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12/04/2017 | Luiz Santos: A Páscoa da Libertação

O significado mais profundo da festa da Páscoa é o da libertação. No Antigo Testamento esta festa foi instituída para a perpétua memória do acontecimento, do evento da saída, da libertação de Israel do Egito. As Escrituras nos informam que Deus ouviu o clamor, viu o sofrimento e decidiu intervir na história de seu povo. Claramente o Senhor escolheu um lado e tomou um partido, a isso damos o nome de eleição. Elegeu o Senhor a Israel para fixar-lhes seu amor, para fazer-lhes um favor imerecido e a usar de misericórdia para com eles. Israel gemia e clamava sob o chicote do feitor, trabalhava como escravo em ritmo alucinante e desumano, era alienado, marginalizado e subjugado impiedosamente pelo Faraó. O restante da história é conhecido por todos, Deus convoca Moisés e Aarão para a missão de liderar a saída do povo do Egito, depois de sinais, prodígios, maravilhas e muitas admoestações. Todavia, a escravidão do Egito e todas as formas de sofrimentos ali amargados pelos judeus, apesar de reais, na verdade tipificavam uma outra escravidão, mais profunda e mais cruel, a escravidão do homem ao pecado, sob o jugo do diabo e alienado da presença de Deus. Esta escravidão nunca passou despercebida aos olhos de Deus, no tempo apropriado enviou o seu Filho para realizar a libertação da escravidão a que todos nós estávamos encerrados. Jesus, assim como Moisés, realiza sinais, maravilhas, prodígios e admoestações. Porém há uma diferença substancial aqui, Moisés manda sacrificar um cordeiro, um animal irracional e naquele sangue, a libertação é homologada. Jesus, todavia, oferece-se para o sacrifício, o faz de maneira voluntária e realiza a libertação do homem com o seu precioso sangue derramado na cruz. Então, a mensagem central da Páscoa é o da libertação. Sem o compromisso e a proclamação da libertação não há sentido a celebração desta festa. A igreja cristã, para celebrar com coerência e consistência esta festa, deve entre outras coisas, renovar de maneira consciente o seu compromisso integral com a libertação. No sentido espiritual, é sua tarefa irrenunciável e intransferível o anúncio do Evangelho de Jesus Cristo para o perdão dos pecados e a reconciliação do homem com Deus. A proclamação de Cristo crucificado e ressuscitado constituem o fulcro da festa pascal e da missão da igreja. Contudo, a graça e a bênção da Páscoa da Ressurreição devem, pela missão da igreja, espargir-se sobre toda a realidade humana. Onde houver uma situação de escravidão, de alienação, de aviltação da dignidade humana, para lá a igreja deve encaminhar-se consciente, voluntária e intencionalmente. A igreja deve transformar a mensagem da redenção também em atos concretos de libertação. À luz dos atos redentivos de Deus no Antigo Testamento e do ministério transformador de Jesus que por onde passou só fez o bem, deve a igreja realizar a sua ‘identidade-na-missão’, comprometendo-se com uma libertação que seja integral. As marcas da escravidão estão por toda a parte. Violências gratuitas, guerras cruéis, atentados terroristas, abuso de menores e incapazes, violência contra a mulher, tráfico de drogas, alcoolismo endêmico, corrupção política em todos os níveis, desmantelamento da família tradicional e o fomento de uma cultura de ‘trivialização’ dos valores etc. É exatamente esse o contexto para o qual os discípulos de Jesus Cristo, como comunidade de libertados, devem encaminhar-se para proclamar e vivenciar integralmente a libertação que a Páscoa celebra. Portanto, a celebração desta solenidade cristã não pode esgotar-se nos atos litúrgicos como um fim em si mesmos, mas deve levar-nos a atos de justiça, característica essencial do Reino de Deus, que a Páscoa inaugura na ressurreição de Cristo. Desejo que a comemoração da vitória de Cristo sobre a morte desafie a Igreja e a cada cristão a enfrentar (capacitados e fortalecidos pelo Evangelho e pela Graça) e a destruir os poderes da morte presentes e atuantes no mundo pelo anúncio, presença amorosa, testemunho alegre e serviço comprometido para que todos tenham vida e vida em abundância. Feliz Páscoa da Libertação a todos.

Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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