição” (Sl 46.1). É nessa hora que a boa Teologia faz diferença, quando ele fala a mente para prover cura e descanso ao coração.

Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira.

Fonte: Luiz Santos

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