A Tradição da Igreja viu nessa expressão em latim que dá o título a esta pastoral, conforme registrado em Lucas 11.20, uma obra realizada pelo Espírito Santo no ministério terreno de Jesus: “Se, porém, eu expulso os demônios pelo dedo de Deus, certamente, é chegado o Reino de Deus sobre vós” (ARA). “Digitus Dei”, portanto, significa “dedo de Deus”, uma obra realizada pela mão, pelo poder de Deus que é o próprio Espírito Santo. A comemoração de Pentecostes é uma espécie de aniversário da igreja cristã, o nascimento de uma realidade única e inaudita na experiência humana, uma comunidade multiétnica, interracial, internacional, que coloca em pé de igualdade de direitos e dignidades homem, mulher, escravo, livre, rico, pobre, letrado, analfabeto, potentados e pessoas simples. Uma comunidade de adoradores de um Deus único, transcultural, supracultural, que não se identifica ou confunde com cultura alguma e nem está aprisionado a nenhuma delas. Em Pentecostes o mundo viu surgir uma nova humanidade reconciliada com Deus, perdoada, regenerada, liberta dos poderes das trevas, com uma mensagem de vida, paz, perdão e amor. Uma mensagem que apresenta a Deus como um Pai amoroso, cuidador, atento e interessado pela sorte dos homens e mulheres que caminham neste mundo. No dia em que o Espírito Santo desceu sobre os apóstolos naquela manhã de Pentecostes, o Reino de Deus tornou-se visível ao mundo por meio da Igreja que manifesta a sabedoria de Deus até mesmo entre os anjos (Ef 3.10). Ditas essas coisas, embora o Pentecostes registrado em Atos dos Apóstolos seja um evento único e que não se repetiu na história da Igreja, isso não quer dizer que o Espírito Santo não a tenha visitado de maneira poderosa ao longo dos séculos. Na verdade, desde aquela gloriosa manhã, o Espírito Santo jamais abandonou a igreja, mas é verdade também que a negligência dos líderes, o esfriamento na fé e no amor dos crentes, a nossa pecaminosidade latente, pode por vezes “extinguir”, “apagar” as marcas de seus feitos e nos fazer insensíveis à sua doce presença entre nós e em nós. Assim, em momentos aprazados pela soberania do Eterno, o Espírito Santo tem visitado a comunidade dos salvos promovendo profundas transformações de vidas. Esses momentos são conhecidos como ‘despertamentos’ ou ‘avivamentos’. Dias como esses devem ser desejados pela igreja sempre. Dias de uma visitação especial onde haja quebrantamento, convicção de pecados, desespero por uma condição desamparada da graça de Cristo. Dias de grande anseio por comunhão com Cristo, vida santificada, pureza do coração e retidão moral. Devemos suplicar uma visitação que nos encha de poder, intrepidez e capacitação espiritual semelhante à de Pedro e dos demais discípulos na proclamação do Evangelho a todo homem começando por nossa casa e até os confins da terra. Quando o Espírito desce sobre a igreja, e vale ressaltar que é sobre a igreja somente que Ele vem, tudo ao seu redor é tocado por essa visitação como consequência secundária, mas não menos desejada e apreciada por Deus. Onde o avivamento ocorre, por meio da igreja, a boa graça de Deus desborda e transborda para o mundo refreando os excessos de uma sociedade depravada e da corrupção dos corações projetada na política, na educação, na economia, nas artes e etc. É tamanha essa visitação que mesmo os violentos são contidos e constrangidos por um espírito de temperança e moderação e um tempo de paz e prosperidade é desfrutado por todos. Precisamos desesperadamente em nossos dias que o ‘dedo de Deus’ imprima a sua digital de vida, graça e poder também em nossa igreja e em nossos corações. Vinde Espírito Santo!

Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira