“Porque a graça de Deus se manifestou salvadora a todos os homens. Ela nos ensina a renunciar à impiedade e às paixões mundanas e a viver de maneira sensata, justa e piedosa nesta era presente, enquanto aguardamos a bendita esperança: a gloriosa manifestação de nosso grande Deus e Salvador, Jesus Cristo” (Tt 2.11-13).
Neste domingo iniciamos o novo ano litúrgico da igreja com o tempo do Advento. O ciclo litúrgico do Advento possui duas dimensões distintas. Infelizmente, no ramo reformado ou evangélico da Igreja, apenas a preparação imediata para a celebração do Natal recebe alguma consideração. Alguns hinários possuem uma seção dedicada ao Advento com hinos seletos ou apropriados, todos direcionados à primeira vinda de Jesus. Entretanto, um dos aspectos que envolvem esse tempo litúrgico é o de fazer uma conexão entre a primeira e a segunda vinda do Salvador. O Advento é também um tempo litúrgico de expectação escatológica e não apenas uma ocasião para o incremento da piedade para bem celebrar o Natal de maneira cristã. Esta dimensão escatológica do Advento, nas liturgias mais antigas, pode ser observada nas duas primeiras semanas do ciclo. Os hinos mais antigos para esse período lançam mão, inclusive, da mitologia grega sobre a ‘Sibila’ que vaticinava um período de caos, escuridão e cinza fria, o tempo do fim. Evidentemente que esses hinos apontam para a necessidade de Cristo e a sua volta gloriosa para reestabelecer a vida, a harmonia e a paz através do seu reinado eterno. Então, celebrar o Advento significa gemer nesse vale de lágrimas com as palavras do Apocalipse: Maranata, Vem Senhor! Enquanto nos preparamos exteriormente, inclusive, para agradecer ao Pai o fato de nos ter dado Jesus Cristo como o nosso Salvador, o centro das festas natalinas, não descuidamos de interiormente nutrir em ânsias de amor por sua volta gloriosa, definitiva. A cor litúrgica do Advento, o roxo, aponta para a realidade de que devemos estar vigilantes quanto a volta do Salvador. Significa que não podemos viver descuidados, de tal maneira enraizados e submersos nas ocupações e preocupações desta vida que não prestemos a atenção nos sinais de sua volta iminente. Um texto bíblico bastante apropriado para essa parte do Advento, no primeiro domingo, é o das virgens prudentes e as imprudentes (Mateus 25.1-13). Não sabemos o dia, nem a hora da volta de Jesus, sabemos apenas que Ele voltará e é nosso dever aguardar por Ele. Essa espera não implica no abandono da vida presente com os seus deveres, mas no vivê-la de maneira adequada, isto é, vivê-la pela fé no Filho de Deus. Amando a esposa e os filhos por amor e no amor de Cristo. Estudando, conquistando graus acadêmicos, para que Cristo seja honrado. Trabalhando, comprometendo-se com o desenvolvimento, o bem-estar de todos e a justiça social, para que o Reino de Cristo seja manifesto. Testemunhando, servindo e amando, para que Cristo seja conhecido. E, por fim, nada mais tendo a fazer que não morrer, morrer no Senhor, para que Cristo seja desejado mais que a vida. A primeira parte do Advento nos lembra o que o Evangelho não se trata de nós, de nossa vida, de nossa felicidade, de nossos planos. Não em um primeiríssimo momento. O Evangelho diz respeito ao Filho de Deus, à sua excelsa e bendita pessoa, sua divindade, sua vida santíssima entre nós, seu evangelho eterno, seus milagres, sua cruz, morte, ressurreição, ascensão e retorno glorioso. Fica claro que tudo o mais de nossas vidas também diz respeito a Ele, o que Ele é para nós, o quanto o apreciamos, o quanto queremos agradá-lo e o quanto o desejamos como nosso. Por isso, não há melhor maneira de viver a nossa expectação pelo retorno dele, do que viver à luz da ordenança de Paulo: “Tudo o que fizerem, seja em palavra ou em ação, façam-no em nome do Senhor Jesus, dando por meio dele graças a Deus Pai” (Cl 3.17). O Advento, em seu primeiro ciclo, renova em nós a nossa identidade escatológica e o fim último de nossa existência, viver na presença de Deus sob os novos céus na nova terra, onde a “justiça e a paz se beijarão” (Sl 85.10), um lugar onde “Ninguém fará nenhum mal, nem destruirá coisa alguma em todo o meu santo monte, pois a terra se encherá do conhecimento do Senhor como as águas cobrem o mar” (Isaías 11:9), um tempo em que “Ele enxugará dos seus olhos toda lágrima. Não haverá mais morte, nem tristeza, nem choro, nem dor, pois a antiga ordem já passou" (Apocalipse 21:4). Antes de nos prepararmos para os ternos e emocionantes momentos da recordação do Natal de Jesus, já acontecido e agora celebrado com ações de graças, certifiquemo-nos de aspirarmos do fundo das nossas almas o mundo novo que há de vir, quando Ele voltar. Vem, Senhor Jesus!
Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
Comentários, artigos e outras opiniões de colaboradores e articulistas não refletem necessariamente o pensamento do site, sendo de única e total responsabilidade de seus autores.