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17/10/2017 | Luiz Santos: Os mártires da Reforma do Brasil

A poucos dias das comemorações aos quinhentos anos da Reforma Protestante, o Papa Francisco, tão badalado por suas posturas politicamente corretas, inclusive a de introduzir em uma audiência pública no ano passado uma estátua de Martin Luther na Sala Paulo VI no Vaticano, resolveu canonizar no último domingo, 15 de outubro, cerca de 30 novos santos. Padres, religiosas, homens, mulheres e crianças martirizados no Brasil em 1645 durante a invasão e perseguição holandesa calvinista no nordeste brasileiro. Os primeiros mártires brasileiros derramaram o seu sangue por mãos protestantes. De fato, um horrível pecado que mancha a história dos cristãos reformados, mas que não pode ser creditado simplesmente ao fato de serem protestantes. Existem outros elementos presentes a esse crime inominável e que diz muito mais respeito à política, economia e soberania nacional, do que propriamente a aspectos religiosos que seguramente também estavam em jogo. Mas, e quem são os primeiros mártires da América? Os primeiros a regarem o solo da ‘Terra Brasilis’ com o seu sangue por fidelidade à sua fé? Foram justamente os Calvinistas os primeiros a semear com o seu sangue o campo virgem do novo mundo. Um grupo de Calvinistas franceses foi enviado ao Brasil, numa expedição colonial chamada França Antártica, sob o comando de Nicolás Durand de Villegaignon. Esse grupo de pastores e leigos protestantes foi comissionado pessoalmente pelo grande reformador João Calvino. Esses cristãos calvinistas chegaram ao Brasil em 10 de março de 1557 e nesse mesmo dia cultuaram a Deus numa liturgia protestante e isso, pela primeira vez na história fora da Europa. Antes mesmo dos Estados Unidos da América, o Brasil fora abençoado pela graça de um culto genuinamente bíblico e calvinista. No dia 21 de março de 1557 também pela primeira vez na história e fora do continente europeu, a Ceia do Senhor foi ministrada em rito protestante em um domingo de Páscoa, fazendo assim memória agradecida e adorante dos eventos da cruz sob o céu tupiniquim.  Pressionado pelos padres Nóbrega e Anchieta e com interesses políticos inconfessados, Villegaignon traiu a confiança dos cristãos calvinistas a quem deveria proteger e depois de torturá-los obrigou-os a escrever a sua Confissão de Fé, conhecida historicamente como Confissão da Guanabara, redigida em apenas doze horas em 17 de janeiro de 1558. Esse primeiro documento protestante oficial do Brasil está entre os primeiros do gênero produzidos no mundo. Também foi a peça acusatória que serviu de base para a condenação de Jacques Le Balluer, Jean Du Bourdel, Mathieu Vernuil, Pierre Bourbon e André La Fon. Mesmo encarcerados esses santos calvinistas cantavam alegres ações de graças com os seus salmos huguenotes em bendição a Deus, o que só inflamava ainda mais a ira de Vllegaignon, apelidado por um dos pastores da época de o “Caim da América”. Esses pioneiros protestantes foram martirizados enforcados ou afogados nos muros da ilha em que ficavam aprisionados, hoje ironicamente uma propriedade da marinha brasileira denominada Ilha de Villegaignon, no Rio de Janeiro. Esta história foi preservada e publicada juntamente com a Confissão da Guanabara, por um dos pastores que conseguiu fugir e as deu a conhecer para os huguenotes franceses e deles para o mundo. Esses primeiros mártires protestantes do Brasil e das Américas, ignorados até mesmo pelos evangélicos brasileiros históricos, abriram as portas para a nossa fé com o seu martírio cruento. Somente no século 18 o sucesso das empreitadas protestantes pode ser verificado por aqui. Flechter, Kalley, Simonton, Vingren e Berg não sofreram martírio cruel, não foram fisicamente assassinados. Todavia, o martírio protestante continuou no Brasil por um bom tempo. Era o martírio político e jurídico no início. Depois, o martírio da estigmatização social e as muitas perseguições e injúrias sofridas em todo canto pelas primeiras gerações de crentes. Hoje, somos quase quarenta milhões de evangélicos brasileiros. Luteranos, Calvinistas, Presbiterianos, Pentecostais, Neopentecostais. Todos carecendo de reformas, avivamentos, despertamentos e purificação. Contudo, temos sentido falta dos mártires em nosso tempo. Estamos necessitando de uma nova geração de homens, mulheres, crianças, pastores e leigos que amem a Cristo e o seu Evangelho, a sua Igreja e sua missão a tal ponto de derramarem, consumirem as suas vidas, sem sacrificar no altar do sucesso e da aceitação social, a inegociável fidelidade à Palavra da Verdade, pela qual nossos irmãos Franceses tombaram por aqui há 459 anos.

Reverendo Luiz Fernando é Ministro da Palavra na Igreja Presbiteriana Central de Itapira

Fonte: Luiz Santos

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