A comemoração da Páscoa do Senhor Jesus Cristo nunca foi tão necessária ser celebrada. Nunca antes precisamos tanto ouvir que a morte não tem a última palavra sobre a vida. Nunca precisamos tanto contemplar a cruz e o túmulo vazios. Há exatamente um ano não há um dia sequer em que não somos atemorizados com a onipresença da morte em todos os lugares. Há um ano ouvimos todo santo dia a notícia de um conhecido, um amigo, um parente próximo ou distante que partiu repentinamente. Já são mais de trezentos mil sonhos destruídos, trezentas mil famílias e lares desfeitos, milhares de mortes e muitas delas tão absurdas que poderiam ser evitadas, pelo menos, humanamente evitadas. O grito do “Aleluia” está preso em nossa garganta, sufocado por lágrimas e gemidos desses dias contínuos de paixão e calvário. A liturgia pascal nos oferece neste domingo um tempo de refrigério e de esperança fundado na vitória de Jesus Cristo, vencedor da morte. Celebramos a ressurreição de Jesus Cristo, penhor da nossa ressurreição e antecipamos pela fé esta vida indestrutível, a graça e a esperança que tanto carecemos para suportar o peso destes tempos, do aqui e agora. Precisamos do Espírito do Ressuscitado em nós para não sucumbirmos às coisas desta vida falida e deste mundo caído. Crer no Ressuscitado é crer que este mundo aqui não é tudo o que há, porque, como afirma Paulo: “Se é somente para esta vida que temos esperança em Cristo, dentre todos os homens somos os mais dignos de compaixão” (1 Co 15.19). Mas, celebrar a Páscoa significa celebrar o futuro glorioso que está reservado para nós, um futuro já antecipado nas Escrituras como promessa daquele que não pode mentir: “Todavia, de acordo com a sua promessa, esperamos novos céus e nova terra, onde habita a justiça” (2 Pe 3.13); “Pois vejam! Criarei novos céus e nova terra, e as coisas passadas não serão lembradas. Jamais virão à mente!” (Is 65.17). E como será esse futuro? “Então vi um novo céu e uma nova terra, pois o primeiro céu e a primeira terra tinham passado; e o mar já não existia. Vi a cidade santa, a nova Jerusalém, que descia do céu, da parte de Deus, preparada como uma noiva adornada para o seu marido. Ouvi uma forte voz que vinha do trono e dizia: Agora o tabernáculo de Deus está com os homens, com os quais ele viverá. Eles serão o seu povo; o próprio Deus estará com eles e será o seu Deus. Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou” (Ap 21.1-4). Assim, além daqueles aspectos tão conhecidos dos eventos pascais, como o preço pago pelo nosso resgate no sangue de Jesus, a ira de Deus desviada de nós pela oferta do Cordeiro expiatório e etc., esse ano, no contexto da pandemia, a Páscoa assume também um caráter escatológico para o nosso conforto e consolo justamente quando os limites e a vulnerabilidade da nossa humanidade estão tão expostos. Não só limitações físicas, científicas e econômicas. Mas também foram expostas as nossas limitações morais, éticas e espirituais. Não precisa muito esforço para ver em todas as áreas da vida o império dos instintos egoístas. A politização da pandemia com o insano desejo de fazer da dor alheia uma espécie de dividendo eleitoral. Também muitos empresários, sofridos sim, ninguém duvida disso, quando era possível não quiseram dar a sua cota de sacrifício para contribuir com o distanciamento social. E os jovens e as suas baladas clandestinas? Uma demonstração cabal de desprezo pela vida de seus parentes mais suscetíveis e vulneráveis ao vírus. E agora eles mesmos estão pagando o preço deste ato de egoísmo com um grande contingente internado. E o que pensar das Igrejas e muitos líderes que ou desafiaram a prudência forçando o ajuntamento ou esposaram ideias descabidas de perseguição religiosa e inflamaram os seus irmãos expondo-os desnecessariamente ao perigo. Coisa inclusive contrária à natureza pastoral que é proteger, guardar. Precisamos olhar para mais longe, para além da nossa miserável realidade para não sermos consumidos pela desesperança. Esse olhar deve ser dirigido para a cruz vazia, para o túmulo vazio e sobretudo para o trono, ocupado. Jesus ressurreto e glorificado é a imagem que deve ser impressa em nossa alma e em nosso coração nesses dias duros, duríssimos da pandemia, para que a esperança se renove, a coragem para lutar teime, a certeza da vitória nos empurre para o futuro aguardando o dia em que os nossos olhos o verão como Ele é. Feliz Páscoa da ressurreição.
Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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