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Itapira, 23 de Novembro de 2024
Notícia
26/08/2014 | Luiz Santos: A Igreja e as eleições

Quando não há direção sábia, o povo cai, mas na multidão de conselheiros há segurança” (Pv 11.14).

Estamos em franca campanha eleitoral. Nesta época muitos candidatos que passam anos ignorando solenemente as comunidades evangélicas procuram pastores e líderes em busca de apoio. Não há nada de errado com isso, afinal de contas, a Igreja Evangélica é um segmento social organizado, é uma formadora de opinião e, em alguns casos, um importante agente de transformação social. A Igreja deve manter-se sempre apartidária, nunca, porém, apolítica.

A Igreja, assim como o Reino de Deus, jamais pode identificar-se com um projeto político de maneira absoluta. O que causa estranhamento é a atitude de muitos pastores e líderes que usam do poder, da influência e de sua liderança para canalizar votos sob o argumento de que se fulano ou cicrano vencer as coisas vão melhorar para a Igreja. Ledo engano. A Igreja verdadeira já tem quem a defenda e cuide de seus interesses, é seu Cabeça, Chefe, Senhor e Dono, Jesus Cristo.

O voto “de cajado” é tão pernicioso quanto o voto de cabresto, do “coronelismo” ainda existente em tantos currais eleitorais por este país afora. Nestas eleições o número de candidatos que trazem a frente do nome os títulos de pastor, bispo, apóstolo, missionário e etc. é incrivelmente alto. Defendo a ideia de que um pastor deveria renunciar ao ministério pastoral caso queira concorrer a um cargo na política. Comungo da ideia de Spurgeon e de boa parte da tradição cristã católica e protestante de que o Ministro não faz uma troca onde obtenha vantagens. É como se deixasse de ser embaixador exclusivo do Reino e do Rei Jesus e se tornasse representante ou emissário de qualquer outro poder subalterno.

Todavia, nenhum pastor pode deixar de falar sobre política com a sua igreja. Não pode evitar a discussão dos rumos políticos de sua cidade, Estado e Nação. A Bíblia fornece os princípios gerais e a Cosmovisão necessária para que a Igreja seja bem formada em sua visão sobre a governança, o papel das autoridades constituídas, o dever do bem coletivo, o direito e as garantias individuais, a moralidade ou não das leis e o comportamento dos governantes. São princípios gerais e universais que devem ser aplicados em toda e qualquer sociedade e devem estar presentes em todo e qualquer projeto de governo ou poder.

A igreja não pode nunca deixar-se dominar pelo sentimento de dívida política com nenhum político. Não poderá haver uma relação promíscua de toma lá da cá. Foi assim com Constantino, o Grande, Imperador Romano que manipulou a Igreja e esta se deixou capitular com os benefícios recebidos, prédios públicos, terras, isenções para os líderes, cargos e etc. É interessante que os próprios evangélicos, que muitas vezes na ignorância, criticam as relações entre o império romano e a Igreja Católica Romana, se deixam também seduzir e prostituir por novos Césares, em tudo menos temíveis e poderosos como aqueles das “cáligas”.

Então, como a Igreja deve portar-se durante as eleições?

1. Não fugindo das abordagens, da análise criteriosa, sempre à luz do ensino geral das Escrituras, dos programas e plataformas de governo;

2. Manifestando-se sempre, de maneira profética, em defesa da Vida, da Família, da Liberdade Religiosa para nós e para os outros;

3. Posicionar-se firmemente com espírito livre de rixas políticas, em amor, contra a corrupção, o desmando político, o fisiologismo, o clientelismo e toda sorte de ação interesseira lesiva ao Estado e à sociedade;

4. Colocar-se sempre ao lado dos pobres, dos sem vez e sem voz. Pleitear as suas causas e lutar as suas lutas;

5. Não deixar de alertar: voto não tem preço, tem consequência.

Estado e Igreja estão separados e devem permanecer assim. “A Deus o que é de Deus e a César o que é de César” (Mt 22. 2—21). Mas, assim como a Igreja serve a Deus nos interesses de Deus para com os homens pecadores e necessitados de salvação, o Estado também serve a Deus, que é Senhor de tudo, sob a égide da Graça Comum, para refrear o mal, punir os malfeitores,  fazer desenvolver e progredir o gênero humano, distribuir de maneira justa, nunca porém igualitária como no pensamento comunista, as riquezas produzidas pela sociedade, para que todos tenham vida digna e possam viver em paz, entre outros. Assim, cabe a Igreja não indicar candidatos e partidos, mas sim delinear o perfil necessário para aqueles que desejam servir na seara política. Meu conselho pessoal, verifique a ficha e a vida pregressa do cidadão, já é um bom começo.

Reverendo Luiz Fernando

É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira

Fonte: Luiz Santos

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