O arrependimento é uma graça evangélica, uma graça salvífica, conforme ensina o Catecismo de Westminster, pergunta 76. Esse arrependimento que é o resultado do Espírito Santo iluminando, julgando e constrangendo o coração, é aquele que conduz à vida. Isto porquê, existe um outro tipo de arrependimento que conduz a morte. É um sentimento não produzido pelo Espírito de Deus, não é acompanhado da fé em Cristo como Salvador, mas um remorso amargurado, triste. Todavia, a tristeza e um certo tipo de amargura fazem parte também do arrependimento que conduz a vida, entretanto, a origem dessas tristezas é que são diferentes. O remorso amargurado é aquela “tristeza segundo o mundo [que] produz morte” (2 Co 7.9 b), cujo melhor exemplo é Judas Iscariotes: “Quando Judas, que o havia traído, viu que Jesus fora condenado, foi tomado de remorso e devolveu aos chefes dos sacerdotes e aos líderes religiosos as trinta moedas de prata. E disse: ‘Pequei, pois traí sangue inocente’. E eles retrucaram: ‘Que nos importa? A responsabilidade é sua’. Então Judas jogou o dinheiro dentro do templo, saindo, foi e enforcou-se” (Mt 27.3-5). O arrependimento que conduz a salvação é “a tristeza segundo Deus [que] produz um arrependimento que leva à salvação” (2 Co 7.9 a), aqui a apóstolo Pedro é o nosso melhor exemplo: “E logo o galo cantou pela segunda vez. Então Pedro se lembrou da palavra que Jesus lhe tinha dito: ‘Antes que duas vezes cante o galo, você me negará três vezes’. E se pôs a chorar” (Mc 14.72). O choro de Pedro foi provocado pelo amor, pelo constrangimento do Espírito Santo, pela fé em Jesus como o seu Salvador pessoal que o levou a experimentar uma terrível dor na alma e ao mesmo tempo sentir ódio do seu pecado e a considerar a pessoa bendita de Cristo. Mais tarde, arrependido e constrangido, ancorado apenas no amor de Jesus e sua justiça, despido de qualquer autojustificativa, Pedro irá confessar seu amor incondicional a Jesus e será restaurado em graça e em vida (Jo 21. 15-19). Embora o arrependimento seja um ato decisivo dentro do processo de conversão, pois existe um arrependimento ‘fontal’, isto é, aquele de onde surge o andar em novidade de vida, arrependimento que nasce da nova natureza recebida na regeneração, que vem acompanhado da fé em Jesus Cristo como Salvador e Justificador, contudo, não é um ato único, como o são a regeneração, a justificação e a adoção, por exemplo. Esses, não podem ser repetidos, diminuídos ou aumentados. São ações definitivas, como definitivas foram a morte e a ressurreição de Jesus. Toda a vida cristã é um contínuo arrepender-se até o dia de nossa morte. Todos os dias pela leitura e audição da Palavra, pela vida de oração, pela frequência nos sacramentos e de maneira especial pela habitação do Espírito Santo em nós, somos sempre levados a fazer um sério exame de nossas consciências e de nossos atos. Nossa mente é levada a ponderar o nosso estado e condição diante de Deus e no relacionamento com os nossos irmãos, parentes e vizinhos. Esses meios ordinários (leitura, oração e sacramentos), mais a habitual, porém, sobrenatural presença do Espírito Santo, são suficientes para nos dar uma consciência sensível à presença e odiosidade do pecado, a tristeza segundo Deus, o desejo empoderado e sincero para abandoná-lo e sobretudo, a graça de não mais cometê-lo. Todo arrependimento sincero envolve os seguintes elementos: 1. Intelectual: O conhecimento objetivo do pecado e o julgamento de Deus: “Deus retribuirá a cada um conforme o seu procedimento. Ele dará vida eterna aos que, persistindo em fazer o bem, buscam glória, honra e imortalidade. Mas haverá ira e indignação para os que são egoístas, que rejeitam a verdade e seguem a injustiça” (Rm 2.6-8) e ainda: “No passado Deus não levou em conta essa ignorância, mas agora ordena que todos, em todo lugar, se arrependam. Pois estabeleceu um dia em que há de julgar o mundo com justiça, por meio do homem que designou. E deu provas disso a todos, ressuscitando-o dentre os mortos". (At 17.30,31.) 2. Emocional: Um sentimento de desamparo e dor na consciência: “Contra ti, só contra ti, pequei e fiz o que tu reprovas, de modo que justa é a tua sentença e tens razão em condenar-me. (...) Esconde o rosto dos meus pecados e apaga todas as minhas iniquidades” (Sl 51.4,9) 3. Volitivo: uma verdadeira mudança de propósito: “Portanto, cada um de vocês deve abandonar a mentira e falar a verdade ao seu próximo, pois todos somos membros de um mesmo corpo” (Ef 4:25) e mais: “Dêem a cada um o que lhe é devido: Se imposto, imposto; se tributo, tributo; se temor, temor; se honra, honra. Não devam nada a ninguém, a não ser o amor de uns pelos outros, pois aquele que ama seu próximo tem cumprido a lei. Pois estes mandamentos: "Não adulterarás", "não matarás", "não furtarás", "não cobiçarás", e qualquer outro mandamento, todos se resumem neste preceito: "Ame o seu próximo como a si mesmo". O amor não pratica o mal contra o próximo. Portanto, o amor é o cumprimento da lei. Façam isso, compreendendo o tempo em que vivemos. Chegou a hora de vocês despertarem do sono, porque agora a nossa salvação está mais próxima do que quando cremos” (Rm 13.7-11). Assim, devemos todos em todo o tempo, experimentar a tristeza segundo Deus para podermos como povo santo, usufruir da alegria da Graça que consiste na vida centrada em Cristo e no seu amor.
Reverendo Luiz Fernando é Pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira
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