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Itapira, 23 de Novembro de 2024
Notícia
07/02/2018 | Luiz Santos: Operação Mãos Sujas

 A Operação Mãos Limpas (em italiano: ‘Mani pulite’), inicialmente chamada ‘Caso Tangentopoli’ (em português, 'cidade do suborno' ou 'cidade da propina', termo cunhado por Piero Colaprico, cronista do jornal La Repubblica, referindo-se à cidade de Milão), foi uma investigação judicial de grande envergadura realizada na Itália. A operação teve início em Milão e visava esclarecer casos de corrupção durante a década de 1990 (no período de 1992 a 1996) na sequência do escândalo do Banco Ambrosiano, revelado em 1982, que implicava a Máfia, o Banco do Vaticano e a Loja Maçônica P2. A ‘Operação Mãos Limpas”, coordenada pelo Procurador da República Antonio Di Pietro, levou ao fim da chamada Primeira República Italiana (1948 – 1994) e a profundas mudanças no quadro partidário, com o desaparecimento de vários partidos políticos. Muitos políticos e industriais cometeram suicídio quando os seus crimes foram descobertos, enquanto outros se tornaram foragidos, dentro e fora do país’1. É nessa operação que se inspira a nossa operação Lava Jato, por exemplo. Mas, meu desejo é falar de uma outra operação que devemos iniciar no âmbito da Igreja em Itapira. Deve se chamar ‘Operação Mãos Sujas’. A igreja para o fiel cumprimento de sua missão no mundo precisa sujar as suas mãos. Não há base bíblica, de maneira especial no Novo Testamento, para que a comunidade cristã se ausente do mundo, segregando-se como comunidade de puros, alienados, descomprometidos com os rumos da história e os acontecimentos do aqui e agora. A nossa vocação escatológica, isto é, a nossa destinação para os ‘Novos Céus e a Nova Terra’, firmemente prometidas pelas Sagradas Escrituras, de maneira alguma nos concede um salvo-conduto para essa vida, desobrigando-nos de lutar pela justiça, paz, ordem e desenvolvimento da sociedade em geral. O anabatismo, uma forma radical da Reforma Protestante, mas que sempre esteve presente sob várias modalidades no cristianismo, como os monges do deserto, as comunidades monásticas anacoretas, os cátaros e albigenses na idade média e os Quackers, Amishs e outros no pós-Reforma, se caracterizam por uma forma de vida comunitária isolada do mundo. Buscam o aperfeiçoamento moral e espiritual, renunciando aos seus deveres para com a sociedade, abstém-se da participação política e se negam a qualquer tipo de patriotismo. Enquanto se concentram na volta de Cristo e na Cidade Santa que há de descer do Céu, viram suas costas para a realidade dos outros homens. Essa mentalidade pode existir e persistir, menos radical, mas não menos letal para o Evangelho, também em nossas igrejas organizadas que são quase invisíveis, muitas vezes insípidas, inodoras e sem qualquer participação na construção da sociedade e no engajamento por um mundo mais justo e fraterno.  Igrejas assim, não querem sujar suas vestiduras alvas e tem medo de contaminar-se ou poluírem-se em contato com esse mundo caído e perverso. Todavia, a nossa purificação espiritual e moral, quando retirados do mundo pela pregação do Evangelho e a obra do Espírito Santo em nós, não foi para que a partir de então nos encastelássemos em nossos templos e ali, separados de tudo e de todos, vivêssemos como num universo paralelo, dissociado dos demais homens e mulheres com quem convivemos no dia a dia. Antes pelo contrário, a nossa separação e purificação foram realizadas, inclusive em proveito e a serviço do mundo e no mundo, para e dentro da sociedade dos homens. Precisamos entender que o banho regenerador pelo qual passamos exige agora que sujemos as mãos no resgate, na ajuda, no socorro dos homens e mulheres, sobretudo os mais desfavorecidos, os marginalizados, os esquecidos e alienados de toda sorte. A igreja e cada cristão estão ‘empoderados’ e ornamentados com dons espirituais para visitar, frequentar e servir naqueles contextos e naquelas condições onde as feridas são mais purulentas e causam maior mal-estar. Para que isso seja possível, a comunidade cristã precisa deixar-se sensibilizar e até ser ferida pelas dores que estão presentes no mundo. Sem empatia, sem sensibilidade, sem entrar na ferida e na dor do outro, não é possível criar ministérios verdadeiramente úteis e abençoadores e nem participar com poder, graça e eficácia da Missão de Deus no mundo, fazendo nós a nossa parte em missões. O paradigma é Jesus que de tão sensível e solidário à nossa miserável condição, assumiu as nossas dores e aflições, inclusive a insuportável alienação de seu Pai na cruz maldita. Jesus jamais se contaminou com o pecado, todavia, nunca teve medo de sujar as suas mãos para servir, resgatar, salvar e transformar vidas e vidas pecaminosas. Queiramos nós também sujar as nossas mãos tocando nas misérias da sociedade a fim de purifica-la com a graça e o serviço do Evangelho de Deus.

Rev. Luiz Fernando é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

1 https://pt.wikipedia.org/wiki/Opera%C3%A7%C3%A3o_M%C3%A3os_Limpas – acessado em 07 de fevereiro de 2018.

Fonte: Luiz Santos

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