Existem muitas maneiras de atribuir valor a um bem. Atribuímos valor monetário, estético, afetivo e sobremaneira, quanto à sua utilidade e necessidade. Um saca-rolhas, por exemplo, quando é a única coisa que possuímos, em pleno deserto do Saara, pode não ter muito valor. Mas, se na recepção de uma pessoa ilustre em sua casa, na hora de servir um vinho de boa qualidade, possuir finas taças e não ter à disposição um simples saca-rolhas, você poderá se encontrar em uma situação no mínimo constrangedora. Para essa ocasião, o saca-rolhas possui um valor para além do material de que é feito, inclusive. A Bíblia nos ensina sabedoria para ser aplicada em todas as áreas da vida. Ela nos orienta quanto ao discernimento entre o que é essencial, o que é necessário, o que é útil, o que é bom possuir e o que é supérfluo ou resvala para a avareza, a vaidade e a idolatria. Pão, água, conhecimentos gerais, tecnológicos, bens artísticos são coisas necessárias à vida. Sem elas, não seria possível o pleno desenvolvimento da nossa humanidade. Pá, martelo, bisturi, computador, dinheiro, joias, política são bens úteis. Facilitam a nossa vida, transformam a realidade em nosso entorno, torna a nossa existência mais adaptável, possível e mais confortável nesse mundo. Finas vestes, perfumes caríssimos, pratos exóticos, carros luxuosos e mansões nababescas podem não ser pecaminosos em si, mas em todo o caso, no que diz respeito às necessidades básicas da vida, são superfluidades e não raras vezes resvalam na idolatria e até mesmo na injustiça social. Esse conjunto de coisas citadas acima podem contribuir, cada uma a sua maneira, para que a vida humana tenha algum sentido, que a nossa relação com o mundo tenha lá o seu desfrute e tenhamos a sensação de que estamos nos realizando como pessoa e sociedade. Mas, quando se trata do que é essencial devemos nos perguntar com o salmista: “Quem mais tenho eu no céu? Não há outro em quem eu me compraza na terra” (Sl 73.25). Mais que o ar, o pão, a água, o ouro mais fino ou a pedra mais preciosa. Mais, muito mais que todo o conhecimento humano, mais que todas as técnicas e suas utilidades. Para muito além de toda a beleza produzida pelas artes, está o conhecimento salvador da pessoa excelsa e bendita do Senhor Jesus Cristo. Ele é de fato, o bem mais precioso que um homem possa possuir. Nada se compara ao seu valor e Ele é a realidade mais essencial para a nossa vida aqui e no por vir. A ‘posse’ de Jesus pelo coração humano não invalida e nem exclui os outros bens. Antes, os coloca em sua real escala de valores, de necessidade e de utilidade. É em Jesus que todas as demais esferas da realidade humana ganham consistência e coerência. É Ele que concede o pão e ao pão a propriedade de suprir as nossas necessidades. É Ele a fonte de toda sabedoria e ciência que empresta ao gênero humano a capacidade de criar, inventar e dominar sobre a natureza. É a beleza de sua santidade e pessoa glorificada que espargi sobre a mente humana a beleza encontrada na arte. Vem do seu cetro de poder e da sua autoridade a habilidade e a capacidade humana de se organizar em sociedade e basear as decisões com justiça e equidade. Não obstante a sua glória incomparável nos céus, quando de sua visita entre nós, por ocasião de sua encarnação, Jesus Cristo nos ensinou com o exemplo de sua vida a valorizar os bens mais necessários para uma vivência plena de nossa humanidade. O Senhor Jesus valorizou o amor acolhedor e cuidador, o zelo e a autoridade de seus pais. Durante o transcurso de sua vida ‘escondida’ em Nazaré, somos informados de que era submisso aos seus pais. Valorizou a vida religiosa, tanto a formal, no templo e na sinagoga, como a devoção e a piedade do lar. Jesus teve em alta conta o trabalho, aprendeu a profissão de seu pai adotivo e nunca foi pesado a ninguém. Ganhou o pão de sua sobrevivência humana com o trabalho de suas mãos e o suor do seu rosto. Jesus valorizou a vida social, a interação com as pessoas e as suas conquistas, frequentou festas de casamento e participou da dinâmica da pacata sociedade de Nazaré. Jesus valorizou os amigos e ele teve muitos: Lázaro, Maria e Marta de Betânia, Pedro, Tiago e João, Nicodemos etc. Entretanto, o que Jesus deu mais valor enquanto esteve entre nós, foi o seu relacionamento pessoal com o Pai. Foram longas jornadas de oração madrugada à dentro. Momentos de entrega e amor sacrificial em obediência e demonstrações de um amor imensurável ao Pai. Em tudo buscava o agrado e a glória daquele que chamou de “Aba”. Se temos o Senhor Jesus como o nosso bem mais valioso, é certo que teremos também o seu ensino e o exemplo de sua vida como as realidades mais essenciais para a nossa felicidade aqui e quando o Reino definitivo chegar.
Reverendo Luiz Fernando é Ministro Presbiteriano
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