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Itapira, 21 de Novembro de 2024
Notícia
29/09/2020 | Luiz Santos: O legado de 2020

Estamos entrando nas últimas voltas do ano de 2020 e como em uma corrida de Fórmula 1, estamos nas voltas finais no autódromo, sendo que outubro é sempre a penúltima volta, em novembro faremos a última curva para em dezembro entrarmos decididamente na reta final. Esse ano tivemos problemas na largada, muitos incidentes nos impediram de assumir a dianteira e ainda fez mau tempo o tempo todo. Pouca visibilidade, muitas derrapadas, acidentes fatais e por várias vezes o ‘safety-car’ precisou entrar na pista, fazendo assim a velocidade diminuir e nos fazer andar em marchas pesadas. Gastamos muito a lona de freio também com as muitas bruscas paradas que fomos forçados a dar. O tempo continua instável e a visibilidade é um pouco melhor, mas não a ideal, e o resultado final, permanece imprevisível. Entretanto, isso não quer dizer que o ano de 2020 foi perdido, absolutamente.  Não obstante todos os sofrimentos, todas as dificuldades e todas as más lembranças desses dias de pandemia, haverá lugar para uma história de tirar o fôlego para ser contada. Não só histórias pessoais que envolverão, com absoluta certeza, perdas, despedidas doídas, projetos arruinados, superação, vitórias pessoais, nascimentos, mortes, etc. Haverá necessariamente uma história comunitária a ser contada por gerações à frente. O ano de 2020 deixará um legado para as futuras gerações de crentes, porque, a pandemia também trouxe uma oportunidade para uma séria avaliação do nosso compromisso com a Aliança, a profundidade do nosso discipulado, o nosso entendimento de pertença ao povo de Deus, o que é ser igreja e, por fim, o quanto estamos dispostos, por amor a Jesus, nos engajar em missões. De alguma maneira misteriosa, e escrevo isso com todo o temor no coração, esses dias de paralisação das atividades presenciais, revelou quem é quem na ordem do dia. Fez vir à luz, um pouco do que realmente é importante na vida dos irmãos, o que realmente faz a diferença em suas vidas e o que, de fato, buscam para a existência, quando a formalidade da religião desaparece. Fiquei impressionado, realmente impressionado que para alguns irmãos, uns oficiais, outros com cargos e ministérios importantes na comunidade, que o simples cerrar as portas do templo, significou também a suspensão de suas atividades mais efetivamente comprometidas com as obras. A pandemia não foi somente uma dificuldade e um desafio sanitário delicado, mas também uma oportunidade única para incrementar e com audácia e criatividade dar um melhor e mais amplificado testemunho de Cristo. Nesses dias em que o fosso da pobreza aumentou no Brasil, (o Auxílio Emergencial, como o próprio nome diz, é emergencial e, de verdade, nem chegou a todos que precisavam, embora tenha chegado a muitos, graças a Deus), é uma boa hora para ouvir de Jesus “Dá-lhes vós mesmos de comer” (Lc 9.13). É a ocasião perfeita em meio a tempestade perfeita de participar ativamente com outros atores sociais na busca de soluções e socorros dos vulneráveis. É a hora perfeita, para com generosidade e abertura de coração, associar-nos a outros que estão fazendo igualmente o bem e pleiteando a justiça, ainda que desconheçam ou mesmo rejeitem o que cremos. Fico pensando se a simples suspensão do ministério com as crianças, por exemplo, no Centro de Educação Cristã do Istor Lupi, contribui de verdade para a segurança das crianças. E o que é pior, se o que era feito antes era suficiente para formar nos agentes um compromisso que os fizesse atuantes agora na pandemia, com visitas, assistência social, arrecadação de alimentos e o devido cuidado emocional e espiritual. E o que dizer da oração comunitária, aquela feita como corpo unido ao cabeça, os irmãos juntos, ainda que virtualmente, para orar. A pandemia também revelou a nossa fraqueza e negligência em cultivar uma espiritualidade de oração e comunhão. Alguns demonstraram profunda ‘desidentificação’ com a igreja local, comunidade do pacto. Os poucos que ainda procuravam participar de Escolas Bíblicas Dominicais, com satisfação e sem nenhuma dor no coração, acessavam outros pastores, outras igrejas, para quem sabe buscar ou sentir novidades religiosas, esvaziando, contudo, as reuniões daquela igreja, que em tempos normais, jamais negou o seu amor e o seu cuidado. Que história, no fim das contas, vamos ter para contar como igreja, se e quando a pandemia passar? Que feitos de Deus por meio de nossas pobres vidas teremos a oferecer aos nossos sucessores? Será que alguns de nós terá apenas uma galeria de fotos lindas em lugares deslumbrantes e ainda sentirão saudades de um tempo em que o caos proporcionou dias de lazer mais intenso? A pandemia ainda não passou. O fim do ano ainda não chegou. Isto significa que dá tempo ainda de escrever uma história de salvação e de testemunho, de serviço e missão que ficará como o nosso legado para outros, que com a permissão de Deus, não serão submetidos às duras provas desses dias.

Reverendo Luiz Fernando é pastor na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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