“Todos ficaram cheios do Espírito Santo...” (At 2. 4 b).
A Igreja cristã comemorou recentemente a festa de Pentecostes. Pentecostes é uma festa já existente no Antigo Testamento que celebrava entre outras coisas as primícias das colheitas e o dom da Lei no Monte Sinai. Para o cristianismo o Pentecostes é a comemoração da descida do Espírito Santo sobre os discípulos inaugurando a missão da Igreja no mundo. Sem o cumprimento dessa promessa já feita antes no Antigo Testamento pelo profeta Joel e renovada por Jesus Cristo antes de sua paixão Jo 14-16 e confirmada em At 1.8 por ocasião de sua Ascensão, a igreja seria um projeto fadado a fracassar como mero empreendimento humano. O Espírito Santo foi derramado sobre os discípulos e passou a habitar definitivamente a alma dos crentes para o empoderamento desses no cumprimento de sua missão. O Espírito Santo além dos aspectos ligados à salvação, regeneração, novo nascimento, justificação, santificação e adoção, cumpre na vida dos cristãos outros ministérios igualmente imprescindíveis. É o Espírito Santo quem preserva viva e atuante a memória de Jesus e seus feitos salvíficos na Igreja por meio das Sagradas Escrituras. Além de inspirar a sua redação, o Espírito Santo a conservou no transcurso dos séculos de geração em geração e ainda conferiu poder e graça por meio da pregação. Sem o Espírito Santo a leitura e audição da Bíblia nos serve para muito pouco ou para quase nada a bem da verdade. O Espírito Santo é o grande protagonista na missão da Igreja e é mesmo a sua alma. Nossas famílias também precisam sofrer uma espécie de pentecostes, uma poderosa visitação do Espírito Santo em forma de avivamento e despertamento espiritual. Famílias que não se deixam conduzir e encher pelo Espírito Santo não demora muito a perder-se em toda sorte de ilusão e dissolução. A religião é coisa boa, como a frequência assídua na igreja também. Mas, sem que os membros da família busquem o enchimento do Espírito Santo e uma renovação espiritual constante, o formalismo religioso não demora muito se degenera em hipocrisia, vida dupla e cultivo de pecados secretos e até mesmo de sordidez e imoralidade. É o Espírito Santo quem deve lembrar os casais da beleza da aliança matrimonial e do amor exclusivo que deve existir entre os cônjuges, vetando assim toda fantasia, toda tentação e toda beleza existente em estranhos como algo não só indesejado e perigoso, mas como algo nojento e repugnante. Só o Espírito Santo pode levar os corações dos filhos inclinarem-se à obediência, a acolhida amorosa da instrução dos pais e demonstrarem gratidão e honra aos mais velhos e aos que estão investidos de autoridade. Só o Espírito Santo pode livrar uma família da má mordomia em relação ao dinheiro, dos perigos do consumismo, das armadilhas do hedonismo e do entretenimento como projeto de vida vazio e inconsistente. É o Espírito Santo quem conduz uma família à plena unidade e comunhão entre os seus membros, quem ilumina os passos na busca dos essenciais da vida. É o Espírito Santo e só Ele que faz com que uma cultura de perdão, reconciliação, e acolhimento seja possível num lar estável e saudável. Onde o Espírito Santo está presente e atuante os vícios são afastados, as virtudes morais e éticas são produzidas e fortalecidas e um espírito generoso e altruísta desenvolve-se com naturalidade. Há um hino medieval antigo, ainda conservado em muitas liturgias como a luterana, anglicana e católica que chama o Espírito divino de “doce hóspede da alma”. Confesso que raras vezes encontrei um título mais lindo que este para o Espírito Santo e de alguma maneira me lembra os cuidados que as Escrituras nos pedem: “não extingais o Espírito...não entristeçais o Espírito Santo” e etc. Para que o Espírito Santo permaneça como doce hóspede de nossos lares, um ambiente adequado deve ser cultivado. Sem gritarias, sem ofensas aviltantes, sem palavrões ou linguajar indecente. Onde essas coisas estão presentes é certo e seguro que haverá uma saída silenciosa, porém catastrófica do Espírito. Um ambiente que cultiva a piedade, relacionamentos marcados pelo amor, pela misericórdia, pelo respeito e pela amabilidade, concorre francamente para que o Espírito queira ficar e interagir. Onde as Escrituras são lidas e obedecidas e hinos de louvor e adoração são entoados, então é certo e seguro que de ‘doce hóspede’ esse mesmo Espírito queira integrar-nos mais perfeitamente em sua família divina.
Reverendo Luiz Fernando é ministro da Igreja Presbiteriana Central de Itapira, professor de Teologia Pastoral e Bioética no Seminário Presbiteriano do Sul e de Filosofia na Faculdade Internacional de Teologia Reformada – Fitref.
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