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Itapira, 21 de Novembro de 2024
Notícia
09/03/2021 | Luiz Santos: Esmola

A prática de dar esmolas vem de longe, já fazia parte da piedade do povo de Deus no Antigo Testamento. Havia as esmolas ofertadas aos pobres andarilhos, aos cegos, aos leprosos e esmolas feitas no templo, para o socorro mais geral das necessidades. O Novo Testamento também conheceu e recebeu esta herança dos seus antepassados da primeira Aliança e a praticava com naturalidade. A esmola significava compaixão, empatia, amor ao próximo. Era um nobre gesto que demonstrava largueza de coração e desprendimento. Com o passar do tempo, tudo que é próprio deste mundo caído, não demorou muito e o sentido de ofertas esmolas foi completamente distorcido. Quer pelo legalismo, pelo exibicionismo, pelo culto à vaidade e à justiça própria, quer porque pedir esmola foi de tal forma “beatificada” que tornou-se para muitos um estilo de vida pretensiosamente piedoso e, para outros, um jeito de escapar das obrigações da vida. Sem querer ser moralista aqui, os reformadores tentaram dar uma interpretação mais evangélica a esta prática. Primeiro, desmistificaram qualquer santidade ou piedade embutida no fato de se viver de esmola e na pobreza voluntária, como se fosse um voto religioso mais santo. Depois, valorizaram e deram ao trabalho uma dimensão mais humana, mais bíblica, que nada tinha de maldição ou condição subalterna na sociedade. Aliás, os monges beneditinos e cistercienses já entendiam a nobreza e a participação do trabalho no processo de humanização e santificação. E, por último, os reformadores empreenderam esforços educacionais e criaram instituições para administrar a justiça e a promoção social, evitando-se o assistencialismo e o clientelismo, que só fazem arrastar uma condição de indignidade. Claro, nunca se negando o socorro imediato. O mundo mudou, a cultura não é mais a mesma, o Estado é mais participativo nas questões sociais com modernas leis e também a consciência religiosa não é mais a mesma. A esmola, hoje, aquela oferta que somos às vezes provocados a fazer por um transeunte, um pobre que bate à nossa porta, nem sempre é o melhor. A epidemia das drogas, do álcool e da violência desaconselham tal prática, antes piedosa e hoje, em grande desconsideração. Embora as transformações citadas estejam aí uma coisa, contudo, não mudou e Jesus mesmo já havia ‘profetizado’: os pobres estão sempre conosco. Há pobreza em toda parte e em todo lugar. Mesmo na rica Europa, nos opulentos Estados Unidos da América ou nas medianas condições latino-americanas, sem citar a África, os pobres, a pobreza e a miséria estão por toda a parte. Não podemos ignorar o fato de que os pobres estão no coração da agenda de Jesus: "O Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu para pregar boas novas aos pobres. Ele me enviou para proclamar liberdade aos presos e recuperação da vista aos cegos, para libertar os oprimidos e proclamar o ano da graça do Senhor" (Lc 4.18,19) e a missão da Igreja não deveria, jamais, negligenciar os pobres: “Naqueles dias, crescendo o número de discípulos, os judeus de fala grega entre eles queixaram-se dos judeus de fala hebraica, porque suas viúvas estavam sendo esquecidas na distribuição diária de alimento. Por isso os Doze reuniram todos os discípulos e disseram: Não é certo negligenciarmos o ministério da palavra de Deus, a fim de servir às mesas. Irmãos, escolham entre vocês sete homens de bom testemunho, cheios do Espírito e de sabedoria. Passaremos a eles essa tarefa e nos dedicaremos à oração e ao ministério da palavra". (At 6.1-4) e ainda: “Somente pediram que nos lembrássemos dos pobres, o que me esforcei por fazer” (Gl 2.10). Se pobres e pobreza nos rodeiam, a igreja e os crentes individualmente, não podem ficar insensíveis e indiferentes, absolutamente! A necessidade de esmolas para quem dá e quem recebe ainda se faz necessário, contudo, deve receber uma nova tradução e novas maneiras de serem praticadas. Em primeiro lugar devemos nos deixar indignar com a realidade da miséria. Indignação não só religiosa, mas política, social, uma reivindicação da justiça. Em segundo lugar, não permitir que essa indignação se torne ódio e descambe para a violência de qualquer natureza, mas purificando-a pelo amor, que dá a exata dimensão de todas as coisas. Ainda que esse amor seja inflamado e viril, ainda sim é amor. Em terceiro, engajando-se. Há tantas oportunidades, tantas plataformas, tantas maneiras de servir, iniciar um processo de transformação, enfim, abençoar que não restam desculpas aceitáveis, justificáveis. Você pode fazer a diferença na vida de alguém e diminuir o fosso da desigualdade e da pobreza sendo voluntário, fazendo renúncias fiscais, doando, participando efetivamente de coletivos e conselhos que discutem e implementam políticas sociais, políticas públicas. Você pode e deve fiscalizar os candidatos em quem você votou e cobrar deles. Também em sua Igreja local, além de provocar a discussão sobre a realidade e animar outros a se empenhar, em amor cobrar as lideranças para que não haja negligência neste ponto e que a Igreja não descanse em um assistencialismo simplista ou invista todos os seus recursos em eventos ensimesmados. O conceito religioso de esmola evoluiu, evolua você também. Doe-se!

Reverendo Luiz Fernando dos Santos é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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