“As armas com as quais lutamos não são humanas; pelo contrário, são poderosas em Deus para destruir fortalezas” (2 Co 10.4).
O livro dos Atos dos Apóstolos relata um interessante e significante episódio do ministério e da missão do Apóstolo Paulo: “Alguns filósofos epicureus e estóicos começaram a discutir com ele. Alguns perguntavam: O que está tentando dizer esse tagarela? Outros diziam: ‘Parece que ele está anunciando deuses estrangeiros’, pois Paulo estava pregando as boas novas a respeito de Jesus e da ressurreição. Então o levaram a uma reunião do Areópago, onde lhe perguntaram: Podemos saber que novo ensino é esse que você está anunciando?
Você está nos apresentando algumas ideias estranhas, e queremos saber o que elas significam. Todos os atenienses e estrangeiros que ali viviam não cuidavam de outra coisa senão falar ou ouvir as últimas novidades. Então Paulo levantou-se na reunião do Areópago e disse: Atenienses! Vejo que em todos os aspectos vocês são muito religiosos, pois, andando pela cidade, observei cuidadosamente seus objetos de culto e encontrei até um altar com esta inscrição: AO DEUS DESCONHECIDO. Ora, o que vocês adoram, apesar de não conhecerem, eu lhes anuncio” (At 17.18-23).
O Areópago era o lugar onde as decisões, as ideias, as tendências e as opiniões eram debatidas, e onde a opinião e o inconsciente coletivos eram formados. O Areópago era o centro nevrálgico da cultura. Pois bem, o Apóstolo Paulo impulsionado pelo Espírito Santo e consciente de que ali era um lugar difícil, porém estratégico, abre diálogo com os filósofos, interpela-os, arrazoa com eles e lhes anuncia as Boas Novas de salvação. Em um primeiro momento parece ter fracassado, contudo, anos mais tarde o próprio Paulo será beneficiado pelos frutos desta pregação.
Os nossos dias também têm os seus Areópagos, os lugares onde as decisões que alcançam a vida de todos os homens são tomadas. Lugares onde o que podemos e o que devemos fazer travam uma luta ética que põem em risco a dignidade e a vida humanas todos os dias. Lugares que formam a opinião num turbilhão de informações em tempo real, na verdade impossível de serem assimiladas e integradas com proveito e crítica em nossa própria vida. Estes lugares são: O mundo acadêmico e das ciências. O mundo das artes, do entretenimento e da cultura. A arena política partidária e a organização popular. Os meios de comunicação, de maneira particular as Redes Sociais e suas multifacetadas plataformas. São lugares onde somos convocados pelo Espírito Santo a nos fazermos presentes, abrir diálogo corajoso, franco, respeitoso, leal e com inteligência. Claro, sempre na dependência do Espírito Santo, mas com argumentos racionais, demonstrando não só a veracidade, relevância e oportunidade do Evangelho, mas também defendendo a fé dos ataques do secularismo, relativismo, ateísmo e etc.
Não se trata apenas desta apologética defensiva com fins de combater erros. Mas de uma apologética ofensiva. Em seu artigo “Christianity and Culture”, J. Gresham Marchen, o grande teólogo de Princeton advertiu solenemente: “Ideias falsas são o maior obstáculo à recepção do Evangelho. Podemos pregar com o fervor de um Reformador e mesmo assim ganhar somente alguém que está vagando aqui e acolá, se permitirmos que todo o pensamento coletivo da nação ou do mundo seja controlado por ideias que, pela força irresistível da lógica, impedem que o cristianismo seja considerado algo mais do que um engano inofensivo.” (Princenton Review, 11 – 1913). Isto quer dizer que temos a maior urgência de abandonarmos o gueto religioso em que nos encontramos muitas vezes, cruzar a barreira da subcultura cristã em que estamos aprisionados e vencer esta ilusória sensação de triunfalismo ufanista de nosso crescimento no Brasil, para decisiva, honesta e profeticamente nos inserir nestes novos Areópagos.
Muitas leis, muitos projetos e muitas plataformas políticas e muito do condicionamento cultural por meio do entretenimento e da arte trazem em seu bojo uma visão despersonalizada do homem e de sua dignidade. Em nome do pragmatismo, do consumo e do politicamente correto os fundamentos da moral cristã e da ética com os solenes postulados da família e outros estão sendo atacados. E tudo começa com a apresentação de ideias, discursos ‘lógicos’, de sofismas bem construídos que não encontram interlocutores capazes. Temos de nos preparar bem e sair em busca destes Areópagos se quisermos ser de fato, ouvidos. Até lá, faremos bem se atentarmos para o que ensina o Apóstolo Pedro: “Antes, santifiquem Cristo como Senhor no coração. Estejam sempre preparados para responder a qualquer que lhes pedir a razão da esperança que há em vocês”(1 Pe 3.15).
Rev. Luiz Fernando
É Ministro da Igreja Presbiteriana do Brasil em Itapira
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